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    EXCLUSIVO: Entrevista (2ª Parte)

    Continuação da entrevista a Diogo Costa Monteiro, Secretário-Geral da Prótoiro.





    Diogo Costa Monteiro: "Não podemos defender uma coisa que não conhecemos."



    A pergunta que se impõe é então para que querem vocês o dinheiro?O dinheiro servirá, naturalmente, para combater os problemas da Festa e que vão muito para além das ofensivas dos “anti-taurinos”.
    Precisamos dos recursos que nos permitam desenvolver uma estrutura permanente (responsável e responsabilizável) que ultrapasse os amadorismos da Festa e que a defenda, de forma profissional, em todas as suas vertentes.
    Antes de mais, não podemos defender uma coisa que não conhecemos. Podemos atacar uma coisa que não conhecemos, mas não a podemos defender.
    Assim, e primeiro que tudo, temos de estudar este sector, e estudá-lo em duas vertentes: o sector no geral e as corridas de toiros em especial.
    Os Deputados da Assembleia da República, e passo a expressão, estão-se borrifando para a nossa argumentação de que as corridas de toiros são tradição, são história, etc., porque não têm noção da realidade. Quando os quisermos convencer da importância da tauromaquia, temos que lhes mostrar números. Temos de conseguir traduzir em estatísticas a verdadeira importância da Festa de Toiros em Portugal, que é imensa! E a verdade é que, para além do número de espectáculos dados, de espectadores e de toiros lidados, não sabemos mais nada acerca do sector tauromáquico em Portugal.
    Ora, é preciso saber, antes de mais, qual a percentagem dos Portugueses que apoia esta forma de arte. Depois, é preciso saber quantos empregos é que esta actividade gera, empregos directos e indirectos, e quantas pessoas dependem, directa e indirectamente, desta actividade.
    É preciso saber quanta riqueza é gerada anualmente por esta actividade e qual a sua incidência. Ou seja, qual a real importância do sector da tauromaquia no PIB português e qual a sua importância para determinadas zonas do país. Sabemos que há regiões que praticamente dependem desta indústria, mas temos de ser capazes de quantificar essa importância.
    Precisamos de saber quantos municípios têm actividade taurina, sejam corridas de toiros, largadas, esperas ou touradas à corda. E precisamos de saber quantas pessoas participam nesses espectáculos. Ou seja, mais do que o número de espectadores nas corridas de toiros, temos de saber qual o número de espectadores de eventos que envolvem toiros.
    É preciso saber, também, qual a importância desta actividade no sistema da fauna e flora do país. Temos de saber, ao certo, quantos hectares de montado estão afectos à criação de gado bravo e que outra fauna e flora depende das ganadarias, porque há muita. O argumento da ecologia pode ser uma das nossas maiores armas. Temos de a conseguir utilizar!
    Uma vez que muitas das praças de toiros do país são propriedade das Santas Casas da Misericórdia locais, seria interessante saber qual o contributo desta actividade para acções de solidariedade.
    Também em termos turísticos desconhecemos o impacto que a Tauromaquia tem na imagem do país e na atracção de visitantes.
    Quando estivermos na posse destes dados, teremos muito mais credibilidade para falar acerca do impacto social, económico e ecológico da tauromaquia em Portugal. E quando essa altura chegar, certamente seremos ouvidos e conseguiremos demonstrar a todos aquilo que já sabemos: a tauromaquia é importantíssima no nosso país!
    Mas depois, mesmo que a tauromaquia seja, social, económica e ecologicamente boa, não será apenas por isso que ela deve ser mantida. Aí teremos de explicar às pessoas porque razão se deve promover e defender, no século XXI, um espectáculo como a corrida de toiros.
