Artigo de Opinião
Por: Carlos Patrício Álvares (Chaubet)
NINGUÉM É PROFETA NA SUA TERRA
A primeira deslocação de João Nunes Patinhas ao México, chefiando um grupo de forcados que tomou o nome de Forcados de Portugal, foi em 1976. O Grupo teve ocasião de mostrar o que é pegar toiros. João Patinhas, as suas qualidades de Forcado, de chefia e, até, a sua sensibilidade e solidariedade.
Foto: Pedro Louceiro brindando a João Nunes Patinhas em 1976 na Praça de Toiros de Tijuana (México). D.R.
Pedro Louceiro, destacado cavaleiro tauromáquico estava, com a família, a viver na capital deste País. Tendo seu filho mostrado vontade de pegar, João Patinhas não hesitou. Abdicou de ser o primeiro Forcado a ter a honra de pegar na maior praça de toiros do Mundo, e permitiu que fosse ele a fazê-lo.
Atitudes destas, o saber e valentia demonstrados, caíram bem na aficion mexicana. João Patinhas tornou-se o inspirador dos forcados mexicanos que passaram a tratá-lo por “mestre”. E o seu prestígio acentuou-se em 1980 e 1981, quando voltou a atravessar o Oceano à frente do grupo de que foi fundador: o Grupo de Forcados Amadores de Évora.
Não admirou pois que em 2010, recebesse um honroso convite: estar presente na apresentação do livro – “A CUERPO LIMPIO-31 anos de Forcados no México”.
“Nunca fui tão bem tratado na minha vida”. Diz emocionado. “Foram dezasseis dias inesquecíveis! Quando cheguei tinha a televisão à minha espera. Seguiram-se entrevistas, debates na rádio e em jornais. Visitas a ganadarias. Almoços e jantares em casa de uns e outros. Convites não faltavam. Uma admiração, um respeito pelos forcados que me encheu de satisfação e orgulho. Por fim fizeram-me uma homenagem e ofereceram-me a “MEDALHA COMEMORATIVA DOS 200 ANOS DE LIBERTAÇÃO” símbolo que só é oferecido a convidados ilustres. "OS MEXICANOS TÊM UM VERDADEIRO CULTO PELOS FORCADOS!” Termina entusiasmado e convicto.
Já em 1970 houve um primeiro grupo a deslocar-se ao País de Pancho Vila. A comandá-lo o inesquecível Simão Malta. Um dos mais carismáticos Forcados que temos tido. Não chegaram a pegar na Monumental, na Plaza México, mas deixaram bem vincado o valor dos portugueses na Arte da Pega. Foram, digamos, dignos representantes do brio, estoicismo e coragem, do FORCADO PORTUGUÊS, da modalidade tão nossa da pega de toiros.
Mas, se eles foram os primeiros a mostrá-la, João Nunes Patinhas, que pelo seu valor e espírito, considero pertencer ao restrito número dos verdadeiros FORCADOS, foi quem a impôs e tornou aliciante aos olhos dos mexicanos. Foi pois, por todas estas razões, o escolhido pela aficion mexicana para representar o FORCADO PORTUGUÊS, quando do lançamento do já referido livro. Distinção justa e merecida.
Quer dizer lá longe, do outro lado do Mundo, o Forcado é apreciado, homenageado, respeitado e lisonjeado. Os estrangeiros admiram e espantam-se com a pega, com a audácia e determinação dos seus intérpretes. Num mundo essencialmente materialista e egoísta o forcado foge ao contexto geral. As suas motivações dificilmente são compreendidas.
Aos que têm verdadeira alma de Forcado, é o fruir o risco que o pegar um toiro comporta, o testar o seu comportamento perante o perigo, a sua reacção à dor e a solidariedade que existe numa pega que os atrai. Por isso são chamados os românticos da Festa.
Na época que atravessamos, quem pode aceitar que alguém arrisque, sem qualquer compensação material, a sua integridade física, a própria vida?
E por cá? Em vez de aproveitarmos este facto como propaganda positiva do nosso País (goste-se ou não, enfrentar um toiro a corpo limpo e sem ser pago para tal, impressiona sempre), só a muito custo apoiamos iniciativas que sirvam para enaltecer o Forcado. Só com muito trabalho e persistência, se consegue avançar com aquelas que vão aparecendo.
Há mais de vinte anos que se constituiu uma Comissão com o objectivo de se erguer em Lisboa, na capital do País, um monumento que imortalize O FORCADO.
Quando a ANGF - Associação Nacional dos Grupos de Forcados se formou, a Comissão Executiva do Monumento ao Forcado, considerando que devia ser a ANGF a primeira a ter conhecimento da iniciativa e, por cortesia, escreveu-lhe. Simultaneamente, pediu a sua colaboração.
Dizendo a ANGF no seu Estatuto, que se propõe defender e lutar pelo prestígio do Forcado decerto, ingenuamente pensámos, não a negaria. Nunca nos responderam.
Porém, sem ligar à pretensiosa, arrogante e infantil indiferença de uns e outros, a Comissão, não desistiu, (ainda), do seu objectivo. É o espírito de FORCADO que a estimula. Tal como Ele que só quando já não tem força ou é levado para a enfermaria deixa de tentar a pega, continuou. E, embora com muito empenho, arreliadoras demoras e desilusões, conseguiu que o monumento fosse considerado de “MANIFESTO INTERESSE CULTURAL” pela Secretário de Estado da Cultura, Dr. Pedro Santana Lopes. Aplaudido e apoiado por três Senhores Presidentes da Câmara Municipal de Lisboa – Dr. Jorge Sampaio, Dr. João Soares e Eng. Carmona Rodrigues.
Ainda, autorização e lugar para colocar o monumento e até, financiamento para construir o modelo do mesmo, do qual se encarregou o jovem e talentoso Escultor, Rogério Timóteo. “Só” falta o dinheiro necessário para a concretização do projecto.
Ora! Se pensarmos na forma como o Forcado é tratado no México, na simpatia e admiração de que goza, e nos lembrarmos que fomos nós que o levamos para lá, é caso para dar razão ao provérbio: “NINGUÉM É PROFETA NA SUA TERRA.
Além de que, com estas hesitações, corremos o risco de passar pela vergonha de vermos ser construído um monumento ao forcado no estrangeiro. No México. Segundo João Patinhas A IDEIA JÁ EXISTE…