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    Dr. Joaquim Grave: "Continuo inquieto na procura da bravura que sonho"

    Quinze anos estão cumpridos! Quinze anos desde o dia em que assumiu o que lhe estava predestinado: ser Ganadero de Bravo. Um percurso em crescendo, de busca, de trabalho e de aperfeiçoamento de algo que, só se sendo sonhador, se ponde manter. Uma conversa sobre o passado, o presente e o futuro, mas também sobre as conquistas, as presenças, as ausências, até sobre saudade e claro, passando por Mourão.

    A precisamente duas semanas de se realizar o primeiro Festival Taurino da Temporada 2018, a acontecer a 1 de Fevereiro em Mourão, o NATURALES, conversou com o ganadero e organizador da III Feira Taurina que inaugura a temporada, o Dr. Joaquim Grave.

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    DR. JOAQUIM GRAVE: 

    “Julgo que o meu Pai me diria: "Continua a criar e a seleccionar o toiro que tu sentes!"”
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    Cumpriram-se em 2017, 15 anos desde que em 2002 o Dr. Joaquim assumiu a ganadaria que até então era levada pelo seu pai, o saudoso Eng. Joaquim Murteira Grave. Que balanço faz?
    Dr. Joaquim Grave: Ao fim destes 15 anos tenho a certeza que é fascinante criar e seleccionar toiros bravos! Também sei que é difícil andar no mundo dos toiros... Quanto à evolução que sinto no comportamento dos toiros, estou moderadamente satisfeito.

    E o que crê que mudou na forma de gerir e no toiro que procura, que difere da forma como o seu pai geria a ganadaria?
    Dr. Joaquim Grave: Tenho feito exactamente o que ele fez; tentar acompanhar a evolução do toiro, sem nunca perder valores que ambos consideramos essenciais: raça e classe nas investidas.

    Nas últimas temporadas, ano após ano, é praticamente unânime que a ganadaria Murteira Grave se tem assumido como a triunfadora de temporada, com muitos troféus e distinções conquistadas. Sente que está no bom caminho?
    Dr. Joaquim Grave: Sinto que às vezes vão saindo toiros que se aproximam do que pretendo. Mas não estou de maneira nenhuma descansado. Continuo inquieto na procura da bravura que sonho.

    Dr. Joaquim Grave numa volta à arena a uma das praças talismã para a ganadaria, a de Reguengos de Monsaraz

    Voltou também a lidar em Espanha e a triunfar. Pouco a pouco a ganadaria Murteira Grave poderá estar noutros palcos do país vizinho?
    Dr. Joaquim Grave:  Exactamente, e trabalho para que isso aconteça. 

    Os seus toiros são dos mais desejados pelas empresas, temidos por alguns toureiros, mas dos que mais motivam os aficionados e público em geral. O que tem um “Murteira Grave” para causar está mescla de sentimentos?
    Dr. Joaquim Grave: Um Murteira Grave tem trapio, fisicamente são fortes, a maioria tem mobilidade e, os que têm bravura dentro podem incomodar porque estão preparados para aguentar a lide inteira.


    "Julgo que o público de Évora gostaria de ver outra vez os meus toiros na sua praça"


    Em 2017, conquistou entre outros prémios, 3 Concursos de Ganadarias. Em Maio, venceu o Concurso de Salvaterra de Magos; em Julho ganhou no Concurso da Encerrona de Luís Rouxinol, no Montijo; e por último venceu o Concurso na Corrida do Fogareiro na Moita. Falta aqui, o mais antigo Concurso de Ganadarias em Portugal, e aliás o da terra dos “murteiras”, o de Évora. O último toiro de Galeana lidado num Concurso em Évora, foi em 2015. A ultima corrida completa que lidou no coso eborense foi em 2013, sendo que a última vez que houve “murteiras” na data tradição dessa ganadaria, a corrida de S. Pedro, foi em 2010. Diz o fado “Eu não sei que tenho em Évora...” mas afinal que tem para os Graves não irem lá?
    Dr. Joaquim Grave: Começo pelo mais recente, este ano: a empresa e, inclusivamente, o proprietário da praça, demonstraram grande vontade em levar os “murteiras” a Évora ao São Pedro. Aliás, já sabiam que quando, e se voltar a Évora, será no São Pedro. Noutra data não irei a Évora. Embora tarde, como costume, quando a empresa me contactou já tinha todos os toiros vendidos. De facto, as empresas que ultimamente têm gerido a praça de Évora, não têm tido nenhum interesse em levar os Murteiras Graves ao São Pedro, com excepção do ano passado que não se concretizou por incompatibilidade dos artistas com os meus toiros e este ano, como já disse, por se terem atrasado na abordagem. Como bem disse, desde 2010 que não há “murteiras graves” no São Pedro. Não nego que me entristece, esta ganadaria é a que mais vezes lidou no São Pedro, e olhe que foram 29 vezes, (com grande diferença de outras) e, sem falsas modéstias, julgo que o público de Évora gostaria de ver outra vez os meus toiros na sua praça. Tenho esperança que talvez em 2019 se todos estivermos de boa saúde, possa voltar a Évora. Não quero ir de qualquer maneira, têm que estar reunidas todas as condições, quer da parte dos toiros, quer da parte da empresa.

