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    Crónica : Faltaram melões com qualidade


    VILA FRANCA DE XIRA ( PATRICIA SARDINHA, subdirectora de NATURALES, enviada especial).
    Feria de Outubro – Praça de Toiros Palha Blanco
    Vila Franca de Xira, 07 de Outubro, 2008
    Vila Franca de Xira, terra de toiros e toureiros, tem vindo a perder com o decorrer dos anos, aquele encanto taurino que faziam dela a dita ‘Sevilha Portuguesa’. Longe do apogeu dos anos dourados do toureio a pé português, esquecida que está de José Falcão, José Júlio, Mário Coelho entre outros, tenta-se agora a custo fazer renascer a afición perdida numa das mais emblemáticas cidades taurinas portuguesas. Contudo, vontade só não chega para se sarar e reacender a chama.
    Bem pode um empresário esforçar-se por montar cartéis diferentes, por divulgar a sua feira taurina, que quando falta o essencial, toda a tentativa se esgueira. O toureio a pé não cativa mais a maioria dos aficionados vilafranquenses que se ausentam da praça em dia de corrida; e não se cativam porque ao longo dos anos o que os empresários lhes têm habituado é a corridas a cavalo, mas, e talvez mais importante, porque hoje em dia poucas ou nenhuma ganadaria portuguesa tem ‘perfil’ para ser lidada a pé em Portugal.
    E se o toureio a cavalo por enquanto ainda vai aliciando em Vila Franca de Xira, poderá bem ter os dias contados, pois na passada terça-feira, dia 7 de Outubro de 2008, o público, que até encheu ¾ de casa forte, não se deve ter convencido muito do sucesso da noite, tal como eu. É que o mais importante para o triunfo da corrida, não é ‘nomes sonantes’ de toureiros e toiros, mas sim a qualidade do ‘produto’. E os toiros são como os melões, só quando se partem…
    António Telles lidou o primeiro toiro de Partido de Resina com 530 kg, reservado, distraído. Cravou o primeiro ferro comprido à porta gaiola que resultou traseiro, cita de praça a praça para cravar o segundo e bisa na desacertada colocação, e o terceiro comprido foi de preparação muito precipitada. Nos curtos continuou nas cravagens desencontradas, no primeiro ferro não convenceu, ao deixar o segundo sofre forte toque na montada e o ferro resulta descaído, e só mais cumpridores os três curtos seguintes, sendo o último a favor da crença da rês que já não investia. Voltou a não ter sorte no segundo do seu lote, um Murteira Grave com 520 kg muito distraído, manso, sempre fechado em tábuas e que impôs dificuldades ao cavaleiro da Torrinha que teve de entrar em terrenos do toiro para cravar os ferros possíveis.
    Luís Rouxinol teve duas actuações mais regulares, a primeira frente ao toiro de Conde de la Corte, com 500 kg, de córnea muito aberta e que saiu com muita pata. Rouxinol esteve cumpridor nos dois compridos que deixou, e nos curtos foi subindo de tom numa lide ao seu estilo, cravando no sítio quatro curtos e um de palmo. Frente ao quinto da noite, um Pinto Barreiros com 540 kg, manteve a mesma linha de toureio, apostando na brega e nos ladeios ao toiro, cravando regular a ferragem comprida, e nos curtos a empolgar com um ferro violino, finalizando a actuação com o habitual par de bandarilhas.
    Victor Ribeiro foi outro a quem a sorte não bafejou esta noite. Teve uma primeira lide para esquecer, pois não entendeu o oponente de Miura com 580 kg, de escassa apresentação para a ganadaria em questão. Deixou traseiro o primeiro ferro comprido, o segundo não foi minimamente preparado e como tal resultou também desacertado no sítio. A rês tinha sentido, e partia de frente para o cavaleiro que tentava aguentar-se e cravou a estribo o primeiro curto. Tenta repetir a sorte no segundo ferro, mas acaba por sofrer um toque na montada. Cumpre com o terceiro, e enquanto o tenta colocar nos terrenos certos, volta a consentir toque. No final não deu volta. Já no último toiro da noite, e segundo do lote de Ribeiro, a entoação da lide foi mais positiva, frente ao toiro de Vale do Sorraia, com 585 kg, bonito, e a quem o cavaleiro deixou dois bons compridos. Lidou com mais calma e cabeça, aproveitando as boas qualidades da rês que investiu sempre em qualquer terreno e cravando bem quatro ferros curtos. No final presença digna de David Ribeiro Telles, o ganadeiro, na volta com o cavaleiro.
    Em relação às pegas, brilharam os Forcados da terra, na pessoa de Paulo Conceição à terceira com ajudas carregadas; o cabo Vasco Dotti à primeira sem dificuldades; Pedro Castelo à segunda a aguentar bem o toiro a pôr a cara alta; Ricardo Patusco à primeira numa boa pega; Diogo Pereira à primeira tentativa sem problemas; Mário Francisco à segunda a fechar-se bem.
    Os toiros foram melhores os de Vale do Sorraia, Pinto Barreiros e Conde de la Corte e no geral cumpriram todos na apresentação.
    Dirigiu a corrida Nuno Nery, assessorado pelo veterinário Jorge Moreira da Silva. Decorreu ainda no intervalo uma homenagem a Mestre David pelos seus cinquenta anos de alternativa e a António Telles pelos vinte e cinco.
    A noite não foi sucesso em termos artísticos, mas vale a pena enaltecer a coragem do empresário na montagem do cartel, conseguindo quase encher a Palha Blanco. E se algo correu menos bem, foi dos melões…quer dizer, dos toiros.