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    Crónica de Moura - 'É o que há!'


    'É o que há!'


    Como é apanágio nesta data, a bonita cidade de Moura engalanou-se para receber a tradicional Corrida de Toiros das suas festas em honra de Nossa Senhora do Carmo.

    Entrada forte de público (3/4 largos), noite quente e uma terna apetecível pelo conclave, mas... 'A los toros no se va a divertirse, a los toros se va a emocionarse', neste caso a 'aburrirse'. Sem pena nem glória, as duas horas e meia na castiça praça mourense custaram a passar. Sinais dos tempos, ou citando um toureiro: 'É o que há!'

    O curro de Cunhal Patrício, parelho e igualado, de traço simétrico, revelou incongruências que foram determinantes para a epítome do espectáculo. A acentuada falta de disposição e vontade, aliou-se a uma tónica crescente de mansidão, notando-se carências a nível de fijeza, entrega e mobilidade. De forma vertical, a corrida não resultou.

    Rui Fernandes, em tempos toureiro querido por estas bandas, passou inédito pelo primeiro. O 'Cunhal Patrício', de cara harmoniosa e bem posta, com 530 Kg, desde início revelou uma aparente diminuição nos membros inferiores, fazendo-se rogado nas abordagens do toureiro. Impossível. 
    Em quinto lugar saiu um abanto, que não quis lutar e optou sempre por se ocluir nos seus terrenos. Ao labor de Fernandes faltou ligação e sobretudo ortodoxia, deixando recordações pouco meritórias. 

    A Marcos Bastinhas tocou em primeiro lugar um negro mulato meano, corniaberto, com 500Kg. Superior nos compridos, com duas tiras correctas, nos primeiros dois curtos o toiro (que revelara fixação nos médios) arrancou-se pronto à chamada do cavaleiro, adiantando-se brusco e com perigo. As exigências que o cunhal impôs não foram suprimidas, resultando o labor intermitente. O burraco saído em sexto lugar, cornalão, de estatura pequena e reunido, poucas opções apresentou. Marcos revelou intenção nas abordagens, mas pouco aprumo na concretização das sortes, perfazendo um balanço inglório das suas duas prestações.

    O terceiro toiro da corrida, corniapertado, de cara pequena, terciado e algo montado, foi encastado. Nos terrenos da crença  mandou, e saiu quando quis, fazendo-o com mau estilo. João Ribeiro Telles a câmbio alternou momentos ajustados, com outros em que o acoplamento não se verificou, ficando somente dois curtos na retina. A fechar, e em sétimo lugar, saiu um cunhal patrício de fina estampa, ligeiramente acapachado e que se dispôs com mais mobilidade e codícia que os seus irmãos de camada. Com maior fijeza, várias vezes colocou a cara humilhada e com classe nos capotes, saindo com transmissão quando provocado. A sequência que Telles quis outorgar à lide não resultou redonda, repetindo-se demasiado, faltando, principalmente, estabilidade. Com o 'Ojeda', atacando o oponente, por vezes quebrou-lhe em demasia a investida, tirando brilho às reuniões, com contraste entre a assertividade e o alívio. 

    O jovem amador Joaquim Brito Paes lidou em quarto lugar um novilho da casa. De córnea baixel, nobre e repetidor, serviu para que o jovem apontasse momentos que auguram um futuro promissor. Com arestas que o tempo e experiência irão limar, denota um sentido aguerrido e lutador, e um toureio com intenção. 

    As pegas estiveram a cargo dos Amadores de Évora, São Manços e Moura, que constituíram os momentos mais rotundos da noite.

    Pelos Amadores de Évora, Afonso Mata pegou à primeira tentativa o primeiro do lote de Rui Fernandes, que pouca força ostentou, que ocasionou reunião alta mas segura, com as ajudas a entrar com eficácia. O novilho de Brito Paes foi pegado pelo jovem Francisco Abreu, que esteve correcto e desembaraçado, com o novilho a sair pronto e recto, e que fez meia voltareta com o forcado na cara; Ricardo Sousa pegou o quinto à segunda tentativa, aguentando um primeiro derrote forte onde o primeiro ajuda foi fundamental.

    Pelos Amadores de São Manços, Nuno Leão teve pela frente um cunhal patrício difícil, que no momento da reunião parava e investia pela certa, consumando à terceira; Pedro Fonseca pegou o sexto à segunda, após dobrar um colega que na primeira tentativa sofreu forte e desconcertante derrote.

    Pelo Real de Moura, Carlos Mestre esteve seguro perante um toiro que arrancou cedo e com pata, viajando por alto, com o grupo a fechar de maneira determinante; O sétimo, sério e poderoso, resultou fácil para a experiência e traquejo de Cláudio Pereira, que lhe encheu a cara e pegou com correção no primeiro encontro.

    A direção do espectáculo esteve sob Agostinho Borges, sendo de frisar que a recolha dos toiros foi feito a cavalo.  Uma noite que podia ter tido um desfecho assimétrico do real, mas... É o que há!

    Pedro Guerreiro