    E perspectivas para 2018? Já tem praças certas ou previstas para saírem os seus toiros?
    Dr. Joaquim Grave: Tenho 4 corridas para lidar. Duas em Portugal e duas em Espanha. Em Portugal irei a Lisboa e a Abiúl, em Espanha ainda não estão completamente definidas as praças onde lidarei. Não estou a incluir Mourão, já que se trata de uma novilhada.

    Como está a camada para esta temporada e qual o efectivo actual da ganadaria?
    Dr. Joaquim Grave: As camadas de 2017 e 2018 são as duas mais curtas que eu me lembro na ganadaria Murteira Grave, apenas 4 corridas completas. O efectivo da ganadaria neste momento é de 200 vacas de ventre.

    A beleza incontestável dos toiros de Murteira Grave 

    O último Outono, e este Inverno, não foram os propícios para quem vive do campo, com uma seca severa e prolongada. No que pode isso afectar o maneio da ganadaria e o desenvolvimento das reses bravas?
    Dr. Joaquim Grave: O maneio afecta muito, tem obrigatoriamente de se dar de comer à mão (fornecer alimentos exteriores à exploração) uma vez que não há pastagem; este facto encarece extraordinariamente a manutenção dos animais. Estou preocupado com eventuais consequências que possa ter no desenvolvimento dos toiros que se possam reflectir no comportamento em praça.

    Sente que os seus toiros se fazem pagar bem e justamente?
    Dr. Joaquim Grave: Sinto que não os pagam bem. Um toiro criado durante 4 ou 5 anos tinha que ter outro valor. Mas também tenho a noção que em Portugal não se podem esticar muito mais os preços enquanto não houver um aumento significativo de público nas praças.

    Mas acha que os empresários em Portugal não dão o valor merecido aos Toiros?
    Dr. Joaquim Grave: Não sei se dão o valor merecido aos toiros, sei que pagam pouco por eles. O ganadero não é considerado devidamente em Portugal, repare que na esmagadora maioria das praças nem sequer existe um local na trincheira para o ganadero.

    "Acho que se dão voltas em demasia"

    Há um par de anos que tem aproveitado a beleza de Galeana, e o interesse crescente pelo toiro no campo, e desenvolvido o turismo taurino na sua ganadaria. Vê isso mais como uma ajuda para contornar as despesas ou como ganadero tem esse prazer em partilhar o seu toiro com os outros?
    Dr. Joaquim Grave: Sim, é uma ajuda mais para contornar as despesas, mas não nego que gosto muito de partilhar este maravilhoso animal e faço as visitas como se fosse sempre a primeira.

    E como podem os aficionados agendar uma visita?
    Dr. Joaquim Grave: As visitas agendam-se contactando-me por e-mail e/ou telefone, que estão no site da ganadaria. Mas aqui ficam: jgrave4@gmail.com - 266 577 138.

    Campo Pequeno: uma Praça onde se impõe a presença de uma ganadaria que muito ali tem triunfado

    Há pouco falámos nalguns triunfos da sua ganadaria, e o Dr. Joaquim Grave foi dos que mais voltas deu à arena, em consequência do bom desempenho em praça pelos seus Toiros. Com a instituição do lenço azul pelos directores de corrida, para se concederem voltas à arena, passou a ser muito frequente vemos um ganadero dar volta. Acha que se desvirtuou o sentido e a exigência e são concedidas, facilmente e sem critério, voltas em demasia?
    Dr. Joaquim Grave: Há um enorme equívoco em tudo isso. Fiz parte da comissão que elaborou o novo regulamento e não passou pela cabeça de ninguém aquilo que acontece actualmente. Aliás a introdução de o director de corrida mostrar o lenço era suposto ser apenas para objectivar e sancionar uma vontade do público. O antigo regulamento, entre outras atribuições do director de corrida rezava assim:”...autorizar as voltas ao ruedo aos artistas e ganaderos quando solicitadas pelo público”. Tão simples quanto isto. Era somente isso que devia acontecer, o director de corrida interpretar a vontade do público e agir em conformidade. A essência da questão não mudou nada, nem poderia ser de outra forma. Quis-se equiparar ao que se passa em Espanha com os lenços e a concessão dos troféus. Já viu algum presidente em Espanha conceder orelhas sem o público se manifestar? Impensável. Pois aqui, tudo depende da vontade de um senhor!!!! Houve uma vez que me recusei a dar a volta. Também é complicado porque o público não está educado para se manifestar activamente. O que procuro sempre fazer é tentar perceber se o público aprova a ida à arena, mostrando-me e esperando pela reacção do público. Para lhe responder cabalmente à sua pergunta, sim, acho que se dão voltas em demasia.

