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    Crónica Campo Pequeno: "Porta Grande ao Valor Nacional"


    A simplicidade, a humildade mas também a felicidade que cada elemento do Grupo de Forcados Amadores de Santarém carregava no momento em que, partindo do centro da arena, se dirigiu para cruzar a bendita Porta Grande da Praça de Toiros do Campo Pequeno, demonstrou bem a grandeza e a verdade do valor português e de como a Festa dos Toiros ainda resiste longe de embustes, números e vaidades a que cada vez mais somos sujeitos nas nossas praças.
    Ninguém os carregou em ombros, como a outros por aquela porta já se fez, nenhum dos que ontem se meteu na cara de um toiro se fez a voltas sem as merecer, nem tão pouco aproveitaram ‘boleia’ às cavalitas de cavaleiros, como muitas vezes vimos acontecer ao contrário. Foram pelo seu pé, calmos, felizes e justamente merecedores, sob uma ovação das mais fortes que o Campo Pequeno já sentiu.

    Os Amadores de Santarém não saíram pela Porta Grande só por uma pega (aquela feita ao quinto da noite e que ainda agora deve pesar ao toiro os braços daquele forcado), nem pelo brilho das seis pegas consumadas… saíram por isso mas principalmente por tudo o que têm feito ao longo de 100 anos e pela grandeza com que têm sempre enaltecido a Figura do Forcado Amador!

    A noite foi sem dúvida de festa. Esgotada, diz-se! É verdade, estava um rejoneador no cartel – o que é sempre motivo para encher praça – mas quem a esgotou, não tenho dúvidas que foram os de Santarém! E por eles valeu a noite.

    Lisboa prestou assim homenagem ao centenário deste Grupo aproveitando também a condecoração da Presidência da República pelas mãos do Chanceler das Ordens de Mérito, o Professor Doutor Luís Valente de Oliveira. Acto que Diogo Sepúlveda, o cabo, agradeceu com um discurso emotivo, de onde nos fica a frase de que estes cem anos do Grupo de Santarém, “São 100 anos a defender os valores de Portugal!”. Também ao intervalo, imortalizou-se a efeméride com o descerrar de uma placa nos corredores da praça.

    E no que toca a pegas, a noite foi toda uma demonstração da eficácia, da experiência, do valor e da arte que Santarém possui a pegar toiros.

    Diogo Sepúlveda, o cabo, deu o exemplo na primeira pega da noite e fê-lo com a maior das perfeições técnicas, consumando uma pega correctíssima desde o momento que citou o toiro, em que recuou, reunindo com decisão, vendo pronta a ajuda de Nelson Ramalho, sendo depois todo o grupo eficaz a ajudar.

    João Grave sofreu a dureza que os toiros revelaram nas pegas, e no primeiro intento sofreu violento derrote, com o toiro a meter a cara alta, levantando-o e despejando-o no chão. À segunda tentativa quis fazer-lhe o mesmo, tirá-lo da cara, mas foi exímio Manuel Quintela na sua função de primeiro ajuda, e a pega acabou consumada.

    Luís Sepúlveda efectuou um cite bonito, reuniu à barbela, fechado com segurança, e novamente a sobressair a eficácia do primeiro ajuda na consumação da pega que se revelou de boa nota.

    Lourenço Ribeiro garantiu a consumação da sua pega também ao primeiro intento, fazendo uma viagem na cara do toiro até tábuas de forma rija.

    António Góis levantou o Campo Pequeno! Citou o toiro com calma, o mais pesado da noite, com 663 kg de carne… Ao reunir nunca se chegou a fechar de pernas mas teve uma força de braços do outro mundo, suportando um primeiro derrote violentíssimo, com o Grupo a não conseguir chegar-lhe, e pensou-se “Vai sair da cara do toiro!”, mas não saiu! Sofre novo derrote fortíssimo, e ele ‘preso’ ao toiro pelos braços, e “É agora que não vai aguentar”, mas aguentou. Não satisfeito o toiro volta a tentar livrar-se do forcado com um terceiro derrote “Pronto…três é demais!”, mas António Góis foi ainda mais forte que toda a violência do toiro e suportou tudo! Após o terceiro derrote, Nelson Ramalho não consentiu mais nenhum e fechou-se ao forcado da cara, com o Grupo então também a conseguir consumar uma pega das melhores e mais rijas que já se viram nos últimos tempos. Olé!! Três voltas à arena lhe foram exigidas e concedidas!! 

    João Brito encerrou esta noite de brilho dos Amadores de Santarém com uma pega em que citou com calma e aguentou a investida do toiro que aos poucos foi diminuindo a distância ao forcado. A reunião não foi no sítio mas o Grupo foi eficaz a recompor.

