Header Ads

Feito com Visme

  • Últimas

    Primeira da nova época : MOURÃO – CAMPO DE EXPERIMENTAÇÃO

    MOURAO - ALENTEJO (Crónica e fotos de PATRICIA SARDINHA, enviada especial de NATURALES, Correio da Tauromaquia Ibérica) .-
    Quando eu era mais nova, dizia-se muito em tom de brincadeira, que a aldeia da Luz era a “Aldeia da Ciência”, pela ameaça que sofria de vir a ser sacrificada em nome do progresso (o que veio a acontecer no ano 2002 com a Barragem do Alqueva), mas se a Luz é a aldeia da ciência, Mourão deveria ser a vila da experimentação, pois o facto de em Mourão acontecer a abertura da temporada em Portugal, faz com que muitos toureiros vejam do nosso festival o campo de treino para a restante temporada, não se entregando totalmente nas suas actuações.
    Ao contrário do ano passado, em que a chuva impediu que pudéssemos desfrutar do espectáculo por completo, apesar de no preço do bilhete essa redução não se ter feito sentir, este ano o sol brilhou e a praça Dr. Libânio Esquível encheu por completo, para gáudio dos organizadores.
    Estavam anunciadas reses de Murteira Grave, Dias Coutinho e Santa Maria, no entanto apenas saíram à arena toiros das duas primeiras ganadarias. Os de Murteira Grave, bem apresentados, foram mais ásperos, mas também menos voluntariosos acusando inclusive alguma mansidão. Já os Dias Coutinho, mais pequenotes, saíram bem, investindo sempre e permitindo a quem os calhou, que nos pudessem entreter.
    Luís Rouxinol foi o cavaleiro que abriu praça tendo pela frente um toiro de Dias Coutinho que lhe veio a calhar mesmo a propósito de ele experimentar a nova montada. A rês bastante colaboradora permitiu que o cavaleiro de Pegões desenvolvesse uma lide ao seu estilo, não se coibindo de ainda sofrer um toque depois de cravar o segundo comprido. De resto deixou bem a cravagem, terminando com um ferro violino, seguido de um de palmo e claro o tradicional par.
    Pela ordem de lide, seguia-se Gilberto Filipe, que teve que esperar por outra altura, pois o toiro que lhe saiu, da ganadaria Murteira Grave, vinha sem corno esquerdo, provavelmente partido ainda nos curros e inclusive desembolado do direito, o que me faz crer que este era o toiro destinado à primeira lide a pé. Resolvidas que estavam as desordens de curros, e depois de entretanto ter actuado Marcelo Medes e Nuno Velásquez, saiu finalmente à praça mais um Dias Coutinho, que trazia no costado o algarismo 4 e que apesar de feiote, foi mais uma rês colaboradora, que investiu sempre com o cavaleiro do Montijo a aproveitá-lo, toureando com qualidade e cravando com acerto, dando sinais de que esta temporada pode ser mais requisitado.
    Marcelo Mendes teve uma tarde sem inspiração. Tocou-lhe um toiro Grave que desde inicio não entendeu, não o conseguiu fixar e independentemente das qualidades da rês, o jovem cavaleiro não primou pelo bom desempenho, sofrendo demasiados toques, não preparando as sortes, cravando de qualquer maneira, mesmo sem o toiro enquadrado resultando os ferros descaídos. Ainda tentou brilhar com dois violinos, mas sem mérito.
    Para as pegas esteve muito bem o Grupo de S. Manços, primeiro Nuno Pitéu que se aguentou muito bem à primeira tentativa; depois Manuel Vieira à segunda tentativa; e Rui Pelado numa pega à barbela também ao primeiro intento.
    Nuno Velásquez poderia vir cheio de ganas, mas ficaram todas perdidas com o abrir da porta dos sustos. O Grave que lhe tocou, foi talvez o mais áspero e mais desencastado da tarde, sempre a fugir para tábuas. Nuno evidenciou a classe que lhe é característica de capote e na muleta mais não fez do que alguns passes isolados por ambas as mãos. Faltou-lhe matéria-prima, mas também lhe faltou aquecer um bocadinho mais. Todos os toiros, bons ou maus, têm que ser lidados, cabe é ao toureiro adequar o tipo de faena às características do animal.
    E se houve quem nem se esforçasse para dar um passe de jeito se quer, foi o espanhol Jairo Miguel, que desde o início andou desconfiado do Murteira Grave que lhe tocou, que diga-se de passagem vinha por demais afeitado (provavelmente a pedido do matador espanhol; e depois ainda dizem que os nossos matadores é que não têm valor). E como tal o que tenho para vos contar do Jairo Miguel é o mesmo que ele teve de disposição para tourear em Mourão: Nada!
    Por último, João Augusto Moura, pelo segundo ano consecutivo em Mourão e a quem também tocou em sorte um toiro de Dias Coutinho, o mais colaborador da tarde, que permitiu ao novilheiro, apesar de alguma ausência de temple e classe, ser o único que conseguiu desenvolver uma faena aceitável e com passes ligados, entusiasmando com os circulares invertidos e os desplantes.
    Destaco ainda a prova dos novos bandarilheiros praticantes, Duarte Alegrete e João Mourão, e desconhecendo eu os critérios de avaliação e acreditando no difícil que deve ser ir à cara dos toiros para lhes cravar as bandarilhas, não posso deixar de notar que ainda lhes falta mais prática, mas que compreendo que dê jeito começar a temporada 2010 com mais uns homens de prata à disposição.
    Da tarde fria e solarenga fica então pouco para contar. Dirigiu a corrida o Sr. António dos Santos, assessorado pelo Dr. João Infante. Esperemos que para o ano haja mais entrega e disposição no festival de dia 1 de Fevereiro. Porque lá porque muitos andamos com fome de toiros e porque Mourão fica esquecido na margem esquerda do Guadiana, agora mais Alqueva que Guadiana, não nos contentamos com tão pouco (inclusive com cartéis fracos) e merecemos o mesmo respeito que qualquer outra praça, só que às vezes os artistas e organizadores esquecem-se um pouco disso.