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    Corrida de Gala no Campo Pequeno: "E quando a chave cai no chapéu do Neto…"


    É das corridas mais apetecidas pelos toureiros e das mais ‘queridas’ pelos aficionados, a de Gala à Antiga Portuguesa, cujo simbolismo e 'encenação' acrescentam um pouco mais de romantismo à Festa dos Toiros, sendo a eleita para marcar o encerramento da temporada de abono do Campo Pequeno e com direito a honras televisivas.

    Agora que se finou, já se diz por aí que foi a melhor temporada no Campo Pequeno desde a sua reabertura, a mais impactante, a de maior importância... Pois se o foi ou não, não sei! Sim, recordo alguns momentos de registo... mas muito provavelmente, poucos com tanta verdade no toureio como alguns dos que se viram nesta corrida de Gala.

    Provavelmente estarão alguns já de dedo no teclado prontos a comentar nas redes sociais (onde passam os dias): "momentos de verdade com toiros daqueles?". Sim, com toiros daqueles... 'Murubismo' à parte, o curro Passanha saiu no geral bem apresentado, com pouca cara, em tipo da ganadaria. Já de comportamento foi díspar, havendo os que cumpriram os requisitos do encaste, sendo cómodos, de pouca transmissão, nobres, perseguindo a passo, e um ou outro com mais condições e enraçados. 

    Mas quando a intenção das sortes se faz frontalmente, as reuniões ao estribo e os ferros de alto a baixo?! 
    Há lá mais verdade que ir à cara de um toiro...mesmo que murube?!

    Mas o que ditou a boa sorte do espectáculo foi a chave... Diz que é pronúncio de boa corrida quando durante a representação que inicia o festejo, o director de corrida 'acerta' com a chave dos curros no chapéu que o Neto, a figura principal do cortejo, segura na mão.

    E bingo, quinta-feira Reinhardt acertou no chapéu e o pronúncio concretizou-se... Abriram-se os curros e fechou-se a temporada do Campo Pequeno com chave...de ouro!

    Foi daquelas corridas que nos fazem acreditar que a Festa ainda tem pureza mas principalmente, Futuro! Pois foram os três mais jovens do sexteto, os que mais empolgaram pela frontalidade do seu toureio.


    António Telles abriu a noite, frente a um toiro com 576 kg, cómodo, de investida curta e cadenciada, perseguindo pouco após os ferros mas sempre fixo no cavaleiro, que lhe empregou uma lide correcta, muito bafejada pela boa brega e classe que lhe são características, indo depois acima do toiro deixar a ferragem, o que ainda lhe valeu ligeiro toque. António esteve com muita disposição, por cima do oponente, destacando-se no segundo e terceiro curto. 


    Rui Salvador parecia um rapaz novo frente ao segundo da noite, animal com 612 kg, que até saíu com pata para cedo se rachar, revelando-se o mais reservado do curro, tardo de investida e a pedir redobrados esforços ao cavaleiro de Tomar. Salvador não se fez rogado e atirou-se ao toiro como se não houvesse amanhã. Evidenciou-se no primeiro curto, de alto a baixo, e no recorte que fez ao toiro depois do ferro. Na restante ferragem viu-se esforçado e com muita garra resultando a actuação reconhecida nas bancadas.






    Fermín Bohorquéz tinha bem justificada a sua presença no Campo Pequeno, dado que se irá despedir este ano das arenas, mas ainda assim fez confusão a alguns vê-lo descer do coche numa 'gala à antiga portuguesa'. O toiro foi nobre, com 562 kg, teve mobilidade, arrancando-se algumas vezes ao cite do rejoneador, que nem sempre manteve regularidade na actuação. Com sortes à tira e sem grandes alardes do rejoneio, foi cumprindo sem romper, perdendo os papéis no palmito e par, que nem ao terceiro intento conseguiu deixar completo. 







    Na segunda parte, renovaram-se os nossos espíritos. 

    Não se podia ter encerrado de melhor forma o abono de Lisboa. E Ana Batista que o diga. 