    Os toiros da ganadaria de David Ribeiro Telles, um curro de encaste ‘murube’, facto visível quer pela apresentação quer pelo comportamento geral dos toiros que saíram à praça, enquadrou-se no pretendido ao cartel. Tiveram apresentação digna, animais gordos (pesos entre os 568-663 kg), compridos, de pouca cara, badanudos, em tipo do encaste. Em comportamento, foram no geral mansos, variaram de animais sem transmissão, nobres e cómodos a um bom toiro, o único com sinais de bravo, com raça e até a arrancar-se sozinho ao cite do cavaleiro, que foi o último da noite.

    Pablo Hermoso repetia presença em Lisboa e abriu praça (poucas vezes em Portugal lhe teremos visto este gesto) frente ao primeiro da noite, o ‘Gorila’, com 568kg, que Pablo logo ‘dobrou’ com a brega em curto. A actuação de Pablo foi todo um registo do expectável do rejoneio, entre ladeios e recortes para delícia dos presentes, perante um toiro que quando perseguia o fazia a passo, sem grande transmissão, sendo nobre q.b.. Cumpriu com a ferragem sem no entanto lograr grande brilho, sendo nos adornos da brega e remates que mais facilmente chegava às bancadas. No segundo do seu lote, animal com 658 kg, demonstrou mais intenções de ir à cara do oponente, animal sem maldade, reservadote, onde mais uma vez o rejoneador acabou por compensar (e aproveitar) a falta de transmissão do oponente para se recriar nos recortes e ladeios, deixar três palmitos andando sempre à volta do toiro que mal se mexeu e ainda rematar com um par de bandarilhas.

    João Moura Jr. ‘arrebitou’ de há uma temporada para cá e provou novamente em Lisboa que tem mais que argumentos para fazer oposição a qualquer ‘figura’. Frente ao primeiro toiro do seu lote, com 582 kg, mais sério de cara, que até andava bem na brega mas depois sem perseguir após o ferro, Moura Jr. começou por se querer evidenciar nos quiebros, acabando por duas vezes consentir passagens em falso ao mandar o toiro para fora da sorte e quando se fez mais à cara do animal ainda levou um toque. Melhorou o registo, e a execução da ferragem, destacando-se o terceiro e o quarto curto de muito boa nota. Uma lide que chegou facilmente ao público. No quinto da noite, um bisco, feio de córnea, com 663 kg, foi cumpridor na brega, mexendo o toiro de terrenos. O primeiro curto foi de alto a baixo e fez tocar a música. Foi actuação para também ele desfrutar de recortes e ladeios, ainda que com o toiro nem sempre a corresponder, cumprindo com a ferragem de forma mais ou menos ortodoxa mas com impacto nas reuniões. Noite grande para Moura Jr. no Campo Pequeno, com o público a exigir-lhe ferros, rematando o jovem toureiro actuação com dois ferros violinos.

    João Telles Jr. foi protagonista de um toureio mais clássico nesta noite em Lisboa. Primeiro, andou irregular nos compridos, com um toiro de 626 kg. Insistiu quase sempre nos cites de praça a praça, em viagens rectas até ao toiro, com alguma velocidade, deixando a ferragem da ordem, uns com mais ajuste que outros, destacando-se o quarto ferro. Acabou por descurar um pouco o remate das sortes, perante um toiro que de qualquer forma, não tendo maldade, também não perseguia. Frente ao último da noite, aqui sim um toiro de outras condições, animal com raça e a transmitir, e com 630 kg, Telles Jr. voltou a pôr em prática um toureio de classe e verdade. Bisou na concessão de distâncias, citando de praça a praça, aqui com o toiro por vezes a corresponder com raça e a arrancar-se ao cavaleiro. Uma actuação correcta, com empenho nas sortes, e a cravagem a resultar certeira, destacando-se o 2º, 3º e 4º ferro. Rematou actuação com um palmito.

    Dirigiu a corrida de forma correcta e conivente com o enquadramento da corrida na comemoração do centenário, o sr. Manuel Gama, assessorado pela veterinária Francisca Claudino.

    E nesta noite de festa, o destaque maior vai sem dúvida para os Forcados de Santarém, que viram assim o seu percurso de 100 anos ser festejado à altura na principal praça de toiros do país, que ontem deixou de ser por uma noite a dita “Catedral do Toureio a Cavalo” para ser a “Catedral do Forcado Amador”. E porque um Grupo de Forcados só faz sentido existir quando funciona no seu conjunto, como uma só unidade, passagem pela Porta Grande aos Amadores de Santarém e que venham mais 100 anos!