Crónica do Festival na Granja: "Calhou num dia bom..."
"Calhou num dia bom..."
Sábado de Carnaval, coincidente
com as tradicionais Festas em Honra de S. Brás na aldeia da Granja, foi por
isso mesmo tarde para festejo taurino.
Um espectáculo que, infelizmente,
tem nos últimos anos vindo a penar com o gado que lhe arranjam, que nem sempre padece das melhores qualidades quer de apresentação quer de comportamento. E
quando não há toiro, não pode haver boa 'tourada', resultando o Festival num
ambiente de treino...de fraca qualidade. Mereciam mais seriedade os granjenses,
os aficionados, e porque não, os artistas!
Pouco público, 1/4 de casa se
tanto, muito frio e pouco para reter do visto na arena.
Abriu a tarde o toiro de António Silva, marcado com o algarismo
2, pouca carne mas em compensação, grande córnea, e que foi recebido para a
primeira lide a duo, protagonizada pelo sénior Francisco Núncio e pelo júnior,
Luís Rouxinol. Actuação agradável, de mais a menos, com alguns momentos bem
conseguidos pelos dois ginetes com a rês a corresponder e outros menos
acertados, com o toiro também a mudar de 'feitio' com o decorrer da lide e a
cortar terreno aos cavaleiros.
Mas a cortar terreno à séria
andou o segundo da tarde, da ganadaria José
Luís Vasconcellos Sousa d'Andrade (Sommer), também do ano 2012
mas escasso de apresentação e força. Custoso de se fixar e com sentido, dificultou
a vida ao cavaleiro Manuel Telles Bastos
que também não andou verdadeiramente encastado, nem mesmo quando montou a
calejada Rosa, resultando a lide sem música nem volta.
António d'Almeida também não teve sorte com o oponente, um Silva Herculano, ferrado com o dois, de
pouca força, córnea fechada e que foi uma rolha, reservado, sem classe e aos
arreões. Valeu-nos o esforço do jovem cavaleiro, com disposição e a ir acima do
oponente para deixar a ferragem da ordem com algum mérito.
Ao quarto toiro da tarde, outro 'sommer',
percebemos o quanto se levou o dia a peito, sábado de Carnaval, quando da porta
dos curros saiu um toiro magro, coxo, débil, sem qualquer apresentação... Farto
de brincar às entrudadas, o público pagante pôs a mão à boca e assobiou até que
o mandaram para trás. Alterou-se a ordem de saída, e Francisco Núncio acabou por lidar em quinto lugar o sobrero de Silva Herculano, pequeno, pouca cara,
tardo nas reuniões, sem se empregar mas com gatos
na barriga e viu-se isso no capote e na pega. Já durante a lide, pouco se
viu para além das intenções do cavaleiro, na maioria das vezes a saírem
goradas, e nem mesmo as montadas quiseram colaborar.
O mais desenrascado da tarde, e
também o que ainda assim teve melhor sorte com o que saiu dos curros, era
também o mais novo do cartel. Rouxinol
Jr. apresentou-se na Granja dando continuidade ao que mostrou em 2015.
Perante outro de 'sommer', escorridote, o único marcado com o 3, que teve alguma
patinha por vezes adiantando-se mas de pouca força, Luís Rouxinol Jr. impôs
mando e disposição. Uma actuação bem conseguida, a mais (única) completa da
tarde, principalmente nos curtos, montando o Amoroso, e onde demonstrou sentido de lide, mudando os terrenos ao oponente e
deixando bons ferros, dos quais destacamos o segundo curto. A começar a
temporada no bom caminho Rouxinol Jr..
Terminou o festejo como se
começou, com uma lide a duo a um toiro de 5 anos, mais composto de apresentação
quando comparado com os anteriores, também de Vasconcellos Sousa d'Andrade, a quem mal pudemos ver as
'qualidades', perante o pouco entrosamento entre os cavaleiros Manuel Telles Bastos e António d'Almeida.
Destaque para a assertividade de Telles Bastos, que se se tivesse apanhado
sozinho com o toiro, talvez tivesse disfrutado o que não disfrutou no que lhe
tocou a solo.
Nas pegas, abriram a tarde os Amadores de Évora, por intermédio de
Afonso Mata, que consumou à primeira sem problemas; José Passanha numa pega
rija também ao primeiro intento; e Carlos Silva depois de na primeira tentativa
ter sofrido forte derrote, consumou à segunda com o toiro a arrancar-se com
pata ao cite do forcado, que reuniu perfeitamente e resultou vistosa a pega.
Pelos Amadores de Monsaraz, pegou André Reis, que efectivou a pega ao
quarto intento com o toiro a meter a cara alta mas o forcado a aguentar e o
grupo bem a ajudar; José Campaniço ainda viu o seu ensarilhar no momento da
reunião mas fechou-se e consumou à primeira; e Carlos do Pome que depois de no
primeiro intento ter sofrido a violência dos derrotes, consumou à segunda com
uma grande pega.
Dirigiu a corrida o sr. Agostinho
Borges, assessorado pelo veterinário Matias Guilherme, num festejo que de
facto...calhou num dia bom, o do Carnaval e por acaso, até nem choveu!
Por: Patrícia Sardinha