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    O TIRA-TEIMAS : 51º Concurso de Ganadarias, Arena d’Évora - 16 de Maio, 2010


    EVORA ( Texto y fotos de Patrícia Sardinha, enviada especial de NATURALES, Correio da Tauromaquia Ibérica)
    Quando eu era pequenina, havia meia dúzia de corridas que eram sagradas lá em casa e às quais só faltávamos por motivos de força maior. Duas delas aconteciam em Évora, naquela velhinha praça guardada pelo Sr. Sebastião que logo de manhã na sua bicicleta para lá se dirigia para tratar das galinhas que dormiam nos curros. As corridas a que eu ia a Évora assistir, eram o Concurso de Ganadarias e a Corrida de S. Pedro, duas das com maior peso na temporada alentejana, daquelas em que até nem importava pagar um bocadinho mais no bilhete porque realmente em termos artísticos valiam isso e eram corridas de tradição, onde se reunia a verdadeira afición alentejana e não só. O Sr. Sebastião infelizmente, já não está neste mundo para ver que a velhinha praça deu lugar a um moderno espaço coberto e que já não é necessário um guardador nem da praça nem das galinhas, porque estas também já lá não estão.
    Este ano, decorreu a 51ª edição do concurso que distingue de entre seis toiros, o mais bravo e o de melhor apresentação. Se antigamente existia verdadeira competição entre ganadeiros para levarem a melhor com o seu toiro, hoje em dia, a por demais cordialidade de quem elege os vencedores, leva a alguma diminuição no mérito que carregam os troféus. Talvez porque seja também uma tarefa difícil, principalmente para se encontrar o merecedor do prémio bravura, pois toiros bravos cada vez se vêem menos e foram essas dificuldades que na temporada passada conduziram a algum protesto por parte do público sobre os eleitos. Este ano alterou-se o júri, que foi constituído pelos próprios ganadeiros, mas manteve-se a polémica das decisões.
    O primeiro toiro em concurso, da mítica ganadaria Miura, não foi o anunciado na propaganda, nem tão pouco ostentava na sua apresentação a fama que precede esta ‘terrorífica’ ganadaria, sendo até de ar ‘avacado’. Pesou 560 kg e serviu de prenúncio a toda a restante irmandade espanhola, sendo ainda assim dos três toiros espanhóis o que menos poderia dificultar a lide. António Telles é que complicou, ressentindo-se da pouca investida e força do toiro. O cavaleiro não se entendeu com ele, demonstrando alguma irregularidade na cravagem, também devido ao toiro falhar a pata sempre no momento da reunião o que resultou na ferragem traseira ou descaída.
    O toiro de Palha, de bonita capa, com 560 kg, distinguiu-se pela bravura. Tocou em sorte a João Salgueiro que na ferragem comprida andou sem grandes preparações, não conseguindo fixar a rês. Nos curtos, andou mais acertado mas não aproveitou todas as potencialidades que o toiro tinha, exibindo-se e chegando facilmente às bancadas com as piruetas com que remata as sortes mas sofrendo ainda um toque na montada.
    O Victorino Martín, com 532 kg, era o toiro tipo da ganadaria, que dificultou a vida ao cavaleiro Vítor Ribeiro sendo bastante enquerenciado, distraído, obrigando o jovem cavaleiro a entrar em terrenos de tábuas para conseguir deixar a ferragem. Conseguiu puxar pelo toiro no fim da actuação, que foi de menos a mais, com o cavaleiro a aguentar a curta distância e a deixar o toiro arrancar para depois cravar.
    O toiro de Murteira Grave, com 550 kg, de córnea bem aberta, não defraudou em termos de bravura, no entanto António Telles voltou a não estar inspirado nos ferros compridos. Nos curtos e com a rês bastante colaboradora, António deixou regular a ferragem sem no entanto a actuação romper.
    O Passanha prometia pelo anúncio de 680 kg. Não que muito peso seja sinónimo de bravura, mas que este toiro impunha respeito, impunha. E Salgueiro sentiu-o logo assim que o toiro saiu à praça com muita pata. Bem nos compridos, nos curtos o cavaleiro sentiu mais dificuldades, primeiro a consentir um toque, depois porque ao apostar nos quiebros, dirigindo o toiro para fora da sorte, ficava sem toiro na reunião e acabava por efectuar passagens em falso. Ainda assim, foi com os quiebros e principalmente ao dar primazia à arrancada do toiro no último ferro, que chegou facilmente às bancadas terminando a sua actuação em glória.
    O que encerrou a tarde, um toiro de Dolores Aguirre com 634 kg, manso, distraído, sempre a refugiar-se em tábuas, veio confirmar a falta de sorte com o lote de Vítor Ribeiro. No entanto, e em minha opinião, serviu para confirmar o valor deste cavaleiro, que mesmo tendo-lhe tocado o pior lote, andou esforçado, com muito labor, sem desistir facilmente e sem se desculpar no toiro como outros fariam. Esteve sempre por cima dos seus oponentes.
    Para os forcados a tarde também não foi fácil. Pelo grupo de Montemor pegaram João Tavares à primeira a aguentar sozinho a velocidade do toiro; João Tavares à quarta tentativa com as ajudas carregadíssimas; e João Braga à terceira também já com as ajudas carregadas e a dobrar o cabo do grupo, José Maria Cortes que saiu inanimado da praça depois de um primeiro intento em que o piton lhe bateu forte no peito. Pelo grupo da terra, os forcados de Évora, pegaram o cabo Bernardo Patinhas à segunda tentativa com valoroso mérito para o primeiro ajuda; Ricardo Casasnovas à segunda sem problemas, depois de um primeiro intento em que o toiro se arrancou sem o deixar respirar; e António Alfacinha à primeira a aguentar forte o avião, efectuando um pegão que fechou a tarde e lhe valeu duas voltas.
    No final, decidiu o júri (os senhores ganadeiros), atribuir justamente o prémio Bravura ao toiro Palha e o prémio Apresentação, bastante discutível e sob protesto do público, ao toiro de Victorino Martin. Simpatia dos colegas? Cordialidade de Portugal para com Espanha (desde que o concurso passou a ser Luso-Espanhol, os portugueses têm ganho sempre os prémios)? Vá-se lá saber os critérios porque assim se decidiu.
    Dirigiu a corrida o Sr. Nuno Nery, assessorado pelo veterinário Matias Guilherme, numa tarde em que a praça registou mais de meia casa. 
    Pela negativa destaco o facto de se fazer muito barulho nas bancadas, já começando inclusive a escassear o silêncio durante as pegas naquela que se diz a Catedral do Forcado; o abre e fecha da cobertura da praça que despoletava protesto no sector 3, o mais afectado pelo sol (se o preço dos bilhetes é igual em todos os sectores, a comodidade deveria ser a mesma e uma corrida às 17h implica sol em certas bancadas); e o entra e sai de gente dos lugares durante as lides.
    Mais uma vez ficou provado com este concurso, que os toiros portugueses levam a melhor sobre os espanhóis, quer em bravura, quer em apresentação, ainda que o jurado assim não o tenha entendido também. E maior peso tem esta observação numa temporada em que as praças portuguesas são invadidas com reses de refugo vindas de Espanha, dando ‘show’ degradante um pouco por todo o país. Para aqueles que ainda tivessem dúvidas em relação ao valor e mérito do cavaleiro Vítor Ribeiro também as teimas foram tiradas, pois é nos toiros difíceis que se diferenciam os grandes toureiros dos outros.