    Nesse caso em particular, temos o extraordinário exemplo que nos é dado pela plataforma francesa, o “Observatoire des Cultures Taurines”. Esta associação conseguiu juntar pessoas dos mais variados quadrantes da sociedade francesa, desde sociólogos a políticos, de agricultores a filósofos, de economistas a juristas e, juntos, têm explicado e defendido a Festa como em nenhum outro lugar do mundo. Curiosamente, ou talvez não, é em França que encontramos os melhores livros acerca da corrida de toiros e que explicam, detalhadamente, as razões éticas, estéticas, simbólicas e sociais que justificam a existência das corridas de toiros nos dias que correm. Também não é por mera coincidência que em em França, fruto deste “trabalho de bastidores” do “Observatoire”, o Presidente Sarkosy proferiu a seguinte declaração: “as touradas são cultura e nem pensem em acabar com elas”. Ora, se em França o espectáculo taurino, apesar de contestado, é compreendido e defendido pelos poderes públicos, porque não o é cá? E eles lá têm toiros em meia dúzia de localidades do Sul, que têm uma importância económica e social reduzida no global do país, ao passo que cá temos toiros em quase todo o País e a sua importância real é gigante. Ou seja, nós não estamos a conseguir passar a mensagem.
    E é por isso que, estando na posse destes elementos estatísticos e argumentativos, temos depois de trabalhar na comunicação. Temos de ter uma estratégia pensada para fazer passar a nossa mensagem e para que esta chegue a todos os sectores da sociedade, desde a população em geral, aos políticos, em especial, passando pelas empresas. E isto sobretudo nas cidades.
    E depois temos, naturalmente, que actuar sempre que os “antis” exercerem a sua influência. Isto conseguir-se-á, primeiro, desmascarando os verdadeiros propósitos dessas organizações (a causa vegan), o que acabará por as descredibilizar. Depois, expondo as lutas entre essas associações pelas “luzes da ribalta”, e que espelham o facto de estas e de os seus dirigentes só querem é protagonismo e tempo de antena, e nada melhor do que os toiros para isso… Por fim, temos de actuar directamente no terreno, seja junto do poder legislativo, administrativo ou judicial, para impedir estas ofensivas “terroristas”. Como vemos, esta última preocupação – de defesa da Festa – que hoje em dia é a mais visível e aquela que todos reclamam da PRÓTOIRO, é o menor dos nossos males. Temos muito de caminhar até estarmos realmente em condições de nos opormos eficazmente a esses movimentos.
    Recapitulando: conhecimento geral e especial do sector, comunicação, defesa da festa.
    Em conclusão, o dinheiro e o contributo que pedimos é exactamente para fazer face a estas carências:
    Teremos de pagar a uma empresa que seja capaz de analisar o sector e teremos de nos organizar para estarmos em condições de “justificar” a corrida de toiros, stricto sensu.
    Teremos de pagar a uma empresa de comunicação, que nos defina uma estratégia eficaz para passarmos a nossa mensagem e para que esta seja efectivamente ouvida pela opinião pública, em geral, e pelos poderes públicos, em particular.
    E, depois, teremos de pagar, como fazem os “antis”, a advogados e empresas que nos permitam impedir os actos perpetrados por esses, seja desmascarando-os e descredibilizando-os, seja actuando directamente junto dos poderes centrais ou locais, seja intervindo junto dos tribunais.
    E note-se que isto não tem de ser feito directamente pela PRÓTOIRO. Pode e deve ser feito pelas tertúlias, e deve ter o apoio da PRÓTOIRO. Temos recebido pedidos de ajuda por parte de grupos de aficionados. Imagine a nossa cara quando temos forçosamente de responder: “nós queríamos muito ajudar, mas neste momento não temos meios de o fazer”. É triste… É triste que não possamos ajudar, por exemplo, o Professor Marco Gomez, que tem feito um trabalho notável na divulgação da Festa junto dos jovens. O Professor já mostrou que tem vontade e que sabe fazer. Já imaginou o que poderia fazer com mais meios? E poderia dar-lhe outros exemplos semelhantes…
    Por outro lado, seria muito interessante que tudo o que aqui disse pudesse ter uma organização global, digo mundial, uma vez que existem já plataformas de defesa da Festa em todos os países com actividade taurina. Mas uma coisa de cada vez, que isso são outros voos.
    Em conclusão, numa sociedade como aquela em que vivemos, que é uma sociedade de comunicação, de aparência, ou fazemos as coisas assim, bem feitas, pensadas, começando pelo princípio, ou então não vale a pena. Quem quiser continuar a não ver isto e a assobiar para o lado, que o faça… Mas esses é que devem ser criticados e pressionados! Não aqueles que tentam começar um caminho que é longo, e que não acaba ali ao virar da esquina.

