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    TEMPORADA : Crónica de uma alternativa e um pouco mais sobre Toiros


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    LISBOA (Crónica de PATRICIA SARDINHA, subdirectora de NATURALES, Correio da Tauromaquia Ibérica / Fotos de PEDRO BATALHA, jefe de Fotografía)
    Crónica de uma alternativa e um pouco mais sobre Toiros
    Campo Pequeno, 6 de Maio, 2010
    Uma das principais razões porque um aficionado se apaixona pela arte da tauromaquia deve-se ao toiro de lide, cujas características físicas e temperamentais o tornam num animal singular, que contraria a dor através da luta e do combate proporcionado na arena e que lhe confere o estatuto de bravo. Perante esta denominação, não deixa de ser curioso que o toiro de lide serve um fim humano e é resultado da selecção e manipulação genética por parte do Homem. No entanto, este domínio humano sobre o toiro de lide, e para que bem sucedido, implica que o animal seja criado mantendo as características selvagens, a agressividade, sendo o menos possível afectado pela condição humana enquanto vive no campo, para que depois em praça se revele com toda a sua bravura, assentando neste conceito a base das corridas de toiros.

    Infelizmente, essa característica que faz dos toiros de lide uma espécie única parece caminhar para a extinção. Raros são aqueles que saídos à arena se podem chamar de ‘bravos’, ou porque a genética assim o quis, ou porque os toureiros assim o impõem. E para quê? Para que haja facilidades no seu toureio e lhe garantam triunfos de mão beijada.
    Com a ascensão do rojoneio no país vizinho houve uma pretensão de se adaptar o toiro aquele estilo toureiro, com reses cómodas, paradas, por demais nobres (vulgo ingenuidade), aquilo a que outros chamariam um toiro nhoc-nhoc. A verdade é que o sucesso dos rojoneadores tem sido tanto, que muito dos nossos cavaleiros aspiram imitá-los. E se muitos consideram que o toureio tem evoluído, eu pessoalmente, creio que a única coisa que tem evoluído são as montadas, os cavalos, cada vez mais inteligentes, mais capazes de aprenderem e chegarem onde dantes não se podia chegar, mas isto não implica que haja hoje melhores cavaleiros, pois vê-se com cada coisa em praça que nem tem explicação. Existem sim cavalos que são autênticos toureiros, dando a entender que nem seria preciso o cavaleiro lá estar em cima para que eles se exibissem em praça com o mesmo sucesso. Em contrapartida o toiro de lide tem vindo a perder destaque. Para muitos aficionados o que importa são as qualidades equinas e o toiro passou a um mero papel secundário numa corrida de toiros.

    Com esta introdução toda pretendo chegar à corrida da passada quinta-feira no Campo Pequeno, uma data para a História da Tauromaquia, independentemente do seu resultado, por se tratar da Corrida de Alternativa do jovem Tiago Carreiras, que teve como padrinho o veterano Joaquim Bastinhas e por testemunha o rojoneador Pablo Hermoso de Mendoza frente a toiros de Fermin Bohorquez e para as pegas os grupos de Forcados Amadores de Évora e de Vila Franca de Xira. Os toiros foram o elemento condicionador de toda a corrida, ou melhor, o elemento facilitador. Típicos murubes, foram sonsos, reservados, de pouca mobilidade, andarilhos, para não falar de alguma escassez na apresentação, deixaram-se tourear, dando prestígio às montadas, aliás aos cavaleiros, que puderam assim brilhar sem matéria.

    Depois de uma emocionada cerimónia de alternativa, Tiago Carreiras teve sem dúvida a noite que pretendia, mais certeza disso quando lhe saiu o primeiro toiro de nome Landrozuelo, com 534 kg, um burriciego, deficiência que o jovem cavaleiro amenizou engodando-o no cavalo. Escasso de forças, o cavaleiro optou por só lhe cravar um ferro comprido e cedo apostou no seu grande trunfo, o Quirino com quem se exibiu no tipo de lide que levou o seu nome à boca dos aficionados enquanto praticante. Com a montada a dobrar-se e a desdobrar-se em recortes e ladeios que fizeram as delícias dos aficionados e frente a um toiro que consentia tudo qual irmãzinha de caridade, Tiago Carreiras foi deixando a ferragem da ordem, que nem sempre resultou perfeita com alguns ferros já a cilhas passadas. Ainda assim nas bancadas cheirou a triunfo e Tiago com facilidade deu duas voltas à arena. No seu segundo toiro, com 512 kg e mais enquerenciado, Tiago voltou a sair moralizado à arena, procurando praticar um toureio mais frontal, preocupando-se em escolher terrenos e em sacar o toiro de tábuas. No entanto a ferragem resultou irregular com alguns ferros à garupa.

    Joaquim Bastinhas cavaleiro que conta com 27 de alternativa, acusou o desgaste de quem ao longo destes anos todos se tem mantido no topo a um ritmo alucinante e com um grande número de corridas por temporada, e se aos outros até dá jeito estes toiros que não transmitem, a Bastinhas daria jeito uns com mais movimento para estarem à sua altura. Teve duas actuações muito similares, desconcertantes, com passagens em falso onde abusou da celeridade talvez para compensar a falta de movimento das reses que teve pela frente, primeiro um toiro com 544 kg, desinteressado da montada, sem grande apresentação e o segundo com 508 kg, escasso de forças e muito paradote. Ainda assim prestou-se ao seu número habitual encerrando actuações com os pares de bandarilhas e os ferros de palmo.
    Pablo Hermoso de Mendoza foi o senhor que exigiu que se lidassem estes toiros, e ser figura máxima permite esses luxos, no entanto os toiros é que não lhe permitiram grandes triunfos. Pablo é um grande equitador, tem excelentes montadas e demonstrou uma vez mais que para se praticar o rojoneio não é necessário entrar em artimanhas que de toureio têm muito pouco e que nem ao circo interessariam, talvez numa espécie de Feira dos Horrores. No seu primeiro toiro, com 532 kg, tentou brilhar com os ladeios e os recortes mas a rês não perseguia a montada. Conseguiu vir a mais graças às qualidades do Ícaro que empolgou as bancadas. No seu segundo, um toiro feio com 552 kg, sentiu mais dificuldades na escolha dos terrenos para que a rês investisse. Cravou essencialmente com entradas ao piton contrário, levando o toiro por fora. Nas suas duas actuações o rojoneador limitou-se a uma volta (inclusive recusava dar volta na segunda lide), outro qualquer no seu lugar e sob a forte ovação que se escutou teria aproveitado para bisar voltas. São estas diferenças que fazem toda a…diferença!

    No que tocou às pegas foram à cara dos toiros pelo grupo de Évora: o cabo Bernardo Patinhas à segunda tentativa com mérito do primeiro ajuda; João Pedro Oliveira à terceira depois de duas tentativas em que não se fechou; e António Alfacinha à primeira com o toiro a ensarilhar mas o forcado a recompor-se e a aguentar muito bem. Pelo grupo de Vila Franca de Xira pegaram: Flávio Henriques que consumou à terceira com ajudas carregadas; Pedro Castelo a concretizar muito bem à primeira; e Márcio Francisco também à primeira a aguentar-se muito bem numa bonita pega.
    Dirigiu acertadamente a corrida o sr. Pedro Reinhardt assessorado pelo veterinário Dr. José Manuel Lourenço numa noite em que a praça do Campo Pequeno roçou o esgotado com poucos bilhetes a não serem vendidos e o ambiente, para não variar, foi de Festa, mas faltou algo…Toiro Bravo! Valerá a pena, continuar a apostar em toiros mansos e cómodos que permitam triunfos fáceis em detrimento da bravura e da emoção do verdadeiro Toiro de Lide?