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    Reportagem da Corrida de Toiros do Campo Pequeno

    Campo Pequeno, 1 de Julho de 2010

    Fotografia: 
    Por Pedro Batalha



    Crónica:
    Por Patrícia Sardinha

    O ENGANO DOS ENGANOS

    A arte de tourear a cavalo divide-se em duas vertentes, naquilo a que se chama Toureio a Cavalo à Portuguesa, caracterizado por um toureio frontal e que é (ou deveria ser) praticado pelos cavaleiros tauromáquicos portugueses, e o Rejoneio, em que quiebros, ladeios, recortes e piruetas são imagem de marca, sendo os rejoneadores espanhóis seus exímios praticantes. Assim, os artistas vão se exibindo nas respectivas modalidades, uns mais fiéis que outros ao estilo, uns com mais qualidade que outros.

    Na passada quinta-feira no Campo Pequeno, anunciava-se um mano-a-mano entre um rejoneador, o luso-espanhol Diego Ventura e um cavaleiro tauromáquico português, João Moura Jr. No entanto, rejoneio foi só o que se viu em toda a corrida.

    Ventura é uma das máximas figuras do rejoneio, posto esse que lhe deu presunção para exigir, para além do alternante e do suposto cachet elevado, os toiros adequados para poder brilhar, os amestrados murubes de Fermin Bohorquez, que quando anunciados, não caíram bem no goto a muita gente.

    Mas muitos foram os que, sendo seguidores desta vertente do toureio, mas principalmente das qualidades acrobáticas dos cavalos dos rejoneadores, encheram por completo a Praça de Toiros do Campo Pequeno, tendo inclusive sido ‘hasteada’ a faixa Esgotado na Porta Grande mesmo no início da Corrida. Neste sentido, êxito total para a empresa do Campo Pequeno.

    Aos toiros de Fermin Bohorquez parece que lhes foi dada ‘mais corda’, quando em comparação com o curro da mesma ganadaria enviado para o Campo Pequeno a 6 de Maio deste ano. No entanto, a traça foi a mesma, sem imporem dificuldades, com alguma mobilidade, de investidas nobres e suaves, pondo-se a jeito das vontades e das capacidades dos artistas.

    Falar-vos das actuações uma a uma, de cada artista, será praticamente dar-vos a sensação de déjà vu, pois salvo raros apontamentos, a música que nos deram foi sempre a mesma. Diego Ventura vinha ao Campo Pequeno confirmar alternativa de Rejoneador (?). No seu primeiro toiro, com 546 kg, e após o primeiro ferro comprido, viu o Maletilla escorregar, tombando cavalo e rejoneador na arena, mas apesar das investidas do toiro na montada, o pior não aconteceu. Houve alguma instabilidade na ferragem, com passagens em falso, ferros falhados, mas a espectacularidade nos remates das sortes abafavam esses ‘pormenores’ e cedo se percebeu que nas bancadas isso é que transmitia. Deu uma volta à arena. No seu segundo toiro, com 502 kg, o seu toureio voltou apoiar-se exclusivamente nos quiebros e quando se insiste em mandar o toiro para fora da sorte, é natural que a rês depois não apareça na reunião e tenhamos que vislumbrar mais ferros falhados, passagens e toques na montada. Deu uma volta à arena. A sua terceira actuação, foi na minha opinião, a mais meritória de destaque. Frente a um toiro com 575 kg e a quem cravou o primeiro comprido à porta gaiola, tendo resultado descaído, Ventura deu tudo por tudo, tanto no arrimo com que se exibiu em ladeios e recortes, como na escolha das suas montadas, caso do Distinto, que citando ao toiro, recua, deixando a rês arrancar para depois num quiebro deixar o ferro. Também o Morante é cavalo estrela, a meu ver não pelas devidas razões, pois apesar de ser aquele com quem o rejoneador entra mais de frente em direcção ao toiro, é pelas ‘mordidas’ que o cavalo insiste em dar aos toiros nos remates das sortes, que tem fama,  tendo inclusive sido por isso que se ouviram as maiores ovações da noite. Enfim… No final deu três voltas à arena, na última, acompanhado pelo Distinto e pelo Morante, a quem o rejoneador atribuía o mérito da actuação.

    João Moura Jr. não foi ao Campo Pequeno para deixar créditos por mãos alheias, mas também nem sempre as coisas lhe correram de feição. Primeiro, frente a um toiro com 512 kg, cravou o primeiro comprido à porta gaiola, mas o ferro resultou muito descaído. A restante ferragem, quase tudo por quiebros, brilharam pelos remates vibrantes, com piruetas na cara do toiro a quem poucas vezes deu vantagem. Deu uma volta à arena. No seu segundo, com 505 kg, esteve correcto nos compridos. E nos curtos, com o Merlin, alvoraçou bancadas ao levar o toiro fixo na cola do cavalo, trincheira fora, como se de um capote se tratasse. A ferragem ficou no sitio, mas as reuniões, um quanto ou tanto…desajustadas. Deu uma volta à arena. No seu último toiro, com 590 kg, assistiu-se a um grande ferro, quando esperando o toiro que saiu com muita pata, lhe cravou o primeiro comprido à porta gaiola. Nos curtos, voltou a insistir nos quiebros e pouco mais ou nada se viu que não se tivesse visto antes. Deu duas voltas à arena, sendo a segunda muito voluntariosa da sua parte…depois disso, chamou Ventura à arena, ‘soltaram-se’ os homens dispostos a carregar em ombros os artistas e Moura Jr consegue a terceira volta, que a somar às voltas solitárias das outras actuações, lhe permitia abrir, tal como Ventura, a Porta Grande. E é por histórias destas…e mais alguma…que o critério da Porta Grande continua a não estar totalmente apurado.

    No que toca aos Forcados, não houve complicações. Pelo grupo de Forcados Amadores de Alcochete pegou o cabo Vasco Pinto à primeira com a rês a baixar a cabeça, quase a sentá-lo, mas sem problemas de maior; José Miguel Vinagre à primeira a aguentar bem; e Rúben Duarte também ao primeiro intento sem dificuldades. Pelo grupo do Aposento da Moita, pegou José Broega com o toiro a meter-lhe o piton no meio das pernas, mas a recompor e a consumar à primeira; Pedro Brito de Sousa à primeira com o toiro a custar a arrancar ao cite, mas depois a consumar sem problemas; e o cabo Tiago Ribeiro que podia ter feito o pegão da noite, mas que o toiro tirou da cara com os derrotes, concretizando à segunda.

    Dirigiu a corrida o sr. Agostinho Borges que não caiu no erro da facilidade na concessão de música, assessorado pelo Dr. Carlos Santos, numa corrida que terminou com um ambiente muito festivo e de êxito, onde por vezes os enganos que se fazem ao toiro trazem o engano do triunfo fácil…

    É claro como a água, que é naquilo a que se assistiu na arena por parte dos artistas, que se apoia o Rejoneio, mas os detalhes menos correctos também foram tantos, que a meu ver tiram parte do mérito. Pior é ver que o público nas bancadas se contenta, ou melhor rejubila, com pormenores que de taurinos têm muito pouco. Atrevo-me até a dizer, e relembrando-vos o título da minha crónica da corrida de 17 de Junho no Campo Pequeno “Pensava eu que ía à bola” fazendo alusão ao facto da Porta Grande estar transformada num ‘estádio’ de futebol, que desta vez houve momentos que quase parecia ter ido a outro lado...