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    Crónica da corrida em Évora: "A última foi igual ao resto"


    O último espectáculo, na categoria Corrida de Toiros, da Temporada em Portugal realizou-se na tarde de domingo em Évora e resultou praticamente no reflexo daquilo que foram os 9 meses desta época taurina, se não mesmo no que vêm sendo as últimas temporadas. 

    Mais do mesmo e mais dos cavaleiros consagrados.

    António Ribeiro Telles e Luís Rouxinol demonstraram uma vez mais que antiguidade é um posto, que jogam numa divisão muito à frente e difícil de ser alcançada para a grande maioria de cavaleiros que vem por aí abaixo na tabela...

    Já dizia D. Bernardo da Costa Mesquitella: “Há duas espécies de toureiros: os bons toureiros e os que toureiam bem”. Os primeiros “conhecem o sítio de todos os toiros”, os segundos “conhecem os toiros só em certos sítios”. Telles e Rouxinol fazem parte do primeiro grupo e isso em praça, faz toda a diferença.

    Sendo a última, a Arena d’Évora consentiu uma forte presença de público já em ambiente de despedida, com ¾ da lotação preenchida.

    Na arena, os seis toiros de Veiga Teixeira, ‘correctinhos’ mas díspares de apresentação, não impuseram dificuldades de maior mas também não foram animais fáceis, distraídos no geral, mansos, por vezes tardos e um ou outro com arrancadas bruscas, sendo mais colaborante o lidado em último lugar. 

    E começar por António Telles, é começar sempre bem e será quase repetir-me em tudo o que já fui dizendo das suas actuações ao longo desta temporada. Esta foi mais uma em que a regularidade, o entendimento do toiro e dos seus sítios, foram claro caminho para uma actuação digna e de triunfo. O seu toiro, com 510 kg, ligeiramente montado, distraído e de pouca transmissão, foi tardo de investida, perseguindo melhor nos remates do que a partir às reuniões. António andou discreto na ferragem comprida, para nos curtos e montando o Alcochete, elevar o tom da actuação com eficiente preparação e concretização das sortes ainda que o toiro não transmitisse nada no momento do ferro. No terceiro e quarto, houve mais colaboração por parte do oponente que veio cá acima receber o ferro, não sendo descurado o remate do seu ofício por parte do cavaleiro da Torrinha. Uma lide sóbria e de grande categoria. 

    De categoria é também a entrega de Luís Rouxinol em cada actuação. Em Évora teve pela frente um toiro com 560 kg, mais composto de apresentação, e ao qual cravou dois compridos de boa nota. Nos curtos, e com a Viajante, insistiu em dar vantagens a um toiro que esperava muito, o que fez sobressair as qualidades e o enorme coração da égua, muitas vezes com o toiro parado a pouco mais de um metro de distância. Foram de verdadeiro valor, e quando encurtou distâncias, o terceiro e quarto curto, que empolgaram as exigentes bancadas eborenses. Rematou com o palmito e o par de bandarilhas uma actuação de êxito.

    O cavaleiro Gilberto Filipe passou por Évora com correcção. Teve pela frente um toiro de 540 kg, avacado, pouca cara e força, com o qual iniciou de forma discreta, ganhando ao longo da lide maior segurança, o que se reflectiu numa actuação em crescendo. Depois de consentir um toque num primeiro curto, menos ajustado, manteve ligação com o oponente, destacando-se pelo quinto ferro e o palmito com que encerrou função.

    António Brito Paes careceu de toiro com mobilidade e investida, o que inviabilizou por vezes o ajuste das reuniões. Um toiro com 545 kg, bem apresentado, córnea aberta mas que foi reservado, pedindo por isso que lhe entrassem terrenos adentro. Limitou-se a deixar a ferragem da ordem sem grande destaque, com uma passagem discreta por Évora.

    Ao quinto toiro, virou-se a página para os cavaleiros praticantes. 

    Primeiro, um jovem de créditos firmados e depois, a encerrar, outro que ainda tem muito para limar mas que aponta a pormenores de que tem margem para crescer.

    Exigente como é, Luís Rouxinol Jr. não encerrou provavelmente da forma desejada, aquela que foi uma temporada de confirmação de que está no ponto para o passo seguinte, o da alternativa. Teve pela frente um toiro, com 530 kg, distraído, que ora perseguia a passo ora tinha arrancadas bruscas e a querer cortar caminho. Iniciou com um primeiro comprido traseiro, recompondo depois com dois de boa nota. Nos curtos, quis mostrar mais “Douro” que toiro, e ainda se exibiu nos ladeios ajustados, no qual o cavalo é craque. Foi impaciente na partida para os dois primeiros curtos, ao terceiro encontrou sítio e cravou com decisão. Repetiu com correção no quarto, para no quinto consentir ligeiro toque assim como nos ladeios com que recortou. Quis no seu entendimento, e critério, não ser merecedor da volta consentida pelo director de turno e aplaudida pelo conclave, tendo apenas agradecido do centro da arena. Um exemplo para outros, incluindo de alternativa, que não tendo noção do que fazem na arena, dão volta por tudo e mais alguma coisa. 

    O mais jovem e menos ‘placeado’ do sexteto, António Núncio, quis arriscar logo de início ao cravar o primeiro comprido em sorte gaiola. Contudo falhou na colocação do mesmo, um (des)feito por demais visto em toda a sua actuação. Teve pela frente um toiro com 550 kg, colaborante, sempre fixo na montada e a quem Núncio optou por dar vantagens, com cites de largo. O jovem cavaleiro demonstrou em Évora boas noções e intenções, partindo recto e à cara do toiro, com um modo clássico mas de arrimo. Falta apenas concretizar melhor as sortes. Ainda assim, foi bom o segundo e quarto ferro.

    Nas pegas, houve mais dureza e transmissão com os Amadores de Évora a empolgarem por várias vezes as bancadas.

    Dinis Caeiro efectivou à primeira uma boa pega, em que se fechou à córnea e com o grupo a ser eficaz na concretização. O segundo toiro, pegado por Afonso Mata, ensarilhou no primeiro intento, não reunindo o forcado com correcção mas consumou à segunda tentativa e sem problemas. Ricardo Sousa viu o seu toiro arrancar-se alegre ao cite, esperou-o, reuniu com decisão e teve braços para se aguentar sozinho até que o grupo consumasse a pega. João Madeira viu violência no impacto do seu primeiro intento, para depois ter sido enorme a aguentar os derrotes do segundo intento e com o grupo a tardar a efectivar. Acabou por consumar à terceira, novamente a suportar muito de braços mas onde também foi imprescindível o primeiro ajuda, José Maria Menéres, que teve também direito a volta. João Pedro Oliveira consumou uma pega rija ao segundo intento, depois de sofrer derrotes na primeira tentativa. E Martim Caeiro, também à segunda, a efectivar com decisão, depois de um primeiro intento em que não suportou a violência do toiro.

    Houve ainda tempo para volta do ganadero após a lide do quinto toiro, uma ‘moda’ também cada vez mais incrustada nas nossas praças, principalmente desde a ‘lei’ do lenço azul. 

    Recordar que esta corrida era ainda de cariz solidário para com a Associação de Dadores Benévolos de Sangue do distrito de Évora.

    E se novidades havia a esperar da última corrida de toiros do ano…pois, não foi desta. Tudo na mesma e para o ano há mais...




    Por: Patrícia Sardinha