Header Ads

Feito com Visme

  • Últimas

    JOAO ARANHA : "O espectáculo hoje em dia está sincopado"

    Da entrevista com Joao Aranha (85 anos, de Goa trouxe memórias de guerra – as marcas de ter sido preso, embora fosse um comandante da Polícia do Estado da Índia. Conta tudo no livro ‘Enquanto se Esperam as Naus do Reino...’, edições Esfera do Caos. Mas a vida sempre alegra quem vive dos amores, do futebol, da caça e das lides dos toiros...), publicada no Correio da Manhá, traemos aquí, agora, alguns parágrafos correspondentes á Festa dos Toiros...
    E nas touradas, participava?
    Em Vila Franca sim. Eu andava sempre nas feiras de touros a cavalos. E nas campinagens, porque eu tinha cavalos.
    Foi cavaleiro tauromáquico?
    Não, mas eu andava lá nas campinagens. E nas largadas.
    O que mudou na tradição tauromáquica desde essa altura?
    Mudou por muitas razões. Naquela fase em que havia bons toureiros a pé, a coisa internacionalizou-se um pouco. Depois desapareceram as grandes figuras: Manuel dos Santos, Diamantino Viseu, Armando Soares, José Júlio. E dos que vão aparecendo agora poucos se conseguem realizar. O meio é muito difícil. Quem não for para Espanha agarrar-se a uma empresa forte fica para trás.
    E em Portugal não há nenhuma?
    Para lançar toureiros a pé não há nenhuma. Mas na parte de cavaleiros e forcados houve uma grande evolução.
    Por que é que hoje há menos pessoas a ir às touradas?
    Antigamente, quem toureava eram os duques, os marqueses e os condes. Por isso, as cortesias à portuguesa têm todo aquele cerimonial que hoje afasta muita gente dos toiros. São tempos mortos. E espectáculos com tempos mortos no séc. XXI não interessam. Os meus filhos não vão. Mas, em Espanha, aparece o Carlos IV – que era dos Bourbons franceses, – e como não gostava de touradas, proibiu os nobres de tourear. A corte deixou de tourear, mas o povo tinha o vício. Mas o povo não tinha os cavalos nem criados, começou a tourear a pé. Cá não houve disso. O período áureo do toureio foram os reinados do D. Afonso VI, D. Pedro II, D. João V e D. José.
    Manifestou-se contra o fim dos ‘touros de morte’?
    Eu não entendo a festa de toiros sem a morte do toiro. Aquilo é como uma religião. Eu vou aos toiros da mesma maneira que vou à missa. É um ritual. Só assim é que se justifica que no séc. XXI continue a haver touradas.
    Acabou o espectáculo? É isso?
    O espectáculo hoje em dia está sincopado. A razão da morte do toiro, ele é o sacrificado, vem dos tempos míticos. O toiro é o símbolo da fertilidade. O sangue do toiro é que nos dá a felicidade porque nos rega as searas. É o símbolo da virilidade porque reproduz as raças. Isso tudo está dentro das pessoas que sentem, como eu, a tourada como um ritual semi-religioso.
    Mas é contra as touradas à portuguesa?
    Não, não sou. Sei que hoje em dia o papel dos forcados tem mantido a festa.