'Requiem' pela praça de toiros de Viana do Castelo: um dos casos que o Portugal taurino não soube defender
Primeiro foi Viana do Castelo. Depois, Póvoa de Varzim. A quem faziam mal essas praças de touros?. A quem incomodava que ali anualmente se celebrassem touradas quando chegavam as datas tradicionais do verão?. A Política que tudo invade, o desejo de alguns de implantar o pensamento único, o desejo de encurralar primeiro e depois acabar por espezinhar os direitos das minorias... O salpicão que no final mete a bordo e mistura oportunistas com antitaurinos, pseudo-progressistas com radicais veganos anti-taurinos…
Em Viana do Castelo, um socialista presidente da Câmara Municipal decidiu um dia que ele estava acima do bem e do mal. Imbuído do errôneo poder da intransigência, decidiu que seu município devia ser anti-touradas. E apoiado pelos vereadores da sua corda, convenceu os fracos proprietários da praça de touros a entregar esta a mãos municipais em troca de uma miséria…
Foi em novembro de 2008 quando a agencia Lusa informava que “a Câmara de Viana do Castelo vai adquirir, pelo preço simbólico de cinco mil euros, a Praça de Touros situada no Parque da Cidade, e transformá-la num Centro de Ciência Viva, anunciou hoje fonte da autarquia”.
¡Cinco mil euros! por uma praça de touros que estava em pe e ainda operativa. Ler para acreditar...5.000 euros!. Enfim... quem diria que os mesmos donos da praça passaram a ser junto ao presidente da Câmara os coveiros da Festa em Viana do Castelo.
Composta por 4900 lugares e 18 camarotes, a Praça de Touros de Viana do Castelo teve uma intensa actividade inicial mas, nos últimos anos ficou reduzida a um espectáculo anual, as vezes dois, por altura da Romaria da Senhora d`Agonia. Mas podia ter sido utilizada para festivais, concertos de verão, outras atividades não taurinas... mas a propriedade da praça se limitava a alugar a arena a um empresário taurino e que este desse uma ou duas touradas a cada ano... A partir daí não moviam um dedo para rentabilizar o local.
O que continua a ser presidente da Câmara de Viana do Castelo, de conduta antitaurina pelo visto, não quis escutar razões dos aficionados locais, do antigo clube taurino... de outras entidades que mediaram no assunto. A praça é do município agora e vamos fazer nela o que acredito ser melhor para Viana do Castelo…
-Pois faça um recinto coberto, transforme a praça em um Coliseum, que permita também celebrar nela corridas de touros... (lhe disseram)
-Viana do Castelo é uma cidade civilizada e as touradas acabaram aqui…
Dito e feito. As touradas acabaram em Viana do Castelo porque assim o quis esse senhor e a corte de corifeos que aplaudiu sua intransigência. Os aficionados, que a cada ano se concentravam nas bancadas da arena de Argaçosa, ficaram despojados daquela sua tradição pelas festas da Agonia.
Agora bem... O Portugal taurino soube defender a praça de Viana do Castelo? : não! , rotundamente não; assim há que dizê-lo... O Portugal taurino, as pessoas do centro e sul de Portugal aficionadas aos Touros, a maioria das "forças vivas" da Tauromaquia portuguesa, há agora 12, 13, 14 anos... olharam para o outro lado, como se com eles não fosse o problema…
Atitude mesquinha e covarde daqueles que bem podiam ter feito algo e se limitaram a algum comunicado; alguns a montar uma tourada num terreno emprestado e afastado do centro urbano de Viana do Castelo... nada verdadeiramente eficaz; um pouco de ruído, como para lavar as consciências e… Aí ficam os taurinos portugueses do Norte. Já têm Póvoa de Varzim para ir aos touros cara verão... parecian pensar estes ignorantes que não se davam conta de que o gravíssimo precedente do sucedido em Viana do Castelo era todo um incentivo para que na Póvoa de Varzim surgisse um imitador do presidente da Câmara de Viana do Castelo e, na volta de pouco tempo, acabasse ali também com a Tauromaquia, como assim ia acontecer…
O problema principal destas gravíssimas situações em que a Tauromaquia é agredida e com isso os seus aficionados -que merecem ser respeitados por muita minoria que fossem- não está nos que agradem, está naqueles que deixam que a Tauromaquia seja impunemente agredida.
A Tauromaquia em Portugal (como na Espanha também acontece) é agredida cada dois por três por visionários, iluminados, radicais, fundamentalistas... indivíduos anti-taurinos, muitos deles violentos, de todo tipo e condição que sem respeitar os princípios de um Estado de Direito pretendem impor pela força, pela teoria do pensamento único, do "Politicamente correto", suas idéias, sua sociedade de uma só direção...
Frente a eles, à vista está, os taurinos, especialmente os profissionais taurinos, encolhem-se, não levantam a voz; quando o fazem alguns... são criticados por outros colegas mais covardes; há uma desunião evidente instalada no temor não se sabe a que... que é todo um cheque em branco aos anti-taurinos para que prossigam seu trabalho de zapa, de assédio e derrube da Tauromaquia, ataques só detidos agora, porque ao não haver (pela Covid) touradas -que é o que desejam os antis-, nada há que combater... Mas assim que o Covid desaparecer, vão ver como tudo volta para onde costumava…
A praça de touros de Viana do Castelo foi o primeiro passo de um tempo de assédio e derrube que começou há 15 anos na Tauromaquia portuguesa. 15 anos depois, os taurinos não aprenderam essa lição. Primeiro não deram importância no que a caída de Viana do Castelo supôs... e veio Póvoa de Varzim... logo virá tudo o que haja de vir, facilitado sempre pela incapacidade, a ausência de um trabalho sério e persistente em defesa da verdade da Tauromaquia.
Com a instabilidade derivada de um mundo tão volúvel como a Política, a Tauromaquia terá pouco futuro em Portugal (e em Espanha) se os seus agentes e principais actores não construírem o muro defensivo que já há anos deviam ter construído. Mas para esta tarefa não vale qualquer coisa, sobram medíocres e se põem em falta tipos realmente capazes.
DATAS E DADOS
A Praça de Touros de Viana do Castelo foi uma antiga Praça de touros situada na cidade de Viana do Castelo. Acabou com ela o atual presidente da Câmara Municipal, José Maria Cunha Costa (PS).
A primeira tourada oficial que se realizou em Viana do Castelo foi em 1871, com a instalação da primeira praça de touros, ainda de madeira.
Em 1949 foi construído o edifício definitivo, pela Empresa da Praça de Touros, formada inicialmente por 32 sócios. A nova praça era composta por 4900 lugares e 18 camarotes, dispondo mesmo de uma pequena capela no interior.
A Câmara de Viana do Castelo adquiriu a Praça de Touros em 27 de Janeiro de 2009, pelo ridículo preço de 5.127,74 euros
A Câmara, depois de comprar a praça, leva anos referindo que quere fazer isto e aquilo, aquilo e isto, o outro e aquilo outro, aquilo outro e o outro…Uma década delirante... :
Em 2009, intenção era criar um “Centro ou Museu da Ciência Viva”.
Em 2010 foi decidido instalar na praça o “Centro do Mar”.
Em 2012, foi anunciado que a antiga Praça de Touros poderia ser convertida, através de um investimento privado, num “espaço de restauração e actividades náuticas”.
Em dezembro de 2014, foi anunciado que a antiga praça de touros iria ser transformada em “pavilhão desportivo”.
Em novembro de 2016, foi anunciado na imprensa que a Câmara Municipal de Viana do Castelo vai transformar a praça de touros da cidade num “Campus Desportivo”.
Em 19 de setembro de 2019, a Câmara de Viana do Castelo aprovou a demolição “praticamente integral” da antiga praça de touros.
Em 3 de dezembro de 2020, a Câmara aprovou a adjudicação da empreitada de reconversão da antiga praça de touros em ‘campus’ desportivo à empresa Baltor, por 3.669.123,10 euros.
Esta é a história... Por que naquela altura não houve um só empresário do Portugal taurino que por menos de 6.000 euros comprasse aquele recinto, evitando que caísse nas mãos da Câmara Municipal que queria acabar com a Tauromaquia em Viana do Castelo?.
Esta é a pergunta do milhão. E também esta : o que havia entre a Câmara e os proprietários da praça para chegar a um preço tão miserável pela venda?
Eugénio Eiroa