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    Crónica do Campo Pequeno: "São de Vila Franca e chamam-se...Forcados"


    A denominada "Corrida Surpresa" da temporada de abono deste ano no Campo Pequeno, pouco teve de surpreendente. Excepção feita ao grande desempenho dos Amadores de Vila Franca, mas que eles são bons já não é surpresa nenhuma... 

    Nas bancadas, nem ¼ nem meia casa, faltou gente mas houve uma presença forte nas bancadas, as gentes de Vila Franca.

    De jaqueta de ramagens e em solitário na arena estiveram os Amadores de Vila Franca, que justificaram em Lisboa, terem mais que argumentos para sozinhos enfrentarem os seis toiros destinados. Mais do que bons forcados da cara, o que se viu naquela noite foi um Grupo muito atento, muito coeso, solidário e poderoso de ajudas. Foram sem dúvidas os triunfadores da corrida e também foram eles que levaram emoção e público às bancadas naquela noite!

    Abriu praça o cabo Ricardo Castelo e deu o exemplo com uma pega de enormes braços, fechando-se como uma lapa à córnea do oponente. Francisco Faria sofreu um violento impacto no primeiro intento que ainda o deixou inanimado na arena. Mas isto é gente de outra fibra, minutos depois ali estava novamente de peito feito ao toiro, para reunir com decisão e confirmar uma boa pega. Rui Godinho concretizou a sua pega ao primeiro intento, aguentando os derrotes sem problemas. Vasco Pereira consumou à primeira uma pega rija com o Grupo mais uma vez a ser eficaz na ajuda. Ricardo Patusco aguentou firme a investida do toiro e também ele a consumar à primeira mais uma grande pega. E David Moreira encerrou a noite com um grande pegão, com o toiro com uma investida com raça, a derrotar alto, já meio Grupo despejado e ele a aguentar, e quando quase parece que lhe faltam as forças, todos os elementos a efectivar com decisão e coesão. Vila Franca brilhou em Lisboa.

    O curro da ganadaria Canas Vigouroux, muito bem apresentado, teve animais sérios, grandes e bonitos. Em comportamento deixaram-se, ainda que não sendo de grande mobilidade e transmissão, houve alguns a sair com raça, acabando outros por ir a menos, às vezes mais reservadotes nas reuniões mas não houve um que se dissesse sem lide ou complicado, nada disso! Não inventem… Se acaso surgiram complicações, foi quem esteve por diante deles que complicou. Foi mais reservado do curro o lidado em quinto lugar, que ao mesmo tempo, foi também uma estampa de toiro. De resto, façam-se à cara do toiro…

    E posto que tivemos mais forcados que toureiros e toiros que não viram toureiros…falta contar da parte equestre.

    Pois que assim se resume.

    Rui Salvador teve pela frente o primeiro ‘canas’, que inicialmente saiu solto, a distrair-se e que faltava no momento do ferro e teve Salvador ofício para lhe mudar os terrenos e o manter fixo na montada mas faltou o resto. Demasiadas passagens em falso, demasiada intenção para pouca efectivação. O curioso? Escutou música e teve direito a volta! Felizmente entendeu o cavaleiro não a dar. Voltou a soar a esforçada a segunda actuação do cavaleiro de Tomar. Novamente a não vencer o piton ao toiro, entremeando ferros com passagens em falso e toques na montada. E mais uma vez soou a música e lá cresceu a actuação nos últimos ferros, e cresceu também o cavaleiro ao director de corrida, que já ultrapassado o tempo regulamentar, e contra vontade, acabou por ceder a mais um ou dois. 

    O espanhol Andy Cartagena deu lição em Lisboa. Perdoem-me os ortodoxos, os puros, os que como eu, até defendem o Toureio a Cavalo à portuguesa, mas não dá… Os espanhóis são bons no que fazem e nós, nas imitações baratas, ficamos a ver e a bater palmas... Cartagena veio a Lisboa sem os exageros do rejoneio, ainda que numa vez por outra nem sempre fosse o momento do ferro o pretendido, toureou o seu primeiro com mais pureza que muitos portugueses. Sempre ligado no toiro, eficiente na brega e na escolha dos terrenos, não descurando o remate das sortes, o rejoneador teve correcta primeira actuação, onde claro, não poderia falta o número do cavalo que faz parte desta vertente do toureio mas fê-lo apenas no final da lide, não mesclando, ou melhor, não fazendo da sua actuação uma mostra de ‘habilidades equestres’ como geralmente é hábito por parte dos rejoneadores. Frente ao quinto, voltou a evidenciar muita classe a montar e um entendimento do que está a fazer, perante o mais reservado da corrida. Contudo, não houve público para este toureiro naquela noite nas bancadas, que tendo perdoado tudo aos portugueses, a ele não perdoou nada, mesmo quando esse ‘nada’, era bem mais feito que o ‘tudo’ dos nossos toureiros. E pensar que muitas vezes os vimos aplaudir de pé os ‘figurões’ do rejoneio que até ‘canitos’ com bananas escolhem para tourear em Portugal…a exigência é sempre tão diferente consoante o nome de quem monta o cavalo…

    João Telles Jr. teve duas actuações de abordagens distintas mas ambas no registo a que nos tem habituado. Se na primeira insistiu nos quiebros frente a um toiro reservadote na reunião e de pouca força, consentindo por isso algumas passagens em falso e resultando discreta a actuação, na segunda houve mais e melhores intenções. Frente a um toiro que revelou ser distraído e a descair para tábuas, o cavaleiro valorizou os cites de largo, para depois ‘repensar’ e, citando mais em curto, conseguir empolgar as bancadas com os ferros que deixou.

    Dirigiu a corrida com alguma benevolência e diferente critério o sr. Manuel Gama, assessorado pelo veterinário Dr. Jorge Moreira da Silva, numa noite que foi dos Amadores de Vila Franca.






    Por: Patrícia Sardinha