    A cavaleira, que este ano cumpre 15 anos de alternativa, foi 'chamada' à capital na última oportunidade de Lisboa, e a verdade é que valeu a pena. Há muito que Ana não se via assim. Tudo aquilo que se augurou das primeiras vezes que a cavaleira surgiu em público, foram agora uma realidade: Toureira de classe e verdade! Uma Senhora com H grande (pois ainda há quem diga que o toureio é para homens) e que teve pela frente um toiro de boas condições, que acusou na balança 606 kg. Viu no cavalo 'Conquistador' o seu companheiro ideal para o triunfo, fazendo uso dele desde o primeiro comprido ao palmito com que encerrou função. Ana foi eficaz na brega, citando em curto, aguentando para depois partir em sortes frontais, indo acima do oponente, com reuniões cingidas e ferros de muito impacto. Nem quando o toiro saiu solto, e depois que lhe pôs a vista em cima parecia que a podia surpreender, nem aí ela se deixou intimidar. Uma grande actuação para recordar.


    Também Marcos Tenório teve noite de exaltação em Lisboa e demonstrou um registo 'à Bastinhas', sendo muito comunicativo com as bancadas e por vezes demais efusivo nos gestos. Bem nos compridos, foi nos curtos e montando o Amoroso que a actuação subiu ainda mais de tom, com o toiro de 560 kg a revelar boas condições, metendo bem o piton na perseguição ao cavalo e durante os recortes que lhe fez o cavaleiro, numa eficiente brega que chegou facilmente às bancadas. Deixou três curtos de grande nota. Trocou de montada e cravou ainda um palmito que resultou mais aliviadote, rematando com um grande par de bandarilhas. 
    No fim, novamente a seguir o registo da figura paterna, apeou-se e entre gestos de braços no ar, recolheu ao pátio de quadrilhas em lágrimas, agradecido e emocionado.

    Faltava então um cavaleiro, o último, o mais novo, o menos experiente...e pensou-se: "Depois de tudo o que aqui se viu antes por parte dos colegas, na primeira praça do país e perante as câmaras da televisão, irá ele aguentar a pressão?". Aguentou e de que maneira! Luís Rouxinol Jr. foi autor de uma actuação muito séria, sem números, sem falhas, com muita calma, de grande maturidade. Foi o mais jovem dos actuantes mas demonstrou uma experiência e capacidades acima da média para quem tem apenas pouco mais de um ano de categoria de praticante. Já o tenho escrito que é possuidor de um sentido de lide como poucos e voltou a mostrá-lo. Depois de três compridos de eficiente execução, foi com o Ulisses que elevou a qualidade do seu toureio, estando bem a bregar, a deixar a ferragem em sortes frontais e ferros ajustados, não descurando os remates, levando o toiro, que colaborou e acusou o peso de 604 kg, empregue na montada que fez vista com as piruetas na cara do toiro. Arriscou-se a um ferro a sesgo, com o toiro em tábuas, e com sucesso. Terminou com um palmito e encerrou assim com chave de ouro as lides equestres de 2015 no Campo Pequeno. 

    Nas pegas mostraram-se mais rijos os 'Passanhas' e eficientes os dois Grupos de Forcados em praça.

    Por Lisboa, abriu a noite Manuel Jorge Guerreiro com uma pega efectivada ao primeiro intento. Já depois de reunir, o toiro ainda lhe baixou muito a cara, o forcado aguentou-se e o Grupo consumou. Seguiu-se Pedro Gil, que num primeiro intento se fechou brilhantemente à barbela, no entanto acabou por sair, à segunda repetiu a proeza de se fechar como uma lapa, com mérito também ao primeiro ajuda, e a pega resultou valorosa. Eurico Medronheira consumou muito bem a sua pega à segunda tentativa, fechado à córnea, depois de no primeiro intento ter rodado no piton do toiro. 

        


    Pelos Amadores de Alcochete, Nuno Santana viu o seu primeiro intento descomposto, mas à segunda fez uma grande pega, aguentando a violência dos derrotes, tendo braços e mãos para se aguentar 'preso' ao toiro uma eternidade e o Grupo coeso a efectivar. Após volta à arena com cavaleiro, foi-lhe honrada outra. António José Cardoso teve raça e valor para ir três vezes à cara do toiro, onde por duas vezes sofreu com a brutidade do toiro. Acabou por consumar à terceira e com ajudas. Fechou a noite o cabo, Vasco Pinto, que primeiro também sentiu a dureza do toiro, brusco na reunião, consumando depois à segunda numa pega tecnicamente perfeita.




    Dirigiu a corrida sem complicações o sr. Pedro Reinhardt, com a lotação da praça a ultrapassar os 3/4 de casa, numa noite que resultou de grande ambiente, encerrando-se assim em grande o abono lisboeta.

    E tudo, porque a chave caiu no chapéu do Neto...