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    EXCLUSIVO: Entrevista (1ª Parte)

    Por: Patrícia Sardinha

    Com ataques cada vez mais constantes e perigosos por parte dos ditos anti-taurinos, imperava a necessidade de uma organização que servisse a Festa dos Toiros. Em Maio de 2010, a 'Família Taurina' portuguesa, parou e respirou de alivío quando, com toda a pompa e circunstância, viu ser apresentada a tão esperada Federação Portuguesa das Associações Taurinas, mais conhecida por PRÓTOIRO, que visava agregar todos os intervenientes da Festa de Toiros em Portugal e cujo objectivo sería promover, divulgar, dignificar e defender a Tauromaquia. Meses depois a sensação é que afinal, continua tudo na mesma. Prestes a iniciar um novo ano taurino, questionamo-nos sobre:

    O que foi feito? Porque não se fez mais? E afinal o que pretende ser a PRÓTOIRO?

    O Naturales esteve à conversa com Diogo Costa Monteiro, Secretário-Geral da PRÓTOIRO que nos falou de tudo, numa conversa longa mas muito esclarecedora, recomendada aos que acreditam mas também aos que desacreditam no papel da PRÓTOIRO.





    Diogo C. Monteiro: "Os intervenientes da Festa são, na sua maioria, pessoas que vivem no mundo rural. Têm um profundo conhecimento da realidade, mas ainda não têm noção de que 'à mulher de César não basta sê-lo, é preciso parecê-lo'."


    Primeiro que tudo, afinal o que é a PRÓTOIRO?
    A PRÓTOIRO nasceu da necessidade de defender a Festa. Com efeito, nos últimos anos temos assistido a uma crescente onda de contestação à Festa de Toiros, onda essa que é cada vez mais organizada, profissionalizada e poderosa. Em Portugal, começou-se a sentir os efeitos reais dessa onda em 2009, quando vários municípios começaram a proibir ou a impedir a realização de corridas de toiros nas suas localidades. Houve, também, aquele célebre debate na SIC, que despertou as consciências para a necessidade imperiosa de defender a nossa Festa. Foi nessa altura que se começou a falar concretamente da criação de uma associação que assumisse o leme dessa defesa, mais precisamente numa reunião que teve lugar em casa do ganadeiro António da Veiga Teixeira e que juntou cerca de 30 pessoas dos mais variados quadrantes desta actividade. Desde essa altura que as várias associações do sector, ANGF, ANDT, APET e APCTL mantiveram contactos e assim nasceu a PRÓTOIRO – Federação Portuguesa das Associações Taurinas, em Maio deste ano.
    A PRÓTOIRO é, por isso, uma associação que tem como objectivo a dignificação, a divulgação, a promoção e a defesa das actividades taurinas em Portugal, actuando como entidade representativa e aglutinadora de todos os agentes da tauromaquia nacional. Para além deste objectivo mais imediato, a PRÓTOIRO tentará desempenhar, também, um papel activo na defesa e na promoção do mundo rural, procurando desenvolver e impulsionar a economia ligada à festa brava.


    E quem são os principais impulsionadores da PRÓTOIRO?
    De momento são as associações dos “profissionais” do sector, ou seja, a APCTL, ANGF, APET e ANDT e ainda a Tertúlia Tauromáquica Terceirense.


    Referia-me a nomes…
    A Direcção da PRÓTOIRO é composta pelos presidentes das associações que referi. Assim, compõem a Direcção da Federação João Ribeiro Telles (ANDT), João Santos Andrade (APCTL), Paulo Pessoa de Carvalho (APET), José Fernando Potier (ANGF) e Arlindo Teles (TTT). Relativamente aos demais órgãos sociais da PRÓTOIRO, a Assembleia-Geral é composta por António da Veiga Teixeira, Victor Mendes e Pedro Afra Rosa e o Conselho Fiscal por Nuno Pardal, Américo Ferreira e Joaquim Carlos Lopes.
    No que aos associados diz respeito e como já foi por demais referido, podem associar-se à PRÓTOIRO as associações que tenham personalidade jurídica e que tenham um objecto social que se coadune com o da Federação. Neste momento enviámos cerca de 30 convites a várias tertúlias dos mais variados pontos do país e a nossa esperança é que esses convites sejam aceites, pois a PRÓTOIRO está construída por forma a que as tertúlias e os grupos de aficionados tenham um peso efectivo na condução dos destinos da Federação. Sem estas adesões não haverá representatividade nem peso da PRÓTOIRO.


