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    Reportagem da Corrida de Toiros no Campo Pequeno

    Campo Pequeno, 22 de Julho de 2010

    Fotografia
    Por Pedro Batalha



    Crónica
    Por Patrícia Sardinha

    A UNIDADE
    Quando atravessamos a temporada a meio caminho, eis que finalmente aparece uma corrida de encher as medidas, onde dois dos ingredientes principais para que o espectáculo transmita estavam presentes, o toiro-toiro e a emoção das pegas.

    Muitas vezes critiquei nas minhas crónicas o descuro na apresentação e a má prestação de alguns curros que temos visto na principal praça do país, desta vez dou a mão à palmatória, pois na quinta-feira passada no Campo Pequeno, os toiros de Murteira Grave vieram lavar-nos a vista. De inquestionável apresentação, com idade, peso e trapio, todos cumpriram, destacando-se os lidados em quarto e sexto lugar que inclusivamente voltaram para o campo. Finalmente toiros dignos da primeira Praça.

    A par com a ganadaria Murteira Grave, os Forcados Amadores de Montemor foram os senhores da noite. Pelo segundo ano consecutivo, dispuseram-se a pegar sozinhos os toiros Graves e novamente não defraudaram. Em Portugal, existem muitos Grupos de Forcados Amadores, talvez até demais, e respeito-os a todos, até porque nem poderia ser de outra forma, pois para mim, todo aquele que se predispõe a colocar-se diante de um toiro é digno do meu maior respeito. Mas a verdade, é que há grupos e grupos, forcados e forcados…e os de Montemor, sabem ser por tradição, senhores dentro e fora de praça. E quinta-feira no Campo Pequeno, este Grupo alentejano deu uma lição. Independentemente de haver ou não perfeição na execução das pegas, este Grupo carrega todo o simbolismo da Figura do Forcado. Não houve presunção para ‘números’, não houve um forcado que puxasse do individualismo para se exibir, funcionaram com uma Unidade, enaltecendo o espírito de entre-ajuda, de sacrifício, amizade, valentia e humildade. João Tavares foi o que abriu caminho com uma pega à primeira e apesar da reunião não ter sido perfeita, soube aguentar-se como poucos na cara do toiro; seguiu-se João Cabral que citou forte ao toiro que se arrancou, com o forcado a reunir correctamente e a efectuar uma muito boa pega, destacando-se também o primeiro ajuda; Pedro Santos viu o toiro pôr-lhe alta a cara e não ficou, mas ao segundo intento consumou bem com as ajudas carregadas; João Caldeira aguentou bem e pegou à primeira tentativa; também João Romão Tavares pegou à primeira aguentando forte os derrotes; e para fechar em beleza, o cabo José Maria Cortes que citou alegre e consumou à primeira com o grupo a suportar bem.

    Os cavaleiros nessa noite foram um pouco abafados pelas estampas de toiros e pela valentia das pegas, mas também eles são dignos de enaltecer, pois ao contrário de muitas outras vedetas, não se negaram a este tipo de toiros, nem tão pouco fizeram imposição de ganadarias.

    Luís Rouxinol abriu a noite, frente ao primeiro toiro com 686 kg, bonito, grande, e talvez por isso e também por ser a primeira actuação, cumpriu com a ferragem mas não se fiou muito, com a rês a adiantar-se à montada. Na sua segunda actuação e frente a um bom toiro com 626 kg que recebeu com o primeiro comprido à porta gaiola, andou mais a gosto, com mais entrega, partindo de frente para os ferros e aproveitando as qualidades do animal, sacou do Mustang para se exibir culminando a actuação com um ferro violino e o par de bandarilhas, numa boa actuação correctíssima, que não caiu no típico epíteto de popular.

    Vítor Ribeiro foi a Lisboa para não defraudar. Primeiro frente a um toiro com 672 kg, que se atravessava nas reuniões, a ferragem comprida resultou irregular, mas nos curtos deu a volta ao toiro e conseguiu uma actuação de menos a mais, com grandes ferros. No seu segundo toiro, com 672 kg, que revelou pouca força, Vítor Ribeiro voltou a estar por cima do oponente, tentando envolvê-lo e deixando a ferragem no sítio, terminando com um ferro de palmo. Noite grande para o cavaleiro Vítor Ribeiro.

    João Salgueiro da Costa, cavaleiro praticante, tem muito bons modos mas o peso do cartel, da praça e a sua juventude, levaram a alguma precipitação nas suas actuações. Primeiro frente a um toiro com 693 kg, enorme, o jovem demonstrou garra mas a ferragem inicial resultou desigual. Nos curtos raramente deu primazia à rês, efectuou algumas passagens e ficaram-nos alguns pormenores. No seu segundo, as diferenças não foram muitas. O toiro, com 602 kg, foi nobre, mas o jovem cavaleiro não o entendeu, não o espremeu e muito ficou para ver. A ferragem resultou irregular e muitas vezes partiu ao toiro com este atravessado. Mas tem tempo para progredir, vontade e valores não lhe faltam e a sua presença nesta corrida já provou que é de fibra.

    No final volta para todos, Forcados, o Ganadeiro Dr. Joaquim Grave e cavaleiros. E apesar de não ter havido um forcado que se distinguisse dos outros, um toiro intensamente bravo…a unidade, a globalidade, tanto do Grupo como dos Toiros, seriam um bom motivo para demonstrar que não são só os cavaleiros que dão voltas à arena e que merecem uma Porta aberta.

    A praça do Campo Pequeno encheu com ¾ fortes e destaco a presença de muitos alentejanos, uns pelos forcados, outros pelos toiros e claro, alguns pelos cavaleiros também. Dirigiu a corrida sem problemas o Sr. António Barrocal assessorado pelo veterinário José Guerra. Durante as cortesias fez-se um minuto de silêncio pelo crítico taurino Saraiva Mendes recentemente falecido.

    Espero que o empresário tenha em atenção que os aficionados saíram verdadeiramente convencidos desta corrida e que passe a apostar mais na figura do toiro, em vez de perder tempo com outros pensamentos ou preocupações, que por vezes são o menos importante para que o espectáculo funcione. E digo isto porque quando os toiros são maus é fácil para os toureiros fazerem número, mas toiros bons e duros, só alguns os toureiam e serviria até esta recomendação relativa à qualidade dos curros para criar exigência no Campo Pequeno e sobre quem lá toureia.


    Vídeo: Pegas do Grupo de Montemor
    Cortesia Pedro Rodelo - Banda do Samouco