Corrida do Emigrante: "Para inglês ver"
A tradicional data no abono lisboeta dedicada ao Emigrante foi quase o que se poderia dizer de ‘para inglês ver’, muita carne, muitos toques, muitas tentativas de pegas… ‘emocionante’, portanto.
Já o português aficionado, por certo, viu muito pouco desta corrida!
Meia casa de um público heterogéneo, entre os nossos que regressam agora para férias e foram matar saudades das ‘touradas’, entre os estrangeiros que vão à descoberta desta tradição, e entre um punhado dos do costume, mais exigentes e que se fizeram ouvir para o bem e para o mal.
O curro da ganadaria Cortes Moura teve em peso o que faltou em transmissão. Toiros bem aviados de carne mas amorfos, alguns feios de córnea, cómodos para as lides a cavalo, ainda que longe da típica nobreza que o encaste Murube tanto nos ‘habituou’, pois não se permitiam a grandes perseguições mesmo que a passo. Já nas pegas foram animais que ‘embruteciam’ ainda que sem raça. Já dizia o ganadero Fernando Cuadri: “lo noble está a un pasito de lo manso”.
No entanto, a escassez de êxito artístico não se ficou só pela pouca disposição dos toiros. A irregularidade das lides tocou a todos, ainda que uns com mais sorte não só nos lotes, como na comunicação com as bancadas.
Vítor Ribeiro andou inconstante no primeiro, um toiro com 610 kg, que perseguia a passo com alguma nobreza, e por vezes com alguns arreões também. O cavaleiro andou com intenções de boa brega, as sortes até a resultarem bem desenhadas, mas nos remates, ao ladear, consentiu por duas vezes fortes toques na montada que tiraram brilho à lide. Foi-lhe consentida volta mas perante a não predisposição do público à mesma, apenas agradeceu. No seu segundo, um manso distraído, sempre a descair para tábuas, e com 615 kg, teve mérito Ribeiro pelo esforço na sua actuação, fez por ligar o oponente ao cavalo e assim lhe mudar os terrenos, indo acima do toiro para deixar a ferragem e não descurando os remates.
Jacobo Botero teve duas actuações que chegaram facilmente às bancadas mais pela sua disposição e pelas qualidades das montadas. Frente ao primeiro do seu lote, animal com 624 kg, gordo e baixel, tentou uma sorte gaiola mas à velocidade que toiro e cavalo se encontraram…resultou desfeita a intenção. Empolgou bancadas com os dois primeiros curtos que cravou, os melhores da sua actuação. Os outros resultaram menos cingidos, sofrendo alguns toques no remate das sortes. No seu segundo, o mais pesado da corrida, com 648 kg, consentiu demasiados toques, praticamente um após cada ferro, que de colocação também resultaram díspares, e onde também se verificou muita intervenção do peão de brega na colocação do toiro. Rematou com dois violinos, um para corrigir o outro.
Miguel Moura era o mais novo da ‘terna’, mas o mais seguro de si e teve passagem mais regular pelo Campo Pequeno ainda que também ele não livre de algumas falhas. Primeiro, frente a um toiro reservado e com 534 kg, acabou por consentir demasiadas passagens em falso tanto nos ferros compridos como nos curtos. Mostrou eficiência na brega, sentido de lide, sendo cumpridor com a ferragem perante um toiro parado e sem perseguir após o ferro. No último da noite, com 642 kg, Miguel Moura voltou a evidenciar-se na brega com que o recebeu, nos ferros demonstrou eficácia, rematando com ladeios onde consentiu alguns toques perante um toiro de pouca transmissão. A corrigir a ‘artilharia’ a que se sujeitam por vezes as montadas e cujas imagens depois em nada beneficiam a Festa.
Nas pegas noite de muita tentativa, pois se nas lides na sua maioria os toiros se mostraram ‘curtos’ de investida, nas pegas tinham mais vontade de se mexer.
Que o diga Diogo Amaro, do Barrete Verde de Alcochete, que por seis vezes se fez à cara de um toiro que partia a ‘galope’, sem derrotar, sem humilhar, apenas levando tudo pela frente. Maior eficácia nas reuniões e poderia ter sido uma grande pega nos primeiros intentos. Acabou por consumar ao sexto intento, com ajudas carregadas (até no número de elementos que saltaram à arena) e depois de alguns elementos lesionados nas tentativas anteriores. César Nunes efectivou à primeira numa boa pega à barbela. E mais uma vez, o cabo Marcelo Lóia, a justificar que é um dos Grandes da nossa Festa, rijo para todos os toiros, brilhante e eficaz a consumar ao primeiro intento numa pega que só não teve mais mérito pela escassa raça do toiro, mas onde se destaca também a grande ajuda do antigo cabo, e já retirado, João Salvação, que nesta noite, e depois da dureza que foi para ele ver a primeira pega do Grupo, acabou por se fardar e ajudar no que podia.
Pelos Amadores das Caldas pegou António Galeano bem à terceira, depois de intentos anteriores em que as reuniões e as ajudas não foram totalmente eficazes; António Cunha à segunda numa reunião com impacto e eficiente ajuda, depois de no primeiro intento, o toiro lhe ter baixo a cabeça, com o forcado fechado a ele, acabando por ambos darem uma pirueta; e a fechar a noite Francisco Mascarenhas com uma grande pega à primeira, a aguentar muito bem, numa pega tecnicamente perfeita.
Dirigiu a corrida o sr. João Cantinho, com alguma benevolência na concessão de música, assessorado pelo veterinário Jorge Moreira da Silva.