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    Crónica de Vila Franca "(de)Pressão"


    Haveria muitos títulos a empregar à crónica da corrida de toiros que ontem se realizou em Vila Franca numa das datas de maior prestígio e mais queridas da afición não só vilafranquense, como nacional, a tradicional nocturna de terça-feira da Feira de Outubro.

    No entanto, acabei por optar pelo que mais me parece resumir toda a corrida:

    - a ‘pressão’ notória que os toureiros acusaram frente a alguns toiros mas que também lhes foi exercida por parte das bancadas;

    - a ‘pressão’ sentida na praça perante um público exigente e defraudado com algumas situações (estilo panela de pressão que a qualquer momento poderia rebentar…);

    - a ‘pressão’ que sentiu o director de corrida que ora oscilou entre o ser demasiado condescendente ora muito exigente;

    - e porque não? A ‘depressão’ com que saímos alguns da praça dadas as expectativas goradas. 

    Posto isto que há a dizer da corrida?

    Comecemos pelo que mais importa: os Toiros! A decepção e a condicionante da noite. 

    Quando se anuncia num cartel uma determinada ganadaria, obviamente que pesa a quem lê, o nome da mesma para que se possa medir o prestígio mas também tomar de exemplos anteriores corridas onde saíram, o encaste, etc… Se bem que nisto do toiro de lide, ter nome ou antiguidade, não traz bravura e muitas vezes só dá despesa. Principalmente os que vindo de longe, precedidos pela fama, se pagam a peso de ouro mas depois em comportamento custariam uma ninharia (alguns nem oferecidos). E não se podendo portanto adivinhar que ‘gatinhos’ trazem na barriga em comportamento, pelo menos exige-se, não só a quem compra como também a quem vende, que haja respeito pela apresentação dos animais, para mais quando não se trata de uma desmontável na “Aldeia Pequena” (nome fictício).

    Num apregoado duelo entre duas ganadarias conceituadas, uma espanhola (Miura) e outra portuguesa (Palha), deixaram por demais a desejar em apresentação os ‘hermanos’ (se já achámos feio o primeiro, imaginem quando saiu o segundo…), parecendo mais compostos os ‘lusos’. Já em comportamento, sinceramente…não houve surpresas. Toiros mansos, alguns encastados, a pedirem contas, bruscos, outros broncos e violentos, com sentido… Dificilmente se aguentariam aí tantos cavaleiros em pé (ou montados nos seus cavalos) se só saíssem toiros destes nas nossas praças, e mais acredito que alguns dispensaram até entrar neste cartel. E a esses provavelmente Rouxinol, Ribeiro e Salgueiro da Costa dirão neste momento: “Espertos…”.

    E a verdade é que a noite não foi fácil para os três artistas e não foram só os toiros que lhe dificultaram a vida…

    Luís Rouxinol abriu a ‘pressionada’ noite frente ao Miura mais pesado, com 600 kg e capaz de os ter, que estes toiros são delgados mas altos, compridos e com esqueleto, mas feiote de tipo, avacado e que teve comportamentos distintos durante a lide. Primeiro permitiu ao cavaleiro de Pegões a eficácia de três ferros compridos, ainda que já a dar sinais de se adiantar à montada mas consentindo perseguir nos remates, levando Luís Rouxinol a fazer fé que seria bom para o empregar nos ladeios do ‘Ulisses’. Mas não! O ‘Ulisses’ durou pouco naquela noite, e Rouxinol mudou para o ‘Átila’. Nos curtos, o toiro mostrou-se desinteressado, enquerençado e a vincar a forte capacidade para se adiantar inclusive ao pensamento de Rouxinol, que deixou a ferragem praticamente a sesgo, tendo que se fazer muitas vezes ao terreno do toiro, o que ainda lhe valeu alguns toques. Um Luís Rouxinol esforçado, suado e a provar o que por aí se diz dos Miuras “uno de los toros más ágiles que existen y más difíciles para torear”. Não foi a gosto de alguns ‘exigentes’, que protestaram ao ‘inteligente’, a concessão da música ao toureiro e no final, apesar de autorizada a volta, Rouxinol agradeceu dos médios.

    O mesmo público que na primeira actuação não se deixou convencer, na segunda valorizou a entrega (mais sincera e segura) de Luís Rouxinol frente ao Palha. O toiro, com 510 kg, montado, pequeno de tipo, também sentia preferência pelas tábuas mas foi mais fácil para o cavaleiro de o convencer a sair delas, com uma lide de grande mérito e tendo unicamente de apoio o ‘Douro’. Voltou a ser exímio na ferragem comprida, principalmente no último que cravou indo mesmo à cara do toiro. Nos curtos fez uso das capacidades toureiras e de brega da montada para o sacar de tábuas, com o toiro por vezes a ter arrancadas bruscas, a quem Rouxinol empregou uma actuação competente. A coisa estava a correr-lhe bem…até que após o segundo curto, o cavalo escorregou na cara do toiro. Mas do susto não passou e o cavaleiro deu continuação aquela que foi a actuação mais bem conseguida da noite. Rematou com um palmito e aos ‘exigentes’ não cedeu Rouxinol à exigência do par.