    E o que pretende a PRÓTOIRO fazer em relação a um projecto-lei da autoria da Animal onde pretendem, após recolher 35 mil assinaturas, pedir em Assembleia, entre outras coisas, o fim das Corridas de toiros?Existem, neste momento, duas ofensivas principais sobre a corrida de toiros. A primeira é a petição pública lançada pelo Partido Pelos Animais, e a segunda é o projecto-lei que refere. Para ambos a solução imediata é muito simples: temos todos de concentrar os nossos maiores e melhores esforços na petição do Dr. Moita Flores; é imprescindível que esta petição atinja o seu objectivo, que são as 100 mil assinaturas. Se esse objectivo for conseguido, os poderes públicos tomarão consciência de que há muitos portugueses que são a favor das corridas e, assim sendo, mais vale não mexer.
    Referindo-me, em particular, à petição pública do Partido pelos Animais, é um documento tão mal feito, com argumentos tão ridículos, que qualquer jurista recém-saído da faculdade a desmonta. Assim, o perigo dessa petição não advém do seu conteúdo, mas sobretudo do seu impacto mediático. De qualquer forma, temos um documento onde os argumentos dessa petição estão desmontados um por um e, se for o caso, ser-lhe-á dado publicidade. Por outro lado, assim que este partido for a eleições teremos um óptimo argumento para o descredibilizar e para descredibilizar tudo o que aí tem a sua origem. Sim, porque é evidente que terão uma votação ridícula.
    Quanto à iniciativa da Animal, não deixa de ser menos ridícula, mas é muito mais perigosa. É ridícula porque é inexequível. Altera por completo a nossa ordem jurídica, de uma forma que não vale a pena estar aqui a explicar. Portanto, o documento que todos lemos jamais será aprovado tal como está.
    No entanto, é perigosíssimo para nós porque – caso venha efectivamente a ser apresentada – os Deputados vão ser obrigados a pronunciar-se sobre ele e, aí sim, teremos a primeira discussão grande, séria e mediática em Portugal sobre as corridas de toiros. E, por tudo o que já referi, não estamos em condições de salvaguardar a nossa posição. Ora, sabemos que o que move os políticos são os votos. Assim, são facilmente manipulados pela demagogia e pelo sensacionalismo. Colocados perante imagens dramáticas, perante argumentos fundamentalistas, perante uma antropomorfização dos animais, e tudo isto transmitido por uma dúzia de pessoas que têm o dom da multiplicação e parecem ser milhares, não hesitarão em escolher o lado “anti”. E não hesitarão porque, do nosso lado, não vão ver nada senão os tão batidos argumentos da história e da tradição que, sejamos honestos, de pouco ou nada valem. A questão mudará de figura se do nosso lado surgir uma petição com 100 mil assinaturas. Pelo menos gerará na maioria dos Deputados uma dúvida e, na dúvida, tudo ficará como está e nós ganharemos tempo.
    Portanto temos de ser pragmáticos: petição do Dr. Moita Flores é o objectivo principal e o resto vem depois. Esta petição está acessível a todos na Internet. Entretanto podemos, isso sim, ir procurando chamar para a “nossa causa” alguns políticos que possam ter alguma influência nos corredores da Assembleia da República.
    Creio que esta é a visão mais realista e pragmática da situação actual.
    Esqueci-me de referir também uma coisa importantíssima e que se encaixa nesta questão: temos uma Ministra e um Secretário de Estado da Cultura que têm sido exemplos de coragem política e pessoal. Devemos prestar-lhes os maiores agradecimentos. Mas também devemos aproveitar esta “oportunidade” para fazer aprovar, já em 2011, o novo regulamento tauromáquico. É uma oportunidade de oiro que não podemos desperdiçar! Mais, caso este diploma seja aprovado, haverá certamente alguma polémica momentânea, mas essa aprovação impedirá, na minha modesta opinião, que tão cedo se volte a discutir o assunto – leia-se: na mesma legislatura.
    Resumindo, nesta corrida já levamos um atraso considerável, mas ainda não a perdemos. Também não me parece que estas propostas do PPA e da Animal possam ser, a curto prazo, uma machadada final. Mas, se nada fizermos, se permanecermos no século XIX, vamos subir à guilhotina muito mais depressa do que julgamos.