    Tem noção que para muita gente e falo inclusive de pessoas da Festa, a imagem que a PRÓTOIRO tem cá fora, e peço desde já desculpa pela expressão, mas é que é composta pelos ‘mesmos de sempre’, os que estão em todo o lado, que não fazem nada pela Festa e que andam sempre ao “tacho”?
    Infelizmente tenho perfeita noção disso. E também tenho noção de a quem se referem quando dizem isso, nomeadamente ao Paulo Pessoa de Carvalho e ao José Fernando Potier. Mas deixe-me dizer-lhe que essas “acusações” são de todo infundadas e visam apenas denegrir a imagem dos visados. Normalmente quem os critica é que anda “ao tacho”!
    Mas a razão pela qual a PRÓTOIRO é composta também por esses “mesmos” é muito simples: é apenas porque são sempre esses “mesmos” a darem o seu trabalho, o seu tempo e até o seu dinheiro em prol da Festa. Ou alguém julga que os “mesmos” precisam da PRÓTOIRO para alguma coisa? Os “mesmos” têm a sua actividade profissional e também não é a PRÓTOIRO que lhes traz protagonismo, pois é inquestionável que, no panorama taurino nacional, já o têm… Quem sabe e quer saber, sabe bem os sacrifícios que os “mesmos” têm feito em prol da Festa e sempre em detrimento da sua vida pessoal pois, até à data, a sua “carolice” só lhes tem trazido dissabores, como atesta aliás a sua pergunta.
    Mas, e por outro lado, essa “carapuça” também não serve à PRÓTOIRO porque, primeiro, esta Federação é constituída por associações, e não por pessoas singulares. Segundo, quem quer fazer e quem já fez pela Festa de Toiros foi desde logo convidado para a ela se associar, como é o caso da Tertúlia Tauromáquica Terceirense, que tem feito um trabalho verdadeiramente notável na defesa e na promoção da tauromaquia nos Açores e, consequentemente, no nosso país. Veja-se o recém organizado Congresso dos Ganadeiros, que foi um sucesso a todos os níveis. É por isto que o Presidente da TTT é Vice-Presidente da PRÓTOIRO. E julgo que ele não é um dos “mesmos”.
    E ainda lhe dou outro argumento que, também com o devido respeito, destrói por completo essas manifestações da “má-língua”: a PRÓTOIRO está construída num sistema aberto a todas as associações que preencham os requisitos que já referi. Todas as associações que façam parte da PRÓTOIRO, sejam elas as ditas “profissionais” ou simples tertúlias, têm direito a um voto. Ou seja, basta que três tertúlias votem num sentido, para que essa votação se sobreponha à vontade das associações que são presididas pelos “mesmos”. Portanto, estão reunidas todas as condições para que não sejam “os mesmos” a mandar. Agora só depende dos “outros”.





    D.C.M.: "Alguns julgam que as t-shirts e a festa servem para dar dinheiro a ganhar a certas pessoas e, antes que me pergunte, deixe-me esclarecer que ninguém, mas ninguém, ganhou um cêntimo que fosse com estas situações."






