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    Patrícia Sardinha analiza la temporada 2009 en Portugal (I)

    Reflexões sobre o que já passou

    Sempre que a temporada chega ao fim, é da praxe que se façam análises e se tirem conclusões sobre o que nela aconteceu. Seguindo o preceito, também eu vou de algum modo, expressar a minha avaliação desta temporada que ainda agora findou. E começo pelo elemento principal da Festa, o toiro bravo.
    As ganadarias este ano mantiveram assento naquilo que, há uns anos para cá, se tem vindo a afirmar em crescendo nas praças portuguesas, reses desencastadas, sem força, mansas, verdadeiras esmolas a toureiros que gostam do triunfo fácil, que lhes permita exibirem-se em tudo menos no toureio. Salvo raras excepções de curros que saíram duros e bravos, a selecção dos ganadeiros na busca do toiro que encante a certos toureiros, conduziu a uma Festa com menos emoção. E como se não bastasse, os ganadeiros portugueses viram esta temporada o seu mercado limitado, com a ‘ocupação’ dos toiros espanhóis em algumas praças, restando assim de futuro duas opções aos ganadeiros lusos, ou se esmeram na triagem que fazem dos seus animais para que tenham qualidade em praça, ou esperam pela ajuda divina de uma Padeira de Aljubarrota.

    O estado do toureio, quer a cavalo quer a pé, vem um pouco por arrasto da condição ganadeira. No toureio a cavalo, há os que se aproveitam da bondade dos toiros para terem actuações por vezes quase dignas de um circo, ‘espetando’ ferros tal e qual um jogo de setas. Outros há, que não sabendo bem qual o seu estilo, inventam, o que geralmente resulta desastroso. E ainda há aqueles, que fiéis à sua doutrina, tentam sobreviver numa Festa onde cada vez mais se prefere um embrulho bonito, do que um conteúdo com qualidade. Os cartéis, para variar, foram quase sempre dominados pelos veteranos. Mas mal assim não fosse, dada a notória falta de garra por parte de alguns cavaleiros de ainda recente alternativa. Com mais arrimo andaram alguns praticantes e amadores, pena que muitas vezes essa vontade depois se acomode com a subida de escalão.

    O toureio a pé é outro que carrega a cruz dos poucos atributos das reses, que não investem, não humilham e que portanto dificultam o toureio. No entanto, a verdade é que também não temos toureiros que estejam dispostos a tourear, e mais uma temporada, isso foi notório. De qualquer modo, vontade só não chega. Quando não se nasce com o dom dentro, pouco adianta carregar o título de matador de toiros, porque o toureio não se adquire, nasce-se com ele, desenvolve-se e arrisca-se por ele. E lamento dizer, que para mim, actualmente são poucos ou nenhuns, os que de corpo e alma se entregam ao toureio. Depois como se não bastasse, em Portugal, são poucas as praças que apostam no toureio a pé e talvez haja alguma razão nisso. O facto de muitas delas serem geridas por ex-forcados é capaz de ter o seu peso, mas também porque alguns empresários pensam que o toureio a pé não rende e nisto dos toiros, para a maioria, o que conta é o lucro. Ainda assim há alguns pontos positivos a reter esta temporada no que toca ao toureio a pé. Um ou outro novilheiro que realmente tem valor (se bem que no passado, outros houve que tinham esse valor e que agora já matadores, lhes falta o apoio para o manterem), a presença de Figuras espanholas para nos deixar um ‘perfume’ do bom toureio, algumas ‘casas cheias’ para ver toureio a pé, mas pouco mais. Há pois que rever estratégias para que o toureio a pé em Portugal resista!

    Em relação às pegas e aos moços de forcados, esta temporada foi mais uma em que a história das bandarilhas voltou a dar que falar com mais alguns desfechos negativos. Esperemos que esteja para breve uma solução. Ainda assim, em muitas corridas nesta temporada, foram as pegas o factor mais empolgante de todo o espectáculo, tal a falta de verdade e inspiração por parte de alguns cavaleiros. Os grupos de forcados mais antigos mantiveram a liderança e a fama que os precede, no entanto há grupos mais recentes que já não deixam créditos por mãos alheias. Este ano, também não se verificou o ‘boom’ de grupos de forcados a surgir por tudo o que é terra, o que também pode ser considerado positivo, pois nem sempre quantidade é sinónimo de qualidade.

    O público em certas praças registou maior presença, no entanto a qualidade, em termos de conhecimento taurino, continua a decrescer. Mas isso mais não é, que fruto de um ciclo vicioso que advém do que na arena acontece e do que sobre isso se escreve. Hoje aplaude-se muito mais o folclore que adorna as actuações, e para o qual muito contribuem as boas qualidades equinas, do que um ferro bem preparado, cravado e rematado. Muitos houve, que criticaram o facto das praças encherem com aficionados pouco conhecedores, o que é uma verdade. Mas não deveria ser também motivo de contentamento verificar que se estão a conquistar novos públicos? Para não falar que não podemos, por exemplo, seleccionar quem entra numa praça de toiros. Se um novo aficionado, menos entendido, surgir nas bancadas, a solução não é bani-lo, mas ensiná-lo. Já Jesus dizia “não lhes dês o peixe, ensinai-os a pescar!”. Tem aqui a imprensa um papel fundamental, no entanto esta é muitas vezes a primeira a desvirtuar, com falsas crónicas, que contam tudo menos a verdade, com subserviências a amigos, sejam toureiros, empresários, ganadeiros, etc., e com um conhecimento taurino muito limitado, já para não falar dos erros ortográficos. Haja pois humildade para se arriscar a aprender mais e melhor sobre tauromaquia.

    E tal como é ‘tradição’ num final de temporada, também o meu artigo de opinião culmina com os prémios, esse tributo aos melhores de cada categoria e que incompreensivelmente abrangem quase sempre os mesmos. É uma espécie de vira o disco e toca o mesmo e por isso mesmo acabam por perder credibilidade. Há até certos troféus, que numa só categoria, onde deveriam considerar o melhor da temporada, abrangem dois ou três vencedores, o que me leva a crer que o jurado quer mesmo é distinguir os amigos e para não parecer mal a um, atribui o prémio logo a dois ou três. O que eu lamento que não haja é o Troféu Paciência, para quem tem que comportar tanto despropósito.
    O que me vale mesmo é que daqui a dois meses e meio, a temporada 2010 começa a desbravar caminho a partir do 1 de Fevereiro. E pode ser que seja melhor. Pode ser…