    Não acha que a iniciativa que partiu do Dr. Moita Flores, da Petição pela Defesa da Festa, ou até do fim-de-semana em Santarém dedicado com o mesmo âmbito, deveria ter sido obra vossa?Não pensámos fazer uma petição, mas a verdade é que já tínhamos acordado com o Campo Pequeno a realização de um evento semelhante, também em Outubro e, quando o estávamos a preparar, soubemos que iria ser levada a cabo esta jornada, pelo que tivemos de abortar a nossa. E ainda bem que assim foi, porque a iniciativa de Santarém foi um sucesso, diria mesmo que foi um marco e dificilmente, muito dificilmente, teríamos feito algo melhor. Pelo menos com aquela dimensão não teríamos feito de certeza. Parabéns e obrigado aos impulsionadores dessa iniciativa!



    E o que tem a PRÓTOIRO a dizer acerca do estado actual da nossa Festa? O público nem sempre corresponde, os bilhetes são caros, a qualidade dos espectáculos nem sempre é a melhor.Bem, estaria a mentir se dissesse que a Festa está pelas ruas da amargura; os números de espectáculos e de espectadores mostram que estamos numa fase de estagnação. Mas todos se queixam. Ainda bem que me faz essa pergunta…
    Aquilo que referi de termos de ter um conhecimento geral do sector não servirá apenas para defendermos a Festa dos seus ataques exteriores. Servirá também para identificarmos as suas fraquezas e problemas interiores.
    Se olharmos para a Festa por alto o que constatamos? Que os bilhetes são caros e que isso afasta o público (que tem cada vez menos dinheiro). Mas esse preço elevado não se reflecte na qualidade dos espectáculos e a verdade é que os empresários se queixam que as corridas não dão dinheiro, os toureiros que têm muitas dificuldades em manter as suas quadras, e os ganadeiros que perdem dinheiro em cada toiro que vendem. Perante isto, o que pensamos todos? Não pode ser. Mas é. E temos de conseguir perceber porquê…
    Aqui o problema da Festa é, mais uma vez, não se ter adaptado aos tempos modernos e se ter deixado ficar na década de 60 do século passado. Passo a explicar:
    Lei da oferta e da procura aplicada ao caso da tauromaquia: a procura (os espectadores e o número de espectáculos, mantêm-se), mas a oferta aumentou exponencialmente (multiplicação de empresários, de toureiros, de grupos de forcados e de ganadeiros).
    O resultado é que um ganadeiro, que antes vendia um toiro a x, hoje é obrigado a vendê-lo mais barato, ou ao mesmo preço de há 10 anos atrás o que, se tivermos em conta a inflação, vai dar ao mesmo. Isto porque, se o não fizer, o empresário vai buscar toiros ao ganadeiro do lado, portanto não há outra solução. Ou cedem e perdem algum dinheiro, ou não cedem e perdem muito mais.
    Com os toureiros é igual: ontem havia 20 toureiros, hoje há 100. E a ração e o combustível estão cada vez mais caros. É verdade que os cachets podem ter aumentado, mas o aumento foi ligeiro e não chega para cobrir estes custos.
    E com os forcados igual, embora estes sofram menos por serem amadores.
    O resultado geral na qualidade dos espectáculos adivinha-se: vem por aí abaixo.
    Mas então pensamos: se os preços dos bilhetes não desce, e nalguns casos sobe, se o preço dos toiros desce, e se o preço dos toureiros não sobe, ou sobe muito pouco… É o empresário que fica com a diferença! Errado!
    Primeiro, as rendas das praças e os custos da montagem dos espectáculos subiram bastante, o que absorve desde logo alguma dessa diferença
    Segundo e mais importante – aqui entra novamente a importância fulcral de defender a Festa – perdeu-se uma receita importantíssima que era a publicidade. Com efeito, a corrida de toiros é o único espectáculo que vive da bilheteira. Alguém julga que era possível pagar os ordenados dos futebolistas com as receitas de bilheteira dos estádios? Naturalmente que não. Já nos toiros, é preciso pagar tudo com a bilheteira.
    Ora, a Festa antes tinha uma boa imagem. As praças estavam cheias de publicidade, os toureiros eram imagens de marcas, as televisões pagavam para transmitir corridas. Havia empresas com patrocínios anuais de mais de cinco mil contos! O primeiro filme português a cores era sobre toiros!
    Hoje em dia não. A Festa tem uma péssima imagem. As empresas não querem ver os seus produtos associados a corridas de toiros, nem as suas marcas publicitadas por “bárbaros”. E este facto deve-se estranhar muito, porque as corridas de toiros são o segundo espectáculo mais visto em Portugal a seguir ao futebol. Portanto, só a nossa inércia, só o nosso desconhecimento da Festa, justifica que as empresas desperdicem propositadamente um mercado com um potencial tão elevado como o é a Tauromaquia.
    Creio que isto explica, em parte, o estado actual da nossa Festa. Depois há questões regulamentares que eu julgo que podiam ajudar, mas são da competência do Governo e não interessa abordá-las aqui.
    O que interessa e o que temos de interiorizar é que a Festa, para se manter no século XXI, tem de ser uma actividade economicamente sustentável. Para todos. E cada vez é menos. Se nada fizermos, a Festa, ao contrário do que todos pensam, vai morrer de doença, e não de assassinato. Mas poucos têm consciência desta situação e menos ainda se dão ao trabalho de pensar nela.
    E para que se possa pensar e resolver este problema é, mais uma vez, necessário pesquisar, estudar e analisar. Mais uma vez, isso não se consegue fazer de borla.
    A PRÓTOIRO pode desempenhar aqui um papel fundamental, porque reúne à mesma mesa todos os intervenientes da Festa. Mas, se quisermos que esta Federação passe das palavras aos actos, é necessário que todos se mentalizem da importância do seu contributo, e aceitem dá-lo. Sairemos todos a ganhar.




    D.C.M.: "Quando o dedo aponta para a lua, o idiota olha para o dedo”.





    O que podemos então esperar da PRÓTOIRO a curto prazo?Mais uma vez repito, ao invés de esperarem da PRÓTOIRO, dêem à PRÓTOIRO! E depois exijam! Quem não dá não tem o direito de exigir! Isto pode parecer estranho e descabido, mas não é. Ninguém colhe antes de plantar!
    E quando falo de dar à PRÓTOIRO, não falo apenas em dar dinheiro. Essa questão será resolvida – esperemos – em sede própria. Falo sobretudo em dar ajuda e em dar boa-vontade, porque francamente não me parece que a haja. Vejo críticas, que já disse que são merecidas, mas gostaria de ver um debate sério sobre as questões que aqui abordei, e que são realmente os problemas da nossa Festa. E a ver críticas, gostaria de ver criticados aqueles que não deixam este sector avançar, evoluir, adaptar-se aos novos tempos.
    Falo, também, das tertúlias. É imprescindível que elas se associem à PRÓTOIRO. As melhores iniciativas de defesa e de promoção da Festa em Portugal vêm sempre de tertúlias, da população local. Então tragam o vosso “know-how” para a PRÓTOIRO!
    Falo de exemplos como o da Frente de Acção Pró Taurina, no Facebook, que tem feito um trabalho verdadeiramente notável de divulgação e de defesa da Festa de Toiros em Portugal. Gostaria de ver esse espírito, que é dos aficionados, alastrar-se aos profissionais. Afinal de contas, são eles quem mais beneficia com isto.
    Bem, mas para responder directamente à sua pergunta: Relativamente a acções propriamente ditas, já expliquei o que falta e, portanto, a esse respeito está tudo dependente do financiamento da Federação. Mas posso-lhe dizer que, seguindo a sugestão de um membro da Frente de Acção Pró Taurina, a PRÓTOIRO está a ultimar a tradução para português do livro de Francis Wolff, intitulado “50 Razões para Defender a Corrida de Toiros”, que é um ensaio a todos os títulos notável e que espero possa estar acessível ao público em geral e que certamente contribuirá para pôr as pessoas a reflectir acerca do espectáculo tauromáquico e da razão pela qual ele deve ser defendido e incentivado nos dias que correm.
    De resto, posso-lhe prometer da parte da PRÓTOIRO tudo aquilo que é possível fazer sem dinheiro e com as mentalidades da Festa no ponto em que estão actualmente. Mais não podemos prometer.


    E desejos para 2011?Gostaria sinceramente que as mentalidades mudassem.
    Gostaria que as mentalidades daqueles que vivem da Festa mudassem. Não consigo deixar de estranhar que as iniciativas para defender a Festa partam sempre de aficionados, e raramente de toureiros, ganadeiros, forcados ou empresários (digo raramente, não sempre).
    Gostaria que as mentalidades daqueles que falam da Festa também mudassem. Só vejo crítica, por vezes insulto. E só vejo críticas destrutivas. Gostava de ver algum trabalho de investigação, gostava que fossem ao fundo das questões, que perguntassem, que se informassem e, depois, aí sim, que falassem e, se fosse caso disso, que criticassem. Porque aí fá-lo-iam com conhecimento de causa, iriam ao âmago da questão, apontariam o dedo a quem realmente merece ser apontado. Acho que há muita superficialidade e condescendência na nossa imprensa taurina.
    Gostava, no fundo, de poder ter uma Festa melhor, porque a admiro e porque me emociona. E gostava que a PRÓTOIRO pudesse contribuir para que os meus filhos e para que os filhos dos meus filhos pudessem ir aos toiros.
    E gostava que as pessoas realmente percebessem que a PRÓTOIRO é um espelho da Festa que temos, porque é composta por todos. Por isso, quanto mais fizermos, quanto mais ajudarmos, melhor isto vai correr e mais longe vamos chegar. Fica feito o apelo!

    E se me permite, queria apenas fazer uma ressalva: aceitei dar esta entrevista, em representação da PRÓTOIRO e com o incentivo dos membros da sua Direcção, porque achámos que era importante dar a conhecer certas coisas, e sobretudo porque achámos que era importante centrar as atenções naquilo que realmente interessa e que é realmente importante: mudar mentalidades. Gostaríamos que todos se preocupassem em defender a Festa e em ajudar a PRÓTOIRO a fazê-lo, e que todos percebessem que o problema não são as t-shirts, mas sim o paradigma do amadorismo que tem de ser mudado, e que quem não contribui nem deixa que essa mudança aconteça é que deve ser criticado.
    Por outro lado disse o que tinha a dizer e fi-lo sem rodeios, mas para transmitir uma ideia, não para atacar ninguém. Por isso espero que a minha mensagem tenha passado e que nunca seja obrigado a citar um provérbio chinês que diz assim: “quando o dedo aponta para a lua, o idiota olha para o dedo”.

    Obrigado e bom 2011!