Campo Pequeno: Casa cheia em noite de enaltecimento ao Forcado Amador
Inaugurou-se, finalmente, a Temporada Tauromáquica da Praça de Toiros do Campo Pequeno, na noite da passada quinta-feira, com o primeiro de (apenas) quatro festejos que se realizarão este ano em Lisboa.
A fome de toiros na capital ficou
bem patente pelo registo de uma enchente de público, que terá roçado a casa
esgotada, composta entre aficionados costumeiros nas nossas praças de toiros,
bastante público novato e alguns (par não dizer, muitos) dos que fazem romaria
a cada intervalo ao bar da praça, uma moda que ganhou fama no Campo Pequeno. Não
faltou, portanto, ambiente numa noite em que foram os Forcados a figura maior deste
acontecimento.
Se o duelo entre dois dos grandes
Grupos de Forcados Amadores nacionais, Santarém e Montemor, já era por si só um
atractivo, a verdade é que ambos os Grupos foram autores dos verdadeiros
momentos de emoção que aconteceram a 4 de Julho na arena do Campo Pequeno. Acrescenta-se
ainda o facto de nessa noite, se terem homenageado dois figurões das jaquetas de
ramagens, o senhor Nuno Megre e senhor João Cortes, antigos elementos dos
respectivos Grupos em praça nesse festejo.
E comecemos por aí, pela grandeza
que foi a noite dos Amadores de Santarém, a atravessarem um bom momento, com três
grandes pegas ao primeiro intento.
Foi João Faro quem deu o mote
frente ao primeiro toiro da noite, citando de largo, garantindo que quando a
reunião se deu, os demais elementos efectivassem sem problemas. Francisco Cabaço
ficou na cabeça de todos os presentes pela emoção e valentia da sua pega. Foi calmo
no cite, sem pressas, e quando resolveu ir acima do toiro, instigando-o a
investir, fechou-se com uma lapa e nunca mais o largou. Esteve enorme! Os
outros elementos ainda tentaram fechar-se para o ajudar mas o toiro levou tudo
pela frente, e deu meia volta ao ruedo só com Francisco Cabaço na sua córnea,
até que novamente o Grupo a ele se juntou, e mesmo assim o toiro continuou a avançar
demonstrado a sua raça, até que se deu por vencido, com a raça dos de Santarém.
Fechou a noite outra grande pega, por obra de Joaquim Grave. Uma pega em tudo
perfeita, com o toiro a tentar sacudir forcado e ajudas, que consumaram com sucesso.
Também os Amadores de Montemor
tiveram passagem importante por Lisboa.
António Cortes Pena Monteiro e
João Santos quiseram honrar uma pega que sempre teve peso na história do seu
Grupo, e que hoje em dia muitas vezes só se usa de recurso, a cernelha. A
intenção foi boa e lá deu o seu fruto mas viu-se dificultada pelo toiro que não
se encabrestava com o jogo de cabrestos, o que dificultou e fez morosa, a
concretização desta sorte. Francisco Borges sacou dos galões e da fama que o
precede de enorme forcado, para concretizar uma boa pega à primeira, com o
grupo a coadjuvar de forma eficaz. José Maria Pena Monteiro encerrou a noite, também
ele com uma pega de mérito ao segundo intento, já que no primeiro, pareceu
desequilibrar-se na cara do toiro e não se concretizou uma boa reunião.
No final, haveria prémio de
Melhor Grupo e Melhor Pega, atribuído aos Amadores de Santarém e ao seu elemento
Francisco Cabaço, respectivamente.
No que ao toureio a cavalo diz
respeito, houve para variados gostos: o toureio trazido de casa, e por isso ‘lides-fotocópia’
de outras tantas já vistas, o toureio com verdade, o toureio popularucho e o
toureio mais clássico. No entanto, nenhuma das actuações foi devidamente superior,
porque infelizmente, nem sempre o barulho das ovações das bancadas é conivente
com a qualidade do toureio. Basta, por exemplo, pensarmos que muitas vezes, um
qualquer ‘malabarismo’ de um cavalo, é muito mais aplaudido do que a cravagem
de um bom ferro. Mas cada um com os seus gostos…
João Moura Jr teve ‘Azahar’ com o
primeiro do seu lote, que não obstante o nome que tinha, ainda levava o 13 no
lombo. E efectivamente, a coisa não lhe correu nada de feição. Não se entendeu
com o oponente, deu distâncias quando o toiro pedia um toureio mais em curto, consentiu
passagens em falso, toques e ainda foi colhido contra as tábuas, felizmente sem
consequências. Já no que foi quarto da ordem, um toiro nobre, sempre fixo na
montada, Moura Jr. pôde protagonizar o seu toureio costumeiro, de largo, rematando
a lide com o Hostil e as famosas ‘mourinas’, que galvanizaram as bancadas.
Marcos Bastinhas foi a Lisboa
disposto para o triunfo e começou por esperar o segundo toiro da noite à porta
dos sustos, para depois o levar em boa brega. Teve cuidado nos compridos, e
boas intenções nos curtos, com ferros de mérito. O toiro tinha arrancadas, foi brusco,
às vezes quase que se emparelhava com o cavalo, sem se fixar e raspou imenso,
mas o cavaleiro soube entende-lo e estar por cima. Mas terminou com outro
registo, para gáudio de um público ávido de tourada. No que foi quinto do
festejo, Marcos vestiu novamente o papel de um toureio mais de adornos e efusividade,
culminando a lide com o par de bandarilhas.
António Telles filho teve uma
primeira actuação de menos a mais, com um toiro reservado, que perseguiu melhor
pela frente que por trás, sendo nos curtos que a lide subiu de som. O jovem
cavaleiro deu ares de um toureio mais clássico, mantendo o toiro ligado na
montada, sendo eficiente na brega e cravando bons ferros com decisão. Bom o
palmito com que encerrou função. Frente ao último da noite, pese embora voltar
a andar disposto nem sempre foi tão assertivo no ajuste das reuniões e a lide pecou
por algum excesso de velocidade.
O curro de Murteira Grave veio de
Galeana com virtudes diferentes das que se viram no ano passado em Lisboa. Toiros
que em apresentação não saíram tão imponentes nem pesados como outrora Lisboa
tem visto, e que em comportamento impuseram algumas dificuldades, exigindo
cabeça aos toureiros. Toiros que se tapavam, que se arrancavam por vezes
bruscamente, adiantando-se, ou então que se tapavam nas sortes, tirando algum
brilhantismo às mesmas. De melhores condições, o toiro lidado em quarto lugar,
nobre, pronto e com transmissão.
Dirigiu a corrida Lara Gregório
Oliveira, assessorada pelo Dr. Jorge Moreira da Silva, numa noite em que o
Forcado foi enaltecido.
Patrícia Sardinha