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    Crónica de Montemor - 'Esse é o tal que bate palmas?!'



    A praça de toiros de Montemor-o-Novo abriu esta tarde as suas portas pela primeira vez nesta temporada. Data esporádica, sem lugar na calendarização costumeira deste tauródromo, e que serviu para que o mesmo albergasse dois terços preenchidos das suas (a carecer de algum reparo) bancadas.

    O aliciante (tão difícil de encontrar a dosagem e os nomes certos para que esta palavra se possa aplicar num sentido real), residia em maioria no regresso da prestigiada divisa de Fernandes de Castro após 10 anos de ausência da praça montemorense, estando o restante elenco composto por Rui Salvador, Luís Rouxinol e António Brito Paes, com duelo e novo regresso nas pegas, Montemor vs Évora.


    O encerro de Fernandes de Castro, longe dos tempos 'fieros' e da sobreposição da casta acima de qualquer outro atributo, resultou heterogéneo e com várias matizes. De apresentação condigna para com o evento, apenas o terceiro não reunia as condições e presença que Montemor deve exigir, no que respeita a matéria exequível a lide, destacam-se os lidados em segundo, quarto e quinto lugar.


    Rui Salvador, datado com alternativa há mais tempo, abriu praça frente a um 'Castro' com 515Kg, de irrepreensível presença, que se predispôs móvel e com prontidão às provocações, mas revelou problemas de fixação e sítio. Rui andou abreviado, sem se acoplar aos desígnios do oponente, e sem conseguir evidenciar o seu mando, logrando bom ferro a terminar actuação.

    O seu segundo, com 490Kg, revelou bom fundo, embora tenha sido parco em recorrido. Rui andou num registo acima do anterior, contundo, nem sempre reflector da carreira que atesta. Contrastou momentos de fulgor e com destacada qualidade, com outros de menor relevância, tendo-se terminado com duas bandarilhas curtas que soaram com mais impacto nos 'tendidos'.


    Luís Rouxinol encontrou hoje em Montemor, um dos seus melhores momentos esta temporada. Para além do caracterizante virtuosismo enquanto toureiro, teve pela frente o lote de maior potabilidade da corrida. O primeiro 'Castro' que enfrentou, com 540Kg, foi um toiro franco, entregue em todas as abordagens do toureio, com nobreza e com 'fijeza'. Primeiramente, montando o 'Douro', esteve correcto nos compridos e na fase inicial da lide de curtos, continuando função com o 'Ulisses', logrando assertividade em todos os momentos chave da lide. Com o 'Antoñete' cravou um par com ortodoxia no corredor e recolheu com ambiente.

    O quinto, e como não há mau, denotou uma vincada e permanente vontade de investir, denotando acentuada transmissão, indispensável para outorgar emoção ao momento do embroque. Após duas tiras corretas com o 'Eco do Zambujal', Rouxinol aparece montado na veterana 'Viajante'... No momento, ouve-se da galeria 'Esse é o tal que bate palmas?!'. Pois..., não bate, nem precisa! No entanto, fez com que todos batessem. 'Viajante' e Luís Rouxinol encontraram, em três momentos cabais, a máxima do toureio. Embroque milimetricamente medido, com a égua a escapar de forma vibrante da investida do toiro para Rouxinol cravar com ímpeto e vibração três curtos de um nível de salutar. Voltou a sacar o 'Antoñete' e já com o toiro quase a 'rachar', voltou a deixar um par que reuniu consenso perante um ambiente muito agradável da parte do conclave de Montemor.


    António Maria Brito Paes enfrentou-se com o lote menos potável da corrida. O seu primeiro, um novilho sem cara e de feia presença, revelou-se manso, com pouca vontade de acometer e com elevada tendência em fechar-se em tábuas. O labor do jovem Brito Paes ficou condicionado pelas características evidenciadas pelo seu oponente, faltando ligação e sequência à actuação.

    A encerrar, lidou um gazapón que a espaços foi colaborante mas que nunca revelou franqueza a partir no momento da reunião. A predisposição foi outra, e os ares altos da escola equestre que Brito Paes detém ficaram comprovados, com uma brega meritória e de qualidade, concretizando as sortes de forma correcta e adornando-se com gosto e elegância. Terminou aplaudida actuação com um violino de nota positiva.


    Nas pegas residia um dos factores primordiais ao interesse da corrida... E, verdade seja dita, a sua contribuição para o sucesso e emoção do espectáculo foi fulcral.

    Pelos Amadores de Montemor, João da Câmara realizou um intento correcto no segundo encontro, com o grupo a encontrar-se sólido; Manuel Ramalho efectuou uma pega de aparente facilidade mas de meritória execução, ao primeiro intento; O jovem Luís Valério enfrentou um toiro com uma investida forte e impactante, realizando três tentativas meritórias, com o grupo a conseguir fechar com êxito na derradeira.


    Os Amadores de Évora, de volta a Montemor seis anos depois, lograram uma tarde triunfal, com três desempenhos de elevada qualidade.

    João Madeira esteve decidido e com poder, concretizando uma pega correcta à primeira tentativa; João Pedro Oliveira, com um cite sereno e uma reunião correcta, pegou na tentativa inicial; Gonçalo Pires enfrentou o último, com 560Kg e que custou a sair, mesmo após várias mudanças de terreno. O forcado aguentou na cara do animal que partiu recto e com pata, viajando com ímpeto e com a cara alta, numa tentativa longa e totalmente meritória pela vontade do forcado em ficar e pela excelente resposta que o grupo demonstrou. Após volta, Gonçalo Pires saudou dos médios, com a praça em pé.

    A corrida foi dirigida pelo Sr. João Cantinho, tendo sido abrilhantada pela Banda Filarmónica de Montemor que executou os pasodobles (fornecendo até em tabuletas o seu nome) de forma exímia.

    No início foi feito um minuto de silêncio em memória de Vicente da Câmara e de Rodolfo Rodríguez 'El Pana'.


    Pedro Guerreiro