    A PRÓTOIRO foi lançada com toda a pompa e circunstância numa festa organizada no Campo Pequeno, mas aparentemente foi só ‘fogo de vista’. Para além de venderem t-shirts com o lema “Eu sou PRÓTOIRO” e da organização de uma festa numa discoteca, o que é que a PRÓTOIRO fez desde a sua criação?
    Fez muito menos do que gostaria, é verdade e já o admitimos publicamente.
    Mas fez uma coisa que, pelos vistos, toda a gente prefere ignorar e que é de suma importância: Fez com que figuras públicas manifestassem o seu apoio público à tauromaquia. É o caso de nomes como Nicolau Breyner, Vasco Graça Moura, Filipe Soares Franco, Octávio Machado, Paulo Portas, Teresa Caeiro, Manuel Moura dos Santos, Joaquim Letria, Carlos Manuel, Joaquim Nicolau, Sousa Cintra, Júlio Pomar, etc. É pouco? Claro que é mas… Já alguém tinha feito? Não!
    A ideia da tela, que foi propositadamente desenhada para o efeito pelo pintor Júlio Pomar, talvez o maior vulto da pintura portuguesa, foi também um marco e ainda dará que falar, sendo que milhares de pessoas aí deixaram a sua marca, dizendo claramente que são a favor da Festa dos Toiros.
    Estivemos presentes num debate do canal Regiões TV, onde pela primeira a Festa, pela mão do Coronel José Henriques, de José Fernando Potier e do Maestro Mário Coelho, foi defendida recorrendo a uma estratégia comum, com pés e cabeça.
    A PRÓTOIRO teve também uma intervenção junto da Câmara Municipal de Setúbal e que, cremos, terá contribuído para a realização da corrida naquele município e que estava em risco de ser proibida.
    E, sobretudo, o mais importante é que está criada uma organização e uma estrutura que irá permitir – assim esperamos – defender este património imaterial da cultura portuguesa que é a Tauromaquia.
    Quanto à questão das t-shirts e da festa no Konvento, as pessoas vêem o que querem ver… Como é evidente, a ideia não foi fazer propaganda fácil, mas sim conseguir algumas verbas que pudessem cobrir os custos de arranque da Federação. Como qualquer pessoa sabe, ou se não sabe devia saber, constituir uma associação custa dinheiro, é preciso fazer escrituras, registos, foi preciso pagar a festa de apresentação, foi preciso pagar a tela, transportes, etc. Tudo isso dá trabalho e, se as pessoas que estão na PRÓTOIRO trabalham de borla, a verdade é que o mundo não trabalha de borla para a PRÓTOIRO. As associações contribuíram com uma parte para cobrir esses custos, mas naturalmente que esse contributo não é suficiente. Assim, as t-shirts e a festa foram a forma encontrada de custear o arranque da Federação.
    Infelizmente alguns julgam que as t-shirts e a festa servem para dar dinheiro a ganhar a certas pessoas e, antes que me pergunte, deixe-me esclarecer que ninguém, mas ninguém, ganhou um cêntimo que fosse com estas situações. Mais: a adjudicação da produção das t-shirts foi feita por concurso, com condições idênticas para todos os concorrentes, tendo as propostas chegado por carta fechada e sido abertas na mesma altura na presença de várias pessoas. Quem produziu as t-shirts foi quem apresentou as melhores condições. Portanto, qualquer crítica feita nesse sentido é totalmente descabida e visa unicamente denegrir a imagem de quem tentou, da melhor forma que sabia, cobrir alguns dos custos que a Federação teve.
    As pessoas não compreendem isto: queremos defender a festa de forma amadora, ou queremos fazê-lo de forma profissional, como o faz a Animal, por exemplo? É que se quisermos fazer uma coisa profissional, com pés e cabeça, temos de pagar. Porque ninguém trabalha de borla…


