Quando faltar a emoção, os apertos no coração e as palpitações, tudo isto deixará de fazer sentido. Mas enquanto das bancadas vierem ais de medo, palmas de verdadeiro reconhecimento e alguém que se levanta instintivamente depois de um magnífico ferro ou uma pega valente, ainda temos o que é preciso. E assim foi na noite de celebração dos 120 anos da bonita e castiça Palha Blanco.
A noite começou com os campinos e a sua padroeira, Senhora de Alcamé, na arena num bonito e arrepiante momento. E Vila Franca de Xira não é melhor nem pior, é diferente: desde o curro de Palha que impôs respeito (e medo), à experiência e entrega de Rui Salvador, aos ferros de Salgueiro da Costa que fez levantar as bancadas até à valentia e raça dos forcados.
Experiência, entrega e mestria de Rui Salvador sobressaíram frente ao exemplar da ganadaria Palha menos "complicado" e exigente da noite. De destacar a importante brega, a qualidade dos curtos bem cravados à Salvador e o remate das sortes. Deu gosto ver!
Luís Rouxinol teve uma passagem discreta por Vila Franca, não por falta de vontade mas o Palha não facilitou a vida. Embora o cavaleiro tenha dado tudo o que tinha, a lide não rebentou. Não foi autorizada música mas o público de Vila Franca respeitou o labor do cavaleiro.
O cavaleiro Filipe Gonçalves percebeu cedo que o Palha que lhe coube em sorte, como a generalidade dos que saíram à arena, não consentia enganos. Algum "excesso de velocidade" deu origem a algumas passagens em falso. Noite complicada, esforçada mas a resultar muito discreta.
Francisco Palha também não teve uma passagem fácil pela Palha Blanco acabando mesmo por ter sido colhido de forma aparatosa no segundo curto. O toiro que lhe coube em sorte adiantava-se no momento da reunião. Fica na memória um bom curto.
É da lide de Salgueiro da Costa que os aficionados se vão lembrar nos próximos tempos. O cavaleiro está numa boa fase e isso viu-se em Vila Franca. Uma lide de menos a mais que terminou com o público em pé a aplaudi-lo. Começou de forma irregular mas depois o cavaleiro encontrou-se e sem medos enfrentou com genialidade o Palha que, tal como os outros, também tinha as suas dificuldades. Foram três curtos com muita técnica para recordar. Enorme, João Salgueiro da Costa!
Tristão Guedes de Queiroz prestou prova de praticante frente a um novilho manso e com querenças mas isso não foi impedimento para o jovem. Mostrou desenvoltura e saber o que quer e como fazer. Tristão dá-nos, sem dúvida, muita esperança no futuro do toureio a cavalo!
No que toca a bater palmas ao toiro, também a noite não foi fácil. Pegas para valentes! Pelo grupo da terra, o cabo Vasco Pereira concretizou à terceira com uma importante primeira ajuda, Guilherme Dotti fechou-se à primeira tentativa tendo tido braços para aguentar a longa viagem até ao grupo se fechar e João Matos efetivou à primeira uma pega que poderia ilustrar um livro sobre a arte de bem pegar, Vila Franca aplaudiu de pé. Pelo grupo do Aposento da Moita, o cabo Leonardo Mathias concretizou à primeira uma pega muito técnica tal e qual como mandam as regras, Martim Cosme Lopes fechou-se com galhardia à segunda tentativa e Tiago Valério efetivou à terceira tentativa.
Querida Palha Blanco, parabéns! Que venham mais 120 como estes e que tua história se continue a escrever sempre com muita arte e emoção. Ocupas um lugar especial no coração dos aficionados!
Dirigiu a corrida Ricardo Dias assessorado pelo Dr. Jorge Moreira da Silva.
Lisa Valadares Silva