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    La tan leída crónica de Lisboa, como siempre, en la autoria de Patrícia Sardinha...

    Um Concurso de Dúvidas

    Campo Pequeno, 20 de Agosto, 2009

    Numa noite em que as atenções estavam concentradas no Concurso de Pegas irromperam dúvidas a muitos dos presentes na corrida de toiros da passada quinta-feira no Campo Pequeno, ao vencer a competição Michael Lopes um forcado do grupo de Turlock (Califórnia) cuja concretização de pega aconteceu à terceira tentativa.

    Contrariando a tendência cronológica da maioria das crónicas enceto a minha pela prestação dos três grupos de forcados em praça, os Amadores de São Manços, os de Turlock e os de Cuba, pois sendo o restante cartel uma mistura de cavaleiros com mais ou menos rodagem, todos ainda jovens, também no que tocou aos rapazes da jaqueta de ramagens se procurou dar oportunidade a grupos mais recentes ou de menor traquejo, estando a principal motivação num concurso que premiaria a melhor pega.

    No entanto não foi fácil a noite para os forcados, não só porque alguns deles acusaram a pouca experiência de pegar toiros mas também porque quem ‘orienta’ a pega revela às vezes pouco conhecimento, colocando-se os toiros sempre no mesmo sitio, sem se ter em conta o comportamento da rês durante as lides, as suas crenças, a sua forma de investir, quais os terrenos onde mais se defendeu ou até para onde melhor investiu. E foi por isso frequente ver um forcado ser derrotado três e mais vezes.

    Pelo grupo de São Manços abriu a noite o forcado Nuno Leão que conseguiu concretizar a única pega da noite à primeira tentativa aguentando bem o rompante do animal; já Pedro Fonseca do mesmo grupo só consumaria a pega à terceira tentativa com a ajuda carregada e que o recompôs na cara do toiro.

    De Califórnia a Lisboa, veio o grupo de Forcados Amadores de Turlock, com Michael Lopes a ir à cara do segundo toiro da noite, tendo efectuado duas tentativas de pouca perfeição na execução, mas a brilhar depois na terceira em que a ajuda carregada foi pouca para amparar os derrotes do toiro, ficando o forcado da cara a aguentar sozinho. No final e segundo o júri, elementos do Real Clube Tauromáquico Português, foi atribuído a esta pega o troféu da melhor pega da noite (entregue por João Franco, ex-glória do grupo de Santarém), decisão contestada pelo público e que levantou a muito boa gente a dúvida “pode uma pega não consumada à primeira tentativa ganhar?!”, mas a verdade é que pode, pois o que está em causa é a melhor pega (tendo em conta o critério do júri) independentemente do número de tentativas; também pelo grupo de Turlock pegou Donald Mota ao segundo intento numa pega sem problemas.

    De nada valeu ao grupo de Cuba fazer-se acompanhar por muitos dos seus conterrâneos pois a verdura de um grupo ainda recente foi um facto naquela noite. Depois de três tentativas de Luís Calado que não se aguentou com um toiro que derrotava muito, e de uma tentativa de Célio Santos (ex-Forcado dos Amadores da Moita) que o foi dobrar, não se conseguiram exibir com sucesso numa cernelha, esgotando o tempo limite para consumar a pega e decidindo o director de corridas que fosse o toiro devolvido aos currais sem ser pegado. Decisão que caiu mal aos elementos do grupo e aos seus seguidores com alguns forcados a impedir que se abrissem as portas dos curros, e outros já na arena numa derradeira tentativa de se pegar a rês. São estes pormenores que distinguem os grupos entre si. Tivessem forcados e ditos aficionados conhecimento do que diz o regulamento taurino no que toca aos tempos de execução de uma pega (ver artigo referente no final da critica) talvez não reagissem daquela maneira. Isto de pegar toiros não é só conseguir aguentar-se na córnea de um toiro, há regras para cumprir e autoridade a respeitar. A última pega da noite, efectuada pelo cabo do grupo, José Horta, foi consumada ao segundo intento com mais mérito pelos fortes derrotes que aguentou.

    Mas se a arte de pegar toiros suscitou dúvidas ou desapontamentos, não menos suscitou a ‘arte’ com que alguns cavaleiros nos brindaram.

    Filipe Gonçalves que confirmava no Campo Pequeno a sua alternativa, teve a ‘irmã de caridade’ que todos os cavaleiros desejariam ter numa oportunidade no Campo Pequeno, um bonito toiro com 501 kg, o melhor da noite, de investida franca, no entanto Gonçalves revelou um toureio pouco pensado, muito célere, assente em quiebros bem marcados granjeando das arrancadas espontâneas do toiro, mas que resultaram em ferros de colocação irregular. Apesar disso o público vibrou com a espectacularidade dos quiebros, mas a partir do momento em que o público se levanta para aplaudir de pé um ferro falhado, creio que está tudo dito.

    Também Manuel Caetano certificava naquela noite a alternativa. Esperou o oponente à porta gaiola mas também este cavaleiro pecou pelo excesso de velocidade e pela irregularidade na colocação da ferragem frente a um toiro com 570 kg, mais reservado, mas que ainda apertou o cavaleiro contra as tábuas.

    Ana Batista teve pela frente um toiro mais complicado, com 570 kg a quem a cavaleira empregou uma actuação mais sóbria e clássica como é seu apanágio, no entanto não se absolveu de alguns toques na montada e a actuação não rompeu pela pouca transmissão da rês.

    A Manuel Telles Bastos tocou o pior da noite, um toiro com 558 kg que foi esperado à porta gaiola e que cedo se revelou enquerenciado, descaindo para tábuas, com o cavaleiro a ir aos terrenos do toiro para conseguir deixar a ferragem. Uma lide valorosa e de algum mérito pelo sentido com que deu a volta ao toiro.

    Marcos Tenório teve uma actuação de menos a mais. Começou por estar fatal na colocação dos primeiros dois ferros compridos ao toiro que lhe tocou em sorte com 490 kg, depois remediados. Mas o jovem cavaleiro não se deixou influenciar pela má sorte e subiu de tom nos curtos com uma actuação mais pensada e de melhor resultado.

    Tomás Pinto o único cavaleiro praticante, evidenciou um toureio asseado frente ao último toiro da noite, um bonito animal que pesou 590 kg (apesar de aparentar ter mais), e o cavaleiro que apesar de irregular na colocação dos compridos, emendou nos curtos com uma actuação que agradou nas bancadas.

    Os toiros de Assunção Coimbra de aprazível apresentação, tiveram desigual desempenho, de restrita bravura sendo mais complicados para os forcados.

    Dirigiu correctamente mas com dificuldades o Sr. António José Martins assessorado pelo veterinário Matias Guilherme, numa noite em que contra todas as expectativas o público marcou forte presença preenchendo ¾ de casa. Sinal de que mês de Agosto, cartel mais ligeiro, e época de crise não são motivos para que se deixe de ir aos toiros.

    Artigo 44º : Da lide e das pegas

    2 - As pegas de caras ou de cernelha nao podem exceder cinco minutos e tres tentativas, sendo dados avisos pelo director de corrida ao fim dos dois ou dos quatro minutos.

    PATRICIA SARDINHA, subdirectora de NATURALES