    Mas muita da imprensa especializada tem-vos atacado e desacreditado os vossos propósitos. Acha que o fazem com razão?
    Esta pergunta vem na senda da anterior e, como tal, a resposta já está parcialmente dada.
    Em relação ao jornal Farpas (porque percebo onde quer chegar), a PRÓTOIRO tem de aceitar algumas das críticas que lhe têm sido feitas, porque realmente têm razão de ser. A PRÓTOIRO, repito, não teve este ano a intervenção que gostaria de ter tido. Mas relativamente a este órgão de comunicação, em especial, não posso deixar de manifestar uma certa tristeza por ver a forma como ele tem tratado a PRÓTOIRO e digo-o por três razões:
    Primeiro, quer-me parecer que estas críticas são motivadas por quezílias pessoais entre o director desse jornal e os Senhores Paulo Pessoa de Carvalho e José Fernando Potier. Ora, e como já expliquei, a PRÓTOIRO não se confunde com estas pessoas e, sobretudo, na PRÓTOIRO trabalham pessoas que são assim desrespeitadas sem razão, a começar pelo seu presidente, João Ribeiro Telles.
    Segundo, a PRÓTOIRO sempre teve para com o jornal Farpas a mesma postura que teve para com a demais imprensa – e de outra forma não poderia ser! A título de exemplo, o Farpas foi convidado para a apresentação da PRÓTOIRO no Campo Pequeno. O seu Director não compareceu e nada disse. Esteve presente João Cortesão, mas não sei se a título pessoal, se em representação do Farpas, pois não vimos qualquer notícia a esse respeito. Também nunca vimos publicados no Farpas nenhum dos comunicados que foram enviados para toda a comunicação social taurina. Depois, a PRÓTOIRO só é mencionada nesse jornal de forma depreciativa. Dou um exemplo: quando se começou a pensar na organização da jornada de Santarém, o Dr. Moita Flores contactou de imediato a PRÓTOIRO para que esta pudesse dar o seu contributo e associar-se ao evento. A PRÓTOIRO esteve, aliás, presente na conferência de imprensa dessa jornada, reforçando que se tratava de um momento de união. O que foi dado à estampa no Farpas? “Moita Flores aniquila PRÓTOIRO!”. E poderia dar outros exemplos, como a festa que serviu logo para dar umas “farpas” na “kambada”… Em suma, nunca vimos uma notícia, uma informação, acerca da PRÓTOIRO. Só vemos é “comentários” e considerações despropositadas, pelo que já referi…
    Terceiro, e é porventura o que mais me incomoda, é que nunca ninguém da PRÓTOIRO foi contactado oficialmente por ninguém do Farpas procurando um esclarecimento ou sequer uma informação… Mas pronto, cada um faz o que sabe, como sabe e, sobretudo, como quer…
    Relativamente à restante imprensa volto, mais uma vez, a repetir que julgo que as críticas são merecidas. Porém, também julgo que essas críticas surgem porque a opinião pública não tem uma percepção real das dificuldades que existem em erguer e em colocar a funcionar um projecto como é a PRÓTOIRO.


