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    CAMPO PEQUENO ABRE COM UM ADEUS, crónica de la primera del 2010 en Lisboa

    LISBOA. (Crónica de Patrícia Sardinha, subdirectora de NATURALES, Correio da Tauromaquia Ibérica)
    Cada vez mais tenho a certeza que levar títulos de crónicas pensados e corridas imaginadas antes de acontecerem, é dos maiores erros que quem escreve de toiros pode cometer, porque saindo o tiro pela culatra, a desilusão será maior. Já bem dizia o outro que “prognósticos só no final do jogo” e começo a dar-lhe razão. E foi com o futebol, que a minha ilusão na noite de ontem se começou a perder. Aquela que podia ser uma ‘Noite de Glórias’ acabou por ser uma noite de derrotas e algumas desilusões.
    Colocando de vez o desporto à parte, e porque nem tudo são más notícias, a corrida de ontem e que marcou a abertura da temporada na praça de toiros do Campo Pequeno, não podia ter tido melhor mote para funcionar enquanto espectáculo, a despedida do cabo do grupo de Forcados Amadores de Lisboa, José Luís Gomes, que honrou a jaqueta do grupo durante 38 anos, e dos quais 18 os viveu como cabo, passando ontem o testemunho a seu filho Pedro Maria Gomes.
    Nas cortesias acentuou-se que a noite seria ‘do forcado’ com a presença em praça de cerca de 60 elementos do grupo de Lisboa, antigos e actuais. Ficou a faltar um minuto de silêncio em memória de António Martins Batata, ex-bandarilheiro e director de corrida, recentemente falecido, não por esquecimento da empresa mas por imposição da estação de televisão que transmitiu a corrida e a quem um minuto conta muito na programação tendo a Tauromaquia, para variar, que se subjugar aos ‘contratos’ televisivos.
    Nota máxima para a presença e apoio da política à Festa Brava! Independentemente das cores partidárias de cada um, a presença no Campo Pequeno do Presidente da Câmara de Lisboa, o Sr. António Costa e do Secretário de Estado da Cultura, Elísio Sