MESTRE BATISTA
25 Anos Depois
Para grande pena minha, nunca vi o Mestre Batista tourear. Eu tinha precisamente dois anos e dois meses no dia em que ele faleceu. No entanto, desde sempre que a sua vida, a sua história, me despertaram curiosidade e por isso mesmo sinto uma grande admiração pela Figura que foi o cavaleiro José Mestre Batista.
José Mestre Batista nasceu no dia 30 de Maio de 1940 em S. Marcos do Campo (Reguengos de Monsaraz) aqui bem pertinho de mim, no mesmo Alentejo profundo e perfumado. Aliás foi até na minha terra, Mourão, que José Mestre Batista toureou pela primeira vez em público quando tinha 13 anos de idade montando o Ideal, o seu primeiro cavalo.
Os familiares e amigos chamavam-no de Tita, curiosamente o mesmo nome que eu, quando ainda muito pequenina e mal articulava as palavras, dizia ser o meu nome numa tentativa de proferir “Patrícia”. E é talvez levada por estas coincidências todas que a minha admiração por Mestre Batista seja ainda maior.
José Mestre Batista foi sem sombra de dúvida um cavaleiro diferente, que revolucionou o toureio a cavalo em Portugal. Luís Gonzaga Ribeiro, natural de Reguengos de Monsaraz, foi a pessoa que o descobriu e o levou até à alternativa, que numa primeira tentativa ocorreu a 19 de Julho de 1958, tendo na altura Mestre Batista apenas 18 anos. No entanto esta data acabou por marcar a história do toureio com o cavaleiro a ver a sua alternativa reprovada. Caso único na tauromaquia portuguesa. Nunca se saberá o que terá levado o júri de então a tal feito, até porque segundo a crítica da altura, Mestre Batista terá tido uma boa actuação. Pergunto-me que diria o Mestre se visse muitas das actuações de alguns cavaleiros de hoje em dia e que sem qualquer problema atingem a categoria de profissionais?! Na Moita, a 15 de Setembro de 1958, conseguiu finalmente doutorar-se tendo por padrinho D. Francisco Mascarenhas.
José Mestre Batista foi também um toureiro irreverente, modificou a maneira de vestir passando a usar casacas mais curtas, com bordados diferentes e usava calções de diversas cores por cima de “collants” em vez das habituais meias. Só no uso do tricórnio se manteve imutável. Usou-o sempre. Coisa que hoje em dia é raro de ver, pois a grande maioria dos cavaleiros só o usam para fazer as cortesias.
Batista foi um cavaleiro que moveu multidões atrás de si, um caso de popularidade extrema. Mas tanto havia aqueles que o amavam, como aqueles que o criticavam. Manteve durante muitos anos um caso sério de rivalidade nas arenas com Luís Miguel da Veiga, tendo o mano-a-mano sido o cartel mais anunciado durante 15 anos. Mas rivalidade só se verificava dentro da arena, porque fora dela, eram muito amigos.
Diz-se ainda que Mestre Batista foi um “rebelde com muito humor”, que nas suas actuações, quer tivesse êxito ou fracasso, reagia sempre da mesma maneira, com um sorriso. Facto que por vezes era incompreendido pelo público. E ao mesmo tempo gostava muito de pregar partidas aos colegas e amigos.
Mas nem tudo foram rosas, e José Mestre Batista teve muitas vezes azares com os cavalos, principalmente aquando das inundações a 26 de Novembro de 1967 em que alguns dos seus cavalos morreram. Ainda assim Mestre Batista teve forças para continuar e em cinco meses pôs dois cavalos a tourear e com os quais obteve grandes êxitos.
Infelizmente, Mestre Batista padecia de uma doença, asma e foi essa doença, que hoje até nos parece uma doença banal, que o acabou por vencer a 17 de Fevereiro de 1985 em Zafra. Mestre Batista que enfrentara tantas vezes a morte na arena acabou por sucumbir a um ataque de asma.
Do Mestre fica ainda muito por dizer e eu que nunca o vi tourear,
tenho para mim que ele foi um génio, criador, revolucionário e muitas vezes incompreendido. Só a morte conseguiu travar Mestre Batista que foi sem dúvida um cavaleiro ímpar, que marcou e continua a marcar a tauromaquia e a forma como hoje se toureia a cavalo em Portugal.
tenho para mim que ele foi um génio, criador, revolucionário e muitas vezes incompreendido. Só a morte conseguiu travar Mestre Batista que foi sem dúvida um cavaleiro ímpar, que marcou e continua a marcar a tauromaquia e a forma como hoje se toureia a cavalo em Portugal.
José Mestre Batista, triplamente Mestre. Mestre de nome, Mestre do toureio e Mestre como homem. Tomara que muitos outros o tomassem por exemplo.
Patrícia Sardinha, 17-02-2010