    Quer-nos explicar então quais são essas dificuldades?
    A maior dificuldade consiste em inverter um paradigma que existe na nossa Festa desde sempre e que se acentuou nos últimos anos, com a crescente urbanização das sociedades. Com efeito, os intervenientes da Festa são, na sua maioria, pessoas que vivem no mundo rural. Têm um profundo conhecimento da realidade, mas ainda não têm noção de que “à mulher de César não basta sê-lo, é preciso parecê-lo”.
    Em contrapartida, os “antis” sofrem do problema oposto. Sabem muito bem passar a mensagem deles e sabem que para o fazer é preciso estar organizado e ser profissional. Estas associações têm profissionais a trabalharem para eles, gente que pensa na mensagem a passar e como a passar. Pagam campanhas publicitárias, pagam a agências de comunicação para fabricarem notícias e para “aparecerem”. E não interessa nada se o que passam é verdade ou se é mentira. O importante é conseguir manipular a opinião pública em geral, e os poderes públicos em particular. Tudo a favor da causa “vegan”…
    Ou seja: temos por um lado, o conteúdo e, por outro lado, a forma. Nós temos uma mensagem que não conseguimos passar, porque não sabemos como. A mensagem deles é falsa, mas eles passam-na.
    Por isso as pessoas da Festa, principalmente os seus intervenientes, que não se interessam por aquilo que se passa nos corredores da Assembleia da República, têm de interiorizar que não interessa só ter razão, é preciso mostrar às pessoas que se tem razão.
    E era aqui que queria chegar: é necessário passar do paradigma do amadorismo, da “carolice”, da desorganização, ao paradigma do profissionalismo, da organização, da estratégia. E é isto que PRÓTOIRO tem de conseguir fazer. Sim, porque a PRÓTOIRO não serve para enviar emails a dizer bem da Festa, nem para fazer mais barulho do que os outros…
    Nós temos de estudar o sector, criar estratégias de comunicação, pensar a Festa de dentro para fora, conseguir explicar às pessoas porque razão se justifica, no século XXI, a existência de um espectáculo como a corrida de toiros. E temos de aprender a passar essa mensagem é nas cidades, nos corredores do poder central, na comunicação social, que são totalmente adversos à ideia de morte, de sangue, de luta, de violência… Uma ideia que não corresponde à verdade, mas que “antis” conseguem fazer passar, através de imagens e de adjectivos sensacionalistas.
    Mas note-se que, no Alentejo ou no Ribatejo, por exemplo, os poderes locais apoiam e incentivam a tauromaquia. Então porque será que os presidentes das Câmaras da Moita, Santarém, Alcochete, Cartaxo, Montijo, Barrancos, Vila Franca de Xira etc. não hesitam em apoiar a Festa? É uma questão de cor política? Não é, porque temos políticos a apoiarem a Festa que vão desde o Bloco de Esquerda ao CDS. A tauromaquia é, com efeito, o espectáculo mais transversal da sociedade portuguesa! É, isso sim, uma questão de conhecimento e de noção da importância da Festa. Esses políticos estão no terreno e, por isso, não precisam que lhes mostrem nada. Eles vêem e por isso apoiam. O poder central é que está desfasado e distante desta realidade. A importância da tauromaquia não chega à Assembleia da República. E é aí que temos de conseguir que ela chegue.
    Ora, para que possamos fazer isso, é necessário ter um “background” que não existe. Porque nós não sabemos como fazer isto! E as pessoas da Festa que sabem fazê-lo, que são muito poucas, não têm tempo para o fazer e, sobretudo, não estão disponíveis para o fazer de graça, porque têm os seus afazeres profissionais.
    Assim, ao invés de criticarem, sem mais, a falta de actividade da PRÓTOIRO, julgo que as pessoas se deveriam perguntar primeiro isto: “porque será que a PRÓTOIRO não faz nada?”. E a resposta é muito simples: a PRÓTOIRO não faz nada porque para fazer algo com pés e cabeça precisa de ter uma estrutura profissionalizada, estrutura essa que é preciso criar e que custa dinheiro, dinheiro esse que nós não temos.
    Por exemplo, a Mesa del Toro, que é o equivalente da PRÓTOIRO em Espanha, constituiu-se e teve um início de actividade promissor. Levou inclusivamente uma notável exposição sobre Tauromaquia a Bruxelas… Essa exposição custou, se não estou em erro, mais de duzentos e cinquenta mil euros… Nós cá começámos pelo princípio, fizemos a escritura da Federação e decidimos vender umas t-shirts para cobrir esses custos. Resultado? Fomos ridicularizados…
    A verdade é que as pessoas estão sempre prontas para criticar, mas vejo pouca gente realmente preocupada em saber o porquê das coisas serem como são. Se soubessem porquê, criticavam também, é certo, mas se calhar não criticavam as t-shirts, nem os “mesmos”, nem a falta de actividade.
    Além disso também não compreendo uma coisa: a PRÓTOIRO existe desde Maio, ou seja, existe há 7 meses. Alguém no seu perfeito juízo planta uma árvore grande e, passados 7 meses, espera que ela esteja perfeitamente desenvolvida, a dar flores e frutos? “Roma e Pavia não se fizeram num dia…”
    Enfim, e já me estou a alongar demais, gostaria de ver a gente dos toiros, e sobretudo a imprensa, a tentarem inverter este paradigma que expliquei. A tentarem perceber porque será que isto demora a arrancar. Porque não querem regar esta árvore que deverá servir para nos dar sombra a todos! Ou a PRÓTOIRO é a única árvore que não precisa de ser regada para crescer?


