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    Montijo: Se triunfar é fácil, tourear é difícil


    Os verbos tourear e triunfar conjugam muitas vezes de mão dadas mas de forma errada. Pois muitos triunfam sem tourear, que cravar ferros, digo-o sempre, é outra coisa, e outros tantos toureiam e não triunfam, pois o entendimento do toureio para a grande maioria, é cada vez mais disperso e confuso.

    Para o cavaleiro Gilberto Filipe, o binómio tourear-triunfar, resolve-se de outra forma: em 20 anos como cavaleiro de alternativa as oportunidades para tourear têm sido escassas, difícil, portanto. Em contrapartida, quase sempre o ginete natural de Alcochete, mas com antecedentes em Abiul, deixa boas memórias das suas actuações, sendo-lhe por isso fácil triunfar.

    No passado domingo, no Montijo, tudo se conjugou para o triunfo de Gilberto Filipe: a festa em seu torno, o seu público, um bom toiro, a sua determinação e os votos do júri, claro.

    No entanto, houve muito mais a reter desta corrida de toiros, que só ao ‘segundo intento’ se realizou por decisão de S. Pedro que a inviabilizou de se concretizar na noite de sexta-feira, passando a vespertina.

    A corrida tinha, entre vários aliciantes, o facto de reunir pais e filhos, consagrados e jovens valores, aos quais se juntou Gilberto Filipe na comemoração das duas décadas enquanto toureiro profissional, bem como os dois Grupos de Forcados da terra, e seis toiros de diferentes ganadarias. Todos eles na disputa dos respectivos prémios. Uma corrida à qual o público correspondeu com cerca de ¾ de casa bem medidos.

    João Moura abriu a tarde frente a um toiro de Cunhal Patrício que colaborou sem dificultar. O cavaleiro de Monforte cumpriu de forma muito assertiva, pese embora manter a limitação de não bregar os toiros, sendo na arena uma constante a presença dos seus peões de brega.

    A António Telles tocou o toiro de Canas Vigouroux, de excelente apresentação mas que transmitiu pouco, sem perseguir após os ferros. António Telles deixou a ferragem da ordem de forma cumpridora. Citou quase sempre de largo, para encurtar distâncias a um toiro de pouca entrega.

    Luís Rouxinol foi, na minha opinião, o mais toureiro dos sete actuantes esta tarde. Se a actuação foi perfeita? Não foi, ou aqui teria de vingar o prémio de melhor lide, mas falhou um ou dois ferros, fruto da reserva do toiro no momento da reunião. Fora isso, Rouxinol, que se viu emocionado pelo motivo que sabemos, viu-se também muito enraçado, contrariando as querenças da rês de António Silva que veio de mais a menos. Luís Rouxinol toureou, lidou, bregou, cravou com decisão e rematou as sortes. E muitas vezes, são as dificuldades dos oponentes, que distinguem os toureiros dos ‘toureadores’. Rouxinol não triunfou (no sentido de ter levado o prémio) mas toureou…e bem!

    O homenageado da tarde, como já referi, foi justo merecedor do prémio em disputa. Teve a actuação mais regular, a mais completa e que mais chegou às bancadas nessa tarde. Muito também contribuiu para isso a nobreza do toiro de Murteira Grave, que teve mobilidade e não impôs barreiras ao cavaleiro de Alcochete. Gilberto Filipe foi eficiente na brega, nas reuniões, cravando certeiro e não descurando o remate das sortes, que infelizmente tanto se vê por aí. No final, deu ainda ar de sua graça ao cravar um ferro com o cavalo sem cabeçada, para deleite de um público que esteve com ele desde o início da corrida.

    Miguel Moura sorteou um toiro de Sommer d’Andrade ao qual cravou o primeiro comprido em sorte gaiola. O toiro nem sempre foi pronto e claro de investida mas o jovem cavaleiro de Monforte soube sobrepor-se às dificuldades e deixou a ferragem da ordem com solvência.

    Luís Rouxinol Jr. viu o seu toiro de Manuel Veiga sair desinteressado mas felizmente a rês mudou de comportamento após o primeiro comprido, transmitindo com raça. Rouxinol Jr., também ele embalado pela emoção, teve passagem destacada e feliz pela praça da sua terra. Deu importância à ferragem comprida, a qual deixou de boa nota, e foi sempre correcto nas abordagens para os curtos que deixou de feição. Ressalve-se que escutou música apos o primeiro curto. Houve ainda espaço para se aventurar na cravagem de par de bandarilhas, ao estilo de seu pai.

    Outro dos destacados da tarde foi António Telles filho que teve pela frente um toiro de São Martinho, que transmitiu, revelando boas condições para o toureio. António Telles filho andou sempre ligado à rês, bregando e toureando em curto, para cravar os ferros com decisão. Também ele teve honras de música após o primeiro curto de boa nota. Rematou com dois grandes palmitos.

    Nas pegas nem sempre houve facilidades.

    Pelo Grupo de Forcados da Tertúlia Tauromáquica do Montijo pegou, Jorge Malagão, bem à segunda tentativa depois de um primeiro intento em que rês não meteu bem a cara; Armando Costa sem problemas consumiu à primeira; João Paulo levou com um píton no peito ao tentar concretizar a sua pega, foi dobrado por Paulo Carvalheira que consumou com decisão. 

    Pelos Amadores do Montijo, pegou Élio Lopes à segunda tentativa, depois de no primeiro intento ter sofrido fortes derrotes, com o primeiro ajuda a ser importante para consumar; José Pedro Suissas à primeira com uma pega que foi vibrante pela forma como o forcado da cara aguentou sozinho o toiro, tardando o grupo a efectivar, e inclusive havendo intervenção de um cavaleiro a rabejar; e Filipe Santiago à terceira, a sofrer fortes derrotes nas tentativas anteriores.

    Houve ainda uma sétima pega, de que foi cara o forcado Nuno Tavares (TT Montijo) coadjuvado também por elementos dos Amadores, e que se efectivou sem problemas ao primeiro intento.  

    No final, Gilberto Filipe (melhor lide), José Pedro Suissas (Amadores do Montijo), o toiro de Canas Vigouroux (apresentação) e o toiro de Murteira Grave (bravura), foram merecedores pelos jurados dos prémios em disputa. 

    Dirigiu a corrida com critério, Tiago Tavares, assessorado pelo Dr. Jorge Moreira da Silva, numa tarde que se iniciou com um minuto de silêncio por Alfredo Vicente “Rouxinol” e Manuel Fernandas (antigo jogador do Sporting natural de Sarilhos Pequenos).

    Patrícia Sardinha