Header Ads

Feito com Visme

  • Últimas

    Artigo de Opinião: "Patrícia, já cá está o Burladêro"



    Em tempos idos, ali por meados dos anos 90, a internet era coisa ainda (muito) pouco acessível e os telemóveis uns verdadeiros monos, de ecran reduzido e limitados a chamadas telefónicas e mensagens de texto.

    Pelo que, nessa altura, não andávamos todos como hoje em dia, a dar ao dedo quer nos computadores, quer nos telemóveis, tabletes e afins, para saber notícias quase que ao minuto.

    A chegada da informação era muito mais limitada, por vezes atrasada, mas talvez por isso, também muito mais preciosa.

    Principalmente as boas novas sobre Tauromaquia, que estavam confinadas a alguns programas de rádio semanais, a um ou outro magazine de televisão com a mesma periodicidade e a publicações impressas, semanais ou mensais.

    Curiosamente, foi por essa altura que para mim ir a uma “tourada” deixou de ser ir ver cavalos enfeitados, ver toiros bravos e comer batatas “Ti-Ti” acompanhadas por um “Sumol” - se bem que, ainda hoje, de vez em quando não resisto a um pacotinho de batatas fritas a meio de uma corrida. 

    Afinal, havia na arena mais interesse do que parecia...

    E esse novo projecto de “aficionada” precisava de uma fonte de conhecimento. Algo onde pudesse entender não só o presente mas principalmente o passado da Festa dos Toiros.

    Encontrei na revista Novo Burladero uma aliada. Ali, contava-se a actualidade, referenciava-se a história, mas acima de tudo, ensinava-se Tauromaquia. 

    A diversidade de conteúdo, a frontalidade nos escritos e a importância dos seus colaboradores, enriqueciam uma revista única, que eu ansiava todos os meses por poder comprar.

    A ansiedade era tanta, que sempre que se iniciava um novo mês, eu tornava-me visita frequente do quiosque onde em Mourão se vendia a revista, para perguntar por ela. E muitas vezes a resposta era “ainda não chegou”. Passava semanas nisto...

    Outras vezes, ou porque não levava dinheiro comigo, ou porque desistira de perguntar, vinha a senhora da loja ao ver-me passar, gritar à porta com o seu acento alentejano: “Patrícia, já cá está o burladêro!!”.

    Finalmente!

    Depois, pegava nela, e passava todas as páginas sem parar e só lia os títulos, para mais tarde e com tempo, iniciar pelo Burladero do Director, uma leitura aprofundada.

    Da minha colecção, tenho por uma das revistas como das mais queridas, a edição dedicada ao falecimento do Mestre Batista. Quando essa revista saiu, eu só tinha 2 anos e 2 meses, mas o meu pai comprou, guardou...e eu, anos mais tarde, pude depois aprecia-la, para trás e para a frente, mil vezes. E talvez por isso, nunca tendo também visto tourear o Mestre de São Marcos do Campo, ainda assim, passasse a tê-lo para mim como um dos meus favoritos de sempre.

    E porque quem lê com dedicação, apega-se e acaba por crescer nas linhas mestras em que se formou. A Novo Burladero era para mim uma escola e, o João Queiroz, o meu mentor, estando longe de alguma vez pensar que um dia também me pudesse aventurar a escrever de toiros, sendo que entre mim e o João Queiroz, não existe comparação... Tomara eu!

    Contudo, vim um dia a descobrir que existe algo que eu e ele temos em comum, e isso ninguém me tira. 

    E ele que me perdoe a confidência...

    Numa qualquer edição da revista, publicitaram a venda do livro “Mestre Batista - Toureiro de uma Época”, de autoria do sr. António Garçoa. Encomendei. E aproveitei para enviar ao sr. João Queiroz uma carta a solicitar o envio do livro, a elogiar a revista e o quão importante a mesma era para mim, mas também a reclamar os atrasos com que às vezes se fazia chegar a Mourão. Nessa carta, pedi-lhe eu, que no seguinte mês de Dezembro, pudesse a revista chegar no dia 17 à minha terra, pois como faço anos nesse dia, seria como se fosse mais um presente de aniversário. Passado uns dias, chega-me um bilhete postal. A mensagem era curta mas directa, qualidade admirável do Queiroz que com pouco, diz tudo.

    Se a alegria de ter resposta foi muita, maior foi quando li o que me escrevera.
    Que a 17 de Dezembro lá estaria a Novo Burladero em Mourão, um bom dia para se fazer anos já que ele também fazia aniversário no mesmo dia!!! Coincidência? Destino?

    A verdade é que chegou o 17 de Dezembro daquele ano, e a revista a Mourão só chegou lá para dia 21...

    O João Queiroz era (e ainda é) para mim, o crítico referência. Um aficionado exigente, cuja paixão aos toiros o levou a tornar o projecto da revista, o seu próprio projecto de vida.

    Obviamente, porque cada um é livre de pensamento, opinião e gosto, nem sempre estaremos ou seremos convergentes nas opiniões, e algumas vezes isso ficou assente entre ambos, nas variadas ocasiões que estivemos juntos. Talvez até porque nos separe uma “muralha da China” entre o que sabe ele de toiros e o que sei eu...

    Mas o mérito de tudo o que ele alcançou com a sua revista Novo Burladero, o que deve ter sacrificado em prol desta “bíblia” portuguesa da Tauromaquia, isso merece todo o reconhecimento e agradecimento de quem, como eu, se forjou como aficionada nas páginas da Novo Burladero.

    Hoje, 4 de Maio, cumpre a revista 40 anos de existência, um feito! E ao João Queiroz, também à Catarina Bexiga e restantes colaboradores, ficam as minhas felicitações e o meu agradecimento, por tudo o que têm feito pela nossa Festa.

    Dirá ele que não sou sua amiga por desejar que se aguente pelo menos mais outros 40 anos ao comando da Novo Burladero... Mas terá o João Queiroz ideia de que, podem muitos hoje em dia, assumir-se como os primeiros e os senhores da verdade na imprensa taurina em Portugal mas que sem Novo Burladero, não haverá Verdade nenhuma?!

    Venham mais 40 anos de Novo Burladero, no mínimo...

    Patrícia Sardinha