    É então por isso que pedem às tertúlias que se querem associar à PRÓTOIRO que paguem?
    Não. Os aficionados pagam a defesa da Festa quando pagam o seu bilhete. As tertúlias e os grupos de aficionados terão um peso efectivo na condução dos destinos da Federação e a jóia que pagam é apenas para que encarem com seriedade o facto de fazerem parte da PRÓTOIRO e para que, uma vez lá dentro, “façam uso do dinheiro que lá puseram”. Por outro lado, note-se que estamos a pedir anualmente às associações que paguem uma quota de 50 euros, o que é um valor simbólico e visa unicamente evitar que os associados deixem de tomar parte activa na vida da Federação. Este sistema verifica-se em qualquer colectividade minimamente organizada.



    D.C.M.: "A ideia instalada é que a Festa se defende sozinha e que se consegue defender por carolice, com amadorismo. E o problema é que não é fácil inverter este paradigma."

    Então como pretendem financiar a PRÓTOIRO?
    Aqui chegamos ao cerne da questão. Pelo que já expliquei, é fundamental que a PRÓTOIRO esteja dotada de verbas que lhe permitam levar a bom porto aquilo a que se propõe.
    Inicialmente, pensámos em várias hipóteses para financiar a Federação:
    Aumentar em alguns cêntimos o preço dos bilhetes dos espectáculos, sendo que esse aumento reverteria para a PRÓTOIRO, mas houve unanimidade por parte de todas as associações que concordaram que essa forma de financiamento não seria exequível por razões logísticas.
    Pensámos em financiar a PRÓTOIRO através da realização de “corridas de beneficência” mas, para além destas dependerem de factores externos, nomeadamente da disponibilidade de empresários e artistas, esta forma de financiamento seria sempre um tiro no escuro e a PRÓTOIRO não poderia viver de uma fonte pontual e irregular de receitas.
    Pensámos em “desviar” alguns dos dinheiros provenientes das transmissões televisivas para a PRÓTOIRO que, como sabemos, vai hoje essencialmente para o Fundo de Assistência dos Toureiros Portugueses e para a Associação Portuguesa de Criadores de Toiros de Lide. Esta hipótese apresenta também dificuldades por representar uma fatia importante das receitas das associações que dela beneficiam.
    Pensámos, por fim, em “cobrar” a cada interveniente num espectáculo tauromáquico uma determinada quantia, que reverteria para a PRÓTOIRO. Assim, os toureiros, ganadeiros, forcados, matadores, bandarilheiros, etc., todos contribuiriam com uma pequena parte para ajudar a preservar um património que, afinal, é o emprego da maioria deles.
    Esta última solução parece-nos ser a mais adequada e a mais justa, porque quem depende da festa deve ser o primeiro a querer mantê-la. O que não invalida que recorramos às duas hipóteses anteriores. O contributo dos aficionados é que está, definitivamente, posto de parte.



    Então já arranjaram forma de financiar a PRÓTOIRO para poderem finalmente começar a trabalhar?
    Não. Desde a criação da Federação que este tem sido o maior problema e a causa da nossa inactividade. No entanto, e não obstante a relutância em “aprovar” esta forma de financiamento da PRÓTOIRO, que dependerá da contribuição de todos os agentes da Festa, existe da parte dos presidentes das associações uma sensibilidade para a questão, e espero que todos os visados compreendam a importância do seu contributo e aceitem dá-lo.