    Vítor Ribeiro foi a meu ver, desfortunado nesta corrida, não só pelo lote como inclusive por parte das bancadas, que indirectamente o acabaram por desmoralizar durante a sua primeira actuação. Ditou o sorteio que lhe tocasse ‘a mais feia’. Sim, feia e não feio…porque se não era, parecia vaca. Sem trapío, sem apresentação, manso, de pouca transmissão ainda que a perseguir…o toiro com 550 kg da ganadaria Miura levantou protesto nalguns sectores da já ‘pressionada’ assistência! Ribeiro fez o que pôde, como pôde e como o deixaram. Após o terceiro curto, o cavaleiro recolheu ao pátio dos cavalos certo de que poucos lhe estariam a dar atenção, mais entretidos nos pedidos de satisfação ao ‘presidente’ e ao veterinário, resultando discreta a sua actuação. 

    Quando se preparava para lidar o quinto da ordem, o Palha, viu o mesmo sair a ‘apalpar’, descoordenado e a ser devolvido aos curros. Lidou então o sobrero de Oliveira Irmãos, com 500 kg, distraído, manso e a descair para tábuas, perseguindo por vezes com pata. Evidenciou-se na brega que aplicou ao toiro, contrariando-lhe a tendência de procurar refúgio em tábuas. Cumpridor com o ‘Soneca’ nos ferros compridos, nos curtos fica-nos um bom ferro de alto a baixo, reunião cingida, indo à cara do oponente. Ainda assim, não o suficiente para que o ‘inteligente’ lhe concedesse música. Uma passagem de valor mas pouco valorizada a de Ribeiro por Vila Franca. 

    João Salgueiro da Costa teve o mais ‘bonitinho’ dos Miuras, animal mais curto, com 525 kg, e homogéneo de presença que se adiantava uma barbaridade às montadas do cavaleiro, perseguindo depois a passo após a ferragem. O jovem toureiro nunca chegou a entrosar-se totalmente com o oponente, consentindo alguns toques, citando de largo mas nem sempre ajustadas as reuniões.

    Frente ao toiro da ganadaria Palha, com 610 kg, Salgueiro da Costa voltou a não passar das boas intenções com partidas rectas ao toiro mas depois pouco acoplamento nas reuniões. O toiro também procurou as tábuas, e foi por vezes tardo de investida para depois perseguir com pata após a ferragem. Montando o Chacal, Salgueiro ainda mostrou querer dar tudo por tudo, partindo acima do toiro para cravar o primeiro curto, o que lhe valeu forte toque na montada, que só não acabou no chão porque o próprio toiro tinha pouca força. O resto, foi limitar-se a cumprir, sem romper.

    Nas pegas também os toiros foram duros numa noite a solo e de glória para os Amadores de Vila Franca.

    O cabo, Ricardo Castelo abriu a noite e provou a dureza dos Miuras. No primeiro intento, se se tivesse concretizado, tinha sido um pegão de grande registo. Aguentou a brutalidade do confronto na reunião mas não o suficiente para sozinho consumar. À segunda, ensiralhou ligeiramente e levou com um pitón pelo peito. À terceira sofre violentíssimo derrote. À quarta, e com ajudas mais carregadas, consuma então a sua pega.

    Gonçalo Salitre efectivou a sua pega à primeira e sem complicações de maior.

    Pedro Castelo, que se despedia nessa noite, concretizou à segunda com uma grande pega, depois de no primeiro intento não ter reunido com decisão.

    Também Bruno Casquinha escolheu aquela noite para se despedir, e aguentou a dureza do toiro à primeira tentativa.

    Ricardo Patusco sofreu por duas vezes a violência dos derrotes do toiro que lhe tocou, e à terceira e com ajudas, consumou bem a sua pega.

    Fechou a noite Rui Godinho muito bem à primeira, depois de um cite alegre.

    Salientar ainda, a sempre pronta e enraçada intervenção do rabejador Carlos Silva.

    Dirigiu esta corrida, com desigual critério, o sr. Lourenço Luzio, numa noite de alguns capotazos ‘a mais’, de exigência por parte das bancadas, de brilho e dureza nas pegas, de voluntariedade por parte dos toureiros, de casa cheia, e pouco mais…

    Se nos toiros existem os mansos e os bravos, então também temos as corridas boas e as más…a má já foi, que venha a boa! Mas sem pressões…