    Mudemos agora para outra vertente sua, a de empresário. Desde 2014 que cabe ao Dr. Joaquim Grave a organização do espectáculo taurino que integra as Festas em Honra da Nª Sra das Candeias em Mourão, e que em 2016 passou a contar com dois festivais, denominando-se de Feira Taurina. Este ano, ao invés de edições anteriores, não temos dois festejos mistos, sendo um deles exclusivamente de matadores. É o formato que mais gozo lhe dá?
    Dr. Joaquim Grave: Sim, é o formato que mais gozo me dá. Sobretudo o segundo Festival só de matadores. O primeiro, este ano tem 2 cavaleiros, mas pode, eventualmente ter 3. Ou seja, este ano é 2 – 4 mas poderá ser também em futuras edições de 3 – 3. Não escondo a minha preferência pelo toureio a pé, mas tenho uma grande admiração também pela corrida à portuguesa e devo ter em atenção que, apesar de estarmos quase na fronteira, estamos em Portugal e sei o que o público português gosta.

    E temos dois cartéis para aficionados! No primeiro, o misto, dia 1 de Fevereiro, serão lidados novilhos de Calejo Pires. No festival de dia 4, o dos matadores, serão lidados novilhos da sua ganadaria. Que nos pode dizer dos seus novilhos para Mourão?
    Dr. Joaquim Grave: Todos os anos tenho dificuldade em conseguir em pleno Inverno, ainda mais este ano com um Outono terrível de seca, novilhos que não pareçam pequenos para o público, nem grandes para os toureiros! Os aficionados minimamente avisados sabem que as figuras não vêm a Mourão tourear novilhos com 500 Kg sem serem picados. Os novilhos estão muito bonitos, mas eu sou suspeito!

    "Há alguns cavaleiros que não se querem “mojar” tão cedo na temporada"

    É fácil montar espectáculos tão cedo, neste caso os primeiros da Temporada, quando muitos toureiros ainda se preparam fisicamente, ou no caso dos cavaleiros, ainda afinam montadas para a temporada?
    Dr. Joaquim Grave: Se falamos de toureiros a pé há muita oferta! Cavaleiros é diferente, há alguns que não se querem “mojar” tão cedo na temporada.

    E nesse sentido, acha que alguns artistas vão a Mourão como quem vai a uma “tenta” ou a um “treino”, ou pelo contrário, considera que colocou e deu aos festivais de Mourão, um lugar no calendário e uma importância, que por isso muitos desejam cá estar?
    Dr. Joaquim Grave: Francamente não penso que, hoje em dia, algum toureiro venha a Mourão como quem vai a uma tenta. Eu não tenho feito mais do que tentar dar ao público o que o público quer ver, auscultando a afluência na bilheteira. Tentar sempre que os espectáculos tenham a máxima qualidade é o que me orienta e preocupa. É gratificante ver, ou melhor sentir, que Mourão ganhou importância. Isso deve deixar a todos satisfeitos, empresário, aficionados e público em geral que sente curiosidade em vir ver o que se passa. É assim que se fazem novos aficionados.

    Festivais Taurinos em Mourão: sinónimo de Figuras e Triunfos

    Depreendendo que é para se manter ao “leme do barco” em Mourão, no próximo ano o dia 1 de Fevereiro, a data tradicional, é uma sexta-feira. E os dias 2 e 3 de Fevereiro, são dias “intocáveis” face às tradições locais por ocasião das Festas da Sra das Candeias. Voltaremos ao formato de um Festival apenas?
    Dr. Joaquim Grave: Pertinente questão Patrícia. Este ano quando tive que mudar a data do segundo festival de dia 3, o dia que eu queria, para dia 4, imediatamente me veio à cabeça que para o ano que vem, teremos o fim de semana nos dias 2 e 3, pelos vistos dias intocáveis para a festa taurina. Entristece-me que os toiros sejam sempre relegadas para parente pobre das celebrações nas nossas vilas e aldeias, quando sabemos que estão intrinsecamente arreigadas na cultura dos povos mediterrânicos da Europa do sul, nomeadamente no nosso país há muitos mais séculos que qualquer leilão. Aguardemos o que se vai passar e acataremos aquilo que o poder local, legitimamente eleito, decidir. Não concordo mas aceito o que for decidido.

    "É gratificante ver, ou melhor sentir, que Mourão ganhou importância"

    Dr. Joaquim Grave o que mais desejaria para a sua ganadaria este ano?
    Dr. Joaquim Grave: Que aumentasse significativamente a percentagem de toiros bravos de verdade nas arenas portuguesas e espanholas, que proporcionasse êxitos aos toureiros e, muito importante, que não fosse causa de nenhuma fatalidade.

    E se o seu pai ainda estivesse entre nós, que acha que ele lhe diria ou que conselho, sobre a ganadaria Murteira Grave actualmente?
    Dr. Joaquim Grave: Sem falsas modéstias, julgo que me diria: “Continua a criar e a seleccionar o toiro que tu sentes!” dando-me um grande abraço que, acredite, tenho já muitas saudades.

    O ganadero/empresário satisfeito com o sucesso que tem sido os Festivais em Mourão


    Texto: Patrícia Sardinha
    Fotografias: Florindo Piteira / Pedro Batalha / NATURALES