    Com o devido respeito, essa é a primeira resposta ‘politicamente correcta’ que me dá…
    Eu sei. Gostava de lhe dar outra, mas não posso. Compreenda que, no fundo, esta é uma questão “política” que envolve interesses divergentes e, quando se fala em dinheiro, é sempre complicado…


    Mas que tipo de contribuições estão em causa? Falamos de contribuições elevadas?
    Claro que não. Falamos de contribuições que não chegam para pagar um almoço. Por exemplo, um toureiro recebe X por corrida e uma ínfima parte desse “cachet” reverteria para a PRÓTOIRO. Um ganadeiro recebe X por toiro, e uma ínfima parte desse preço iria para a PRÓTOIRO.

    Mas então qual é o problema?
    Não sei que lhe diga. Ou melhor, no fundo sei e já disse: trata-se de alterar mentalidades. A ideia instalada é que a Festa se defende sozinha e que se consegue defender por carolice, com amadorismo. E o problema é que não é fácil inverter este paradigma.
    Dou-lhe um exemplo: O Dr. Moita Flores, juntamente com os demais organizadores e com o João Pedro Bolota, conseguir convencer os principais intervenientes da importância da defesa da Festa e conseguiu que estes aceitassem, graciosamente, dar o seu contributo… Mas Deus sabe as resistências que encontrou e, mesmo assim, houve quem preferisse não ir.
    Vou tentar explicar isto recorrendo a um conceito económico: a “defesa da Festa” é um “bem público”. É um bem que, por ser de todos, não é de ninguém. Isto convida as pessoas a não contribuírem para esse bem. É como a luz do candeeiro da rua: basta que meia dúzia de pessoas paguem a electricidade para que o candeeiro se acenda e, depois de acesso, a sua luz ilumina todos, mesmo os que não pagaram a electricidade. E não se consegue arranjar forma de a luz só iluminar aqueles que pagaram. Assim, temos dois tipos de mentalidades: aquelas que acham que a luz daquele candeeiro é inútil e por isso não querem pagar a electricidade e aquelas que acham que mesmo que não paguem a luz, vai sempre haver alguém que a pague e, por isso, o candeeiro vai-se acender de qualquer maneira. Estes últimos aproveitam assim a “boleia” e o trabalho dos outros. Infelizmente, também é o que acontece na Festa. Porque, mesmo a custo de sacrifícios pessoais, há sempre uns abnegados que se recusam a desistir da luta pela defesa da Festa de Toiros. (E esquecia-me da terceira mentalidade, que são aqueles que não sabem o que é a electricidade…)
    Por outro lado, há aqui outro argumento que é bastante mais válido e que até compreendo com maior facilidade, que é o facto de as pessoas terem dificuldade em contribuir para uma coisa que não conhecem. Neste aspecto temos de dar a mão à palmatória, a PRÓTOIRO ainda não fez nada, mas quer pedir dinheiro aos intervenientes. No entanto, aos que assim pensam eu respondo: quando fundam uma empresa ou quando se lançam em qualquer actividade, primeiro colhem e depois plantam? Ou primeiro têm de investir para depois ter o retorno desse investimento? Eu primeiro vou viver para uma casa e só se gostar dela é que a pago? Ando num carro e só se gostar é que o pago? Isto não existe em parte nenhuma do mundo. Voltando aos dizeres económicos: “não há almoços grátis”.




    Mas então se o financiamento da PRÓTOIRO ainda não está definido, porque é que decidiram arrancar já com este projecto?
    Pergunta pertinente, mas a resposta também é muito simples. Se ficássemos à espera de ter isso definido antes de fazer o que quer que fosse, pode ter a certeza que nunca faríamos nada.
    Assim, demos o pontapé de saída, lançámos a primeira pedra, criámos a estrutura… Juntámos à mesma mesa todas as associações de profissionais do sector e estamos finalmente, como nunca estivemos, em condições de começar a debater e a resolver os verdadeiros problemas da Festa. Haja vontade.



    Continua...

    Não perca amanhã, a 2ª parte desta entrevista e saiba para que quer afinal a PRÓTOIRO dinheiro, o que tem a dizer sobre a iniciativa de Moita Flores de Defesa da Festa Brava, projectos a curto prazo e muito mais...