É de
Coimbra o fado antigo, o fado de serenata, uma alusão nesta crónica pela
presença no cartel dos Forcados Académicos de Coimbra, na que foi a sua
primeira vez a pegarem em Lisboa, e que acabaram destacados pela conquista do
prémio atribuído à última pega como a melhor da noite e concretizada por este
grupo.
Mas não
foram os rapazes das jaquetas azuis e capas negras os que mais ‘música’ nos
deram neste espectáculo que resultou em ambiente festivo.
Depois
de três festejos com fraca presença de público, o Campo Pequeno voltou a ter
ambiente na que foi a última corrida do abono deste ano na capital.
Foi
lidado um curro de toiros de António Charrua, pesado mas de apresentação
díspar. Em comportamento foram “bons”, muito ao gosto dos toureiros, que é como
quem diz, não deram problemas. Nobres, cómodos, de pouca força, foi mais manso
e reservadote o lidado em quinto, com mobilidade e transmissão, o terceiro e o sexto
da ordem.
Luís
Rouxinol inaugurou o festejo em plano cumpridor frente ao primeiro. Cuidou a
lide desde a ferragem comprida ao remate dos curtos e houve intencionalidade em
sortes frontais montando o Jamaica. Terminou com um palmito de grande nota, para
o qual o oponente se arrancou a curta distância, resultando com mérito o ferro.
Viu o segundo do seu lote ser devolvido aos currais por estar condicionado, e
acabou por lidar em quinto, um dos sobreros da corrida. O cavaleiro de Pegões
voltou a andar em plano lidador para o desmaginar das suas intenções
de manso, já que por algumas vezes a rês ameaçou descair para tábuas. Mudou-lhe
os terrenos, bregou ajustadíssimo com o Douro, cravou correcto e foi no par deixado
ao estribo que agigantou actuação. Voltou a culminar com um bom ferro de palmo.
Pablo
Hermoso de Mendoza era sem dúvida o ‘desejado’ da noite. Regressava a Lisboa
onde tem ‘cartel’. Um público que lhe é devoto, pelo que mesmo que ele apenas
ali estivesse para mostrar as habilidades dos cavalos, chegavas-lhe. Mas Pablo
é mais que isso. Bom equitador, bom rejoneador e o seu toureio “mecânico” resulta
sempre eficaz para os toiros “que se deixam”. Foi o caso. Mas não pode esse
público embalar na ‘serenata’ e consentir que um toureiro possa ignorar’ (ainda
ponho em causa se não ouviu) o aviso do director de corrida. Saído o segundo da
noite, que apontava a boas condições – leia-se nobre o suficiente para Pablo
ter logo gostado dele – o rejoneador recebeu-o com brega apertada, ‘dobrou-o’,
e com isso retirou algum rendimento ao toiro que já era justo de forças. Ora
após, viram o veterinário e o director de corrida, alguma condicionante na rês,
ordenando aviso ao rejoneador. Mas Pablo foi-se ao toiro e cravou o primeiro
comprido, pese embora algum público ainda o tentasse alertar do ‘aviso’. De pé
e sereno, o director “comeu e calou”, e deixou que o navarro cravasse o
segundo. Até que o toiro, como tantos outros, em quase todos os festejos,
perdeu as mãos e caíu, gerando então o protesto do público (que até aqui
aplaudia a ferragem comprida). Encheu-se novamente de autoridade o director, novo
aviso e rês para dentro. “Y que bueno era”,
disse o Pablo. Pois, e mesmo que o veterinário e o delegado não tenham razão no
que quer que seja que viram no toiro, não pode um artista sobrepor-se às ordens
da autoridade em praça. Claro que veio o sobrero (ainda que o regulamento não o
obrigue em caso de toiros com bandarilhas já cravadas) e com ele, Pablo cumpriu
e agradou ao conclave mais pelos ladeios, pelas hermosinas e recortes do ‘Berlín’ na cara de um toiro nobre mas que
transmitia pouco e perseguiu a passo, do que propriamente pela ferragem
correcta que deixou. Deu o director de corrida honras de presença do
representante da ganadaria a este toiro. Pablo voltou a fazer parecer fácil tourear
no que foi segundo do seu lote, mais uma rês colaborante ao seu toureio. Rompeu
a lide quando após o palmito que cravou se voltou a exibir nos recortes em
terrenos de dentro.
João
Moura Caetano teve como primeiro do lote um toiro que teve mais som que os
irmãos, sempre fixo no cavalo e codicioso. O cavaleiro de Monforte valeu-se
das condições da rês para em crescendo construir com o ‘Campo Pequeno’ uma
actuação cumpridora e correcta na ferragem. Se havia toiro do lote a merecer chamada
do ganadero, a meu ver, seria este. Também frente ao sexto, outro toiro que
teve mobilidade, Moura Caetano deixou boa passagem, principalmente pelo segundo
curto de praça a praça e pelo quarto com as distâncias encurtadas.
Para as
pegas, estiveram em praça três grupos dos com menos rodagem, a quem foi
permitida esta oportunidade e em competição pelo prémio da Melhor Pega.
Pelos
Amadores de Arronches, pegou Luís Marques bem à primeira, o toiro ainda baixou
a cara no momento da reunião, mas o forcado aguentou e sem problemas efectivou;
e Rodrigo Abreu à 5ª, com as ajudas carregadas e a sesgo, depois de vários
intentos em que houve forte embate no momento da reunião.
Pelos
Amadores de Monforte, João Falcão concretizou à terceira após dois intentos em
que não se fechou; e Vítor Carreiras à segunda com o grupo a ajudar e a efectivar
junto às tábuas.
Os
Académicos de Coimbra fizeram honra a um dos seus maiores apoiantes, o saudoso
Eng. João Cortesão, por intermédio de Francisco Gonçalves que reuniu com um
piton no meio das pernas mas aguentou eficaz à primeira; e por João Tavares que
também à primeira consumou uma boa e correcta pega, vindo a lograr o prémio
em disputa.
Dirigiu
a corrida o sr. Fábio Costa, assessorado pelo veterinário Dr. Jorge Moreira da
Silva.