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    Crónica de São Manços: “Uma Corrida de Páscoa com amêndoa amarga no final"



    O Domingo de Páscoa tem tradição no calendário taurino em Portugal com a Corrida de Toiros de São Manços.

    Este ano, acresceu de motivação impelida pelos ingredientes do cartel: seis toiros de diferentes ganadarias com créditos firmados e que à partida, a ver pelas fotografias do cartaz publicitário, traziam seriedade; três jovens cavaleiros dos que mais destaque tiveram na temporada passada e a quem antevíamos competição; e três dos mais rijos Grupos de Forcados alentejanos.

    Contrariamente ao que geralmente acontece, não se saiu da castiça Praça de São Manços a falar de toureiros mas de toiros. Talvez não pelas melhores razões, já que o final do festejo foi em assobios mas ainda assim…que bom foi ver a malta mais preocupada sobre que toiro foi bravo e qual não foi, ao invés de que toureiro entreteve mais o público com o cavalo?!

    De facto, a tarde até foi entretida, pelo menos nas bancadas repletas de gente.

    Os toiros escolhidos para este Concurso de Ganadarias foram no geral homogéneos de apresentação, sem excessos de carnes e cornamenta, qual bisonte que por vezes há empresas que usam como atractivo turístico dos seus cartazes. Pelo que os havia ‘bonitos’ para todos os gostos, tendo sido a decisão por parte dos jurados relativamente à "Apresentação" bem aceite pelo público. De comportamento, também os houve para muito gostos, mais e menos ásperos, mais e menos benevolentes, só que neste caso a decisão do júri sobre a “Bravura”, foi amêndoa da Páscoa que não “caiu no goto” do conclave, e resultou amargosa a assobiadela ouvida.

    O toiro de Canas Vigouroux, com o nº 515 e 530 kg, foi o que abriu a corrida. Foi um toiro que transmitiu pouco, perseguiu a passo, sem se empregar e sempre “fitado” em qualquer movimento na trincheira ou bancada. Francisco Palha não foi cuidadoso nos compridos, que resultaram descaídos, para nos curtos se ter que impor e manter ligação, encurtando as distâncias de modo a fixar a atenção da rês. Cravou com acerto e mérito, ainda que resultasse discreta a sua actuação junto das bancadas.

    Em segundo lugar, lidou-se o “amarelo” de Pégoras, que levava no costado o nº 29 e pesou 530 kg. Um ‘ojo’ de perdiz, de córnea aberta, ligeiramente montado mas bem composto, e que não foi o anunciado toiro dos cartazes. De comportamento, foi um toiro com muita tecla…e pata! Que o diga Luís Rouxinol Jr. que ainda se viu apertado com ele nas tábuas, tendo o pai que sair ao quite, qual recortador, desviando a atenção da rês da montada do filho e escutando uma das ovações da tarde. E de facto o toiro não perdoava, com génio, de investidas pouco claras, por vezes a emparelhar-se com a montada, obrigou Rouxinol Jr. a arrimar-se de atitude naquela que foi a sua estreia esta temporada. Dos três compridos que cravou, nota alta para os dois primeiros. Nos curtos, careceu de mais cercania na abordagem ao oponente para a ferragem mas evitou dessa forma, o toque certo.

    O toiro de Fernandes de Castro, com o nº 67 e 530 kg, alto, pouca cara, não tinha investida franca, por vezes a passo, outra aos arreões, e nem sempre se viu claro com ele o jovem praticante António Prates, que tem desembaraço em praça mas consentiu alguns toques durante a lide e insistiu nos quiebros que lhe valeram também, algumas passagens em falso, com a prestação a resultar irregular.

    O bonito Veiga Teixeira, com o nº 602 e de peso 550 kg, arrecadou os dois prémios em disputa. De apresentação nada a dizer. De comportamento, vi-o como um toiro sério, que transmitiu, com mobilidade mas que quando o cavaleiro lhe dava mais distância, procurou tábuas e raspou…muito! Ainda que os ‘entendidos’ dos tempos contemporâneos digam que “nem saibam o que raspar é”, eu cá sempre ouvi que «No es de bravo señal buena, toro que escarba en la arena». Até porque se ‘raspa’ é porque se defende, e se, se defende…não é bravo! Mas, isto sou eu! E nesse sentido, pese embora todas as outras virtudes achadas no toiro, que não deixa de ser bom, não foi ‘o tal’. Já Francisco Palha viu-se mais a gosto nesta lide e teve mais toiro para o seu toureio, com um grande terceiro curto, de praça a praça e de alto a baixo.

    O toiro de Passanha também poderia ser um sério candidato ao prémio apresentação. Foi imponente, bem feito, acusou na balança 580 kg e levava o nº 80. Teve por diante, o enraçado Rouxinol Jr. que mandou recolher os capotes e recebeu o toiro com uma empolgante sorte gaiola, levando depois a rês a perseguir codiciosa em boa brega. Voltou a cravar bem um segundo comprido e nos curtos cumpriu com eficácia, sendo que nos remates com o Douro parecia que quase metia o toiro debaixo do cavalo, tal a proximidade que a montada permite, qual plasticina, enquanto a rês perseguia em passo cadenciado, a transmitir pouco, e num registo a menos do que aquele com que saiu à praça.

    Por último, o toiro da ganadaria Palha com o nº 356 e 520 kg, um toiro bem apresentado, bonito, sério, nobre, fixo na montada e repetidor, sendo na minha opinião mais completo que o de Teixeira. António Prates voltou a entrar decidido em praça, com uma actuação de menos a mais. Foi bom o quarto curto, a aguentar, e depois de fazer a batida, a ir acima do toiro cravar o ferro. Tentou repetir com o quinto curto mas não se tirou a tempo de evitar forte toque. Sendo que ainda recuperou prestação com o sexto ferro e os dois palmitos com que fechou função.

    Nas pegas, iniciou a tarde pelos Amadores de São Manços o forcado Rui Pelado, que à primeira efectivou uma pega à córnea, sem problemas; e por esta fardação terminou Jorge Valadas que teve enorme de braços, a aguentar um derrote alto e a consumar uma grande pega à primeira. Pelo Real Grupo de Moura, pegou Rui Branquinho a sesgo e à quarta tentativa com o toiro a derrotar, depois de intentos anteriores em que as reuniões foram defeituosas; e Cláudio Pereira à primeira sem complicações. O Grupo de Beja consumou as suas pegas por intermédio Nuno Vitória, que consumou bem reunido à segunda tentativa; e Guilherme Santos com uma pega rija à primeira.

    No final, o júri composto por Miguel Ortega Cláudio, Pedro Guerreiro e Bernardo Patinhas, entendeu atribuir os dois prémios em disputa à ganadaria Veiga Teixeira, o que como já referi, levou a protesto por parte do público relativamente ao de Bravura.

    Cá para mim, um facto sem importância já que na realidade, bravo mesmo, e digo eu que não sou "entendida" mas tenho os meus critérios...mas bravo, não vi nenhum!

    Dirigiu a corrida o sr. Agostinho Borges, assessorado pelo veterinário Dr. Matias Guilherme, numa tarde que se iniciou com um minuto de silêncio em memória do matador Ricardo Chibanga.




    Patrícia Sardinha