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    Las entrevistas de Patrícia Sardinha : hoy, las confesiones -sin desperdicio- de Rui Bento


    Segundo o Evangelho: “Nenhum profeta é bem recebido na sua terra”, e Rui Bento Vasquez tem tido a prova disso, muito em parte devido a alguma imprensa taurina portuguesa que insiste em criticar o trabalho do ex-matador à frente da gerência do Campo Pequeno. A verdade é que Rui Bento tem mostrado ser a pessoa certa na posição certa e o sucesso do que tem sido a temporada lisboeta de ano para ano, fala por si. O Naturales entrevistou Rui Bento quando falta pouco mais de um mês para inicio da temporada do Campo Pequeno:

    Rui Bento Vasquez : “A recente institucionalização da Secção de Tauromaquia no âmbito do Conselho Nacional de Cultura é de grande importância qualitativa pois representa o único gesto positivo de um governante, em muitos anos”

    NATURALES: Rui Bento depois da temporada passada ter sido ‘gloriosa’, pelo menos no que toca a números e em presença de público, quais as expectativas que tem para esta temporada na Praça de Toiros do Campo Pequeno?
    RUI BENTO VASQUEZ: Expectativa e propósito: Manter e se possível trazer mais público ao Campo Pequeno. Sabemos que melhorar uma taxa de ocupação de 83% para 85%, por exemplo, é com certeza mais difícil do que passar de uma taxa de ocupação de 60% para 70%. Sabemos que o país atravessa uma grande crise económica, financeira e social, mas também sabemos que, numa situação com estes contornos, o público privilegiará a qualidade. Logo, promover cartéis de qualidade é outro dos propósitos da empresa do Campo Pequeno.

    NATURALES: Quais serão as grandes linhas de orientação do Campo Pequeno para 2010?
    RUI BENTO VASQUEZ: Será uma linha de continuidade em relação ao que temos vindo a oferecer desde 2006: Contratar as maiores figuras mundiais do momento, sejam do toureio a cavalo sejam do toureio a pé, promover e apoiar o desenvolvimento de novos valores e cativar novos aficionados. Neste aspecto concreto, gostaria de recordar que no passado dia 24 de Janeiro decorreu no Campo Pequeno, com enorme êxito, o “III Encontro Internacional de Escolas Taurinas”, iniciativa que organizámos em conjunto com a Tertúlia “O Piriquita”, a Fundação “João Alberto de Faria” e o apoio da Câmara Municipal de Arruda dos Vinhos, encontro que teve a participação de alunos das principais escolas de toureio de Portugal, Espanha, França e México.
    Queremos também melhorar o envolvimento dos aficionados com a praça de toiros, através da abertura da loja de “merchandising” e da promoção de visitas guiadas à praça de toiros.

    NATURALES: Como caracteriza o actual momento da festa de toiros, tanto a nível nacional como internacional?
    RUI BENTO VASQUEZ: Do meu ponto de vista, vejo o actual momento da festa de toiros, tanto a nível nacional como internacional, com alguma preocupação. Há preocupações que são comuns do ponto de vista internacional como do ponto de vista nacional e outras que são específicas da realidade portuguesa. Do ponto de vista internacional destacaria a ofensiva anti-taurina mundial, com expressão na Colômbia, na Venezuela e em Espanha, designadamente na Catalunha. Na Venezuela e na Colômbia os “anti” já foram travados pelos próprios Parlamentos Nacionais, o que se pode considerar uma vitória do bom senso e da liberdade de escolha. Do ponto de vista nacional, além da ofensiva anti-taurina, que também regista expressão em Portugal, existe a agravante de a resposta organizada por parte dos taurinos estar apenas a dar os primeiros passos. Salientaria também a crise do toureio a pé em Portugal. É necessário que surja um novilheiro com impacto para estimular de novo o gosto (que está latente) no aficionado pelo toureio a pé. A somar a esta visão pouco optimista, temos ainda a crise económica mundial que continua a ser preocupante e que levou à redução de espectáculos em França e, sobretudo em Espanha, na temporada de 2009, situação que se vai prolongar pela temporada de 2010.

    NATURALES: Tendo em conta que cada vez mais, surgem movimentos de contestação por parte dos anti-taurinos, não lhe parece que por vezes nós, os taurinos, somos muito passivos em atitudes que contrariem essa tendência?
    RUI BENTO VASQUEZ: Infelizmente os taurinos nacionais são desorganizados e, em consequência, estão desorganizados. Há ameaças sérias que pendem sobre o espectáculo tauromáquico e que estão devidamente identificadas: Pressão dos grupos anti-taurinos, hostilidade dos políticos face à tauromaquia, dificuldade de acesso aos meios de comunicação generalistas, para citar apenas três factores… e o que têm feito os taurinos portugueses para combater esta situação? Pouco, umas “fogachadas” bem-intencionadas que se resumiram ao “Encontro do Aficionado”, às 5ªs feiras no Campo Pequeno. Foram um êxito que se saúda, mas são insuficientes em termos de estratégia de defesa da festa. Penso que os sectores profissionais envolvidos na festa de toiros continuam alegremente a “assobiar para o lado” em matéria de união de esforços para preservarem aquilo de que vivem.
    Enquanto Gestor Taurino do Campo Pequeno tenho acompanhado todas as movimentações dos grupos anti-taurinos nos últimos anos e constato uma total ineficácia da resposta dos taurinos face a uma ameaça que é real. Os grupos anti-taurinos estão estruturados, sabem o que querem. Sob a capa da defesa dos animais não os vemos tomar uma iniciativa que seja em prol do bem-estar daqueles que dizem defender. Buscam apenas no anti-taurinismo uma forma de protagonismo e de visibilidade nos media. São tão fundamentalistas como as correntes religiosas mais fundamentalistas que existem.
    Falta em Portugal uma Plataforma de defesa da festa devidamente estruturada e capaz de não só dar resposta aos ataques de que a tauromaquia é alvo, como mesmo de ter uma atitude pró-activa em defesa de um espectáculo, de uma cultura, de uma forma de arte…
    Contudo, há dois factos recentes que podem, de alguma forma, contribuir para um virar de página, em relação ao que acabo de referir: A eleição dos novos Corpos Sociais da Associação Nacional de Empresários Taurinos que deverão trazer uma nova dinâmica ao associativismo empresarial tauromáquico e a recente institucionalização da Secção de Tauromaquia no âmbito do Conselho Nacional de Cultura. Este último facto é de grande importância qualitativa pois representa o único gesto positivo de um governante, em muitos anos, em prol da festa de toiros. Tiro o meu chapéu a senhora Ministra da Cultura, Dr.ª Gabriela Canavilhas.

    NATURALES: É voz corrente que o nível de exigência do público tem vindo a baixar acentuadamente nas últimas temporadas. Concorda e preocupa-o essa situação?
    RUI BENTO VASQUEZ: Penso que todos devemos cultivar nas nossas vidas critérios de exigência. Só com a exigência para com nós próprios podemos crescer pessoal e profissionalmente. O público actual é um público que pertence a uma geração de renovação, que co-existe com um público com uma formação, uma opinião, um conhecimento mais estruturado. Digamos que há, na actualidade, uma co-existência entre um público exigente, de aficionados antigos, conhecedores profundos do toureio e da história do toureio, com uma geração mais hedonista, que por enquanto vem aos toiros para se divertir, vem em busca de emoções fortes. Com o tempo essa geração vai saber distinguir o “trigo do joio” e adquirirá o conhecimento necessário para poder ser exigente e, como tal, crescerem como aficionados, deixarem de ser “o grande público”, para passarem a integrar essa massa mais restrita dos “iniciados” que em tauromaquia se designam por aficionados.

    NATURALES: Apesar dessa carência de exigência por parte do público ser geral, o Campo Pequeno tem sido talvez a empresa mais atacada por parte de alguma imprensa, por terem casa cheia mas de gente menos entendida. A quem compete afinal “melhorar” a qualidade do público, empresas, artistas, imprensa? Ou considera que o que interessa é ter casa cheia, sejam entendidos ou não?
    RUI BENTO VASQUEZ: Já tenho afirmado noutras ocasiões que há sempre quem conviva mal com o sucesso dos outros e, na temporada passada, sobretudo, tentaram atingir o Campo Pequeno com o estigma da inveja pelo facto de termos várias casas cheias e duas esgotadas, dizendo que ao Campo Pequeno vem um público menos entendido. Todo o público que vem ao Campo Pequeno é bem-vindo. Há lugar para todos: para os mais aficionados e para os menos entendidos. Cada “curioso” que hoje venha aos toiros é um potencial aficionado amanhã.
    Tenho o maior respeito pela crítica taurina pois é através dela que passa para o exterior aquilo que decorre na arena e nas bancadas. Os críticos são os verdadeiros formadores da opinião pública pelo que lhes cabe um papel fundamental na formação dos novos aficionados. Penso que a atitude mais positiva que a informação e a crítica taurina podem ter, será em informar com isenção e criticar construtivamente. O que entendo eu por criticar construtivamente? Não é, de forma nenhuma, dizer que um artista está bem quando está mal. Nada disso! É justificar porquê o artista está bem, ou mal. Só assim o público pode entender as diferenças. Por outro lado, sabendo que a crítica é exigente mas justa, o próprio artista se torna mais exigente consigo próprio. E caímos de novo na já referida cultura de exigência como forma de crescimento pessoal e profissional, é bom para todos!

    NATURALES: O ano passado, para além das corridas de abono a empresa decidiu montar uma corrida extra para terminar a temporada. Não lhe parece que o Campo Pequeno, como principal praça do país, deveria ter um papel mais social e o que fica a faltar na temporada lisboeta é um festival de Beneficência?
    RUI BENTO VASQUEZ: Concordo que é bonito encerrar a temporada com a realização de um festival de beneficência. Fizemo-lo em 2007 e fá-lo-emos sempre e quando houver condições para tal.

    NATURALES: Este defeso a empresa do Campo Pequeno resolveu apostar noutras praças. Primeiro a de Arruda dos Vinhos, numa parceria com a Tertúlia “O Piriquita”, depois a ‘candidatura’ falhada à Moita e agora uma parceria com a Toirolindo na praça de Coruche. As parcerias resultaram, a Moita não. Sendo a empresa do Campo Pequeno, aquela que à primeira vista teria todo o potencial para ganhar o concurso, o que terá falhado em seu entender?
    RUI BENTO VASQUEZ: Temos consciência do valor da nossa proposta. A Sociedade Moitense de Tauromaquia não entendeu assim. A sua Assembleia-geral decidiu a favor de outro candidato. Não nos cabe comentar essa decisão que foi proferida por um órgão que é soberano e que teve tempo para analisar detalhadamente cada uma das propostas concorrentes.

    NATURALES: Também este defeso, o Campo Pequeno decidiu apostar noutro tipo de iniciativas: O III Encontro de Escolas Taurinas intercalado com conferências, que decorreu entre Lisboa e Arruda dos Vinhos e que resultou num êxito e agora um Ciclo de Conferências que promete elucidar os aficionados sobre o Toiro Bravo, a Corrida à Portuguesa e o Toureio a Pé. Considera estes projectos importantes e como uma forma de manter os aficionados ligados ao Campo Pequeno, enquanto local taurino, mesmo fora de temporada?
    RUI BENTO VASQUEZ: Consideramos fundamental. Há que prolongar a ligação do público ao Campo Pequeno para além do dia da corrida. E essa ligação será tanto mais efectiva e mais forte quanto mais o Campo Pequeno tiver para oferecer ao público, desde os espectáculos de outro tipo que aqui decorrem ao longo de todo o ano, como a dinamização de outras actividades taurinas, como sejam os colóquios, as visitas guiadas e o futuro museu, cujas obras dentro em breve vão arrancar.

    NATURALES: Deixemos agora um pouco de parte o Rui Bento empresário e falemos com o Rui Bento toureiro … é difícil ver grandes Figuras na arena do Campo Pequeno e não sentir vontade de estar ali também de novo de luces?
    RUI BENTO VASQUEZ: Tudo tem a sua época…eu já tive a minha época como toureiro. O meu lugar agora não é na arena vestido de “luces”, é no escritório, é no burladero da empresa, é no campo. Mas, como uma vez toureiro, toureiro sempre, ao olhar para a arena sinto uma enorme gratidão para com o toiro e para com o público pela grande satisfação pessoal e profissional que me deram na minha fase de toureiro e me dão agora, como Gestor Taurino, quando vejo uma praça cheia e uma massa humana a vibrar com o que se passa na arena.

    NATURALES: O Campo Pequeno tem sido das poucas praças portuguesas com algum peso no panorama taurino nacional que mais tem apostado no toureio a pé. No entanto, digamos que os nossos matadores lusos acabam por ser ainda muito esquecidos nos vossos cartéis. O Rui melhor do que ninguém saberá o que é ser matador de toiros e a dificuldade em se conseguir oportunidades. Mas, em seu entender, essa ausência de matadores portugueses nas principais praças portuguesas é porque eles não têm valor ou simplesmente, porque é melhor não arriscar em toureiros portugueses e trazer um ou outro matador espanhol e realizar muitas corridas a cavalo que garantam melhor entrada de público?
    RUI BENTO VASQUEZ: Os Matadores de Toiros portugueses têm valor. Ninguém o nega! Parece-me, é que não conseguem, ou os seus representantes, fazer chegar ao público a noção do seu valor. Por outro lado, o esforço de promover corridas mistas não pode ser só exigido ao Campo Pequeno e mais uma ou duas empresas, tem de ser um esforço conjunto, de todos os empresários.

    NATURALES: Como lhe parece que se poderia ultrapassar essa crise do toureio a pé em Portugal?
    RUI BENTO VASQUEZ: Embora algumas pessoas com responsabilidade no meio taurino não queiram entender essa minha preocupação, é verdade que reabilitar o toureio a pé constituiu uma das minhas apostas pessoais.
    A crise ultrapassa-se se aparecerem dois ou três jovens com carisma que sejam capazes de mexer com os aficionados. Isso não é impossível. Nos anos 60 e 70 do século passado tivemos um naipe de matadores de toiros que competiam em pé de igualdade com as grandes figuras internacionais. Essa competição trouxe público às bancadas e já não falo, obviamente, dos tempos áureos da competição entre Diamantino Vizeu e Manuel dos Santos, a chamada “Idade de Ouro” do toureio a pé em Portugal. Falo das competições de José Júlio com Paco Camino, deste com Amadeu dos Anjos, de José Trincheira com Juan Garcia “Mondeño”, de Armando Soares com Manuel Benitez “El Cordobés”, de Falcão, Chibanga e Mário Coelho com “Paquirri”, Dâmaso Gonzalez. Nos anos oitenta e noventa, Vitor Mendes afirmou-se como primeira figura a nível mundial, “Pedrito de Portugal” arrastou multidões e eu próprio também tive oportunidade de competir com figuras importantes da minha geração.
    As escolas de toureio têm desenvolvido um papel importante para não deixar morrer a modalidade entre nós, na medida em que levaram já uma série de jovens à apresentação com picadores e alguns deles chegaram já à alternativa. Mas com os condicionalismos legais ao exercício da profissão existentes em Portugal não é em Portugal que esses jovens podem consolidar a sua aprendizagem. Há que fazê-lo em Espanha ou em França, arriscar e triunfar.
    Por outro lado, há que divulgar o toureio a pé nos órgãos de comunicação social. Em 2009 conseguimos que uma corrida mista (a de apresentação de Miguel Ángel Perera) fosse transmitida pela RTP. Portugal pode assim apreciar um toureio de enorme dimensão e recordar como é bonito, difícil e sedutora a Arte de Montes. Há ainda um outro ponto que gostaria de lembrar que é o da necessidade e de haver ganadarias com apetência para a lide a pé que, de momento em Portugal, não abundam.

    NATURALES: O Rui Bento acumula este ano também a função de apoderado do matador de toiros espanhol António Ferrera. O que o levou a aceitar essa relação de apoderamento?
    RUI BENTO VASQUEZ: O facto de ser um desafio aliciante e a possibilidade de representar um nome importante da actual geração de matadores de toiros espanhóis.

    NATURALES: Tem noção que o estatuto e o poder que ganhou enquanto gerente taurino da Praça de Toiros do Campo Pequeno o transformaram num alvo a ‘abater’? Ou seja, que há muita gente a querer o seu lugar.
    RUI BENTO VASQUEZ: Tenho essa noção e custa-me um bocado constatar a mesquinhez e o pouco nível de certas pessoas, mas enfim, o mundo é assim e a realidade dualista, mesquinhez-grandeza, bem-mal, e tantos mais dualismos quantos queira.

    NATURALES: O Rui Bento tem também sido atacado por alguma imprensa que o acusam de reagir mal às críticas. Concorda com isso?
    RUI BENTO VASQUEZ: Só reajo mal às críticas injustas e algumas mal intencionadas, nada mais.

    NATURALES: Outro tema quente que o tem acompanhado na última temporada enquanto gerente taurino é o caso “Mouras e Ventura”. Independentemente do resultado das negociações, caso realmente existam, com esses toureiros e das suas presenças ou não esta temporada no Campo Pequeno, estas histórias são um pouco exemplo do problema que é montar cartéis com Figuras que fazem exigências ou trata-se já de alguma ‘birra’ entre empresa e os respectivos toureiros?
    RUI BENTO VASQUEZ: Não são “birras”. Moura disse o que disse (está publicado e não foi desmentido) sobre a sua presença e a da sua família no Campo Pequeno. A situação é essa e não se alterou. Quanto a Diego Ventura, é nosso grande desejo que seja presença nos cartéis de abono de Lisboa.

    NATURALES: Para terminar, o que é mais fácil? Enfrentar um toiro na arena ou a pressão da imprensa taurina, dos artistas, dos ganadeiros, da própria SRUCP, SA, enquanto empresário taurino?
    RUI BENTO VASQUEZ: São dois desafios distintos mas, cada um à sua maneira, são desafios aliciantes. São a razão da minha vida profissional! Umas e outras pressões têm os seus “quês” e custam mais ou menos a aguentar, conforme a preparação que temos para as enfrentar. Com o tempo ganha-se “endurance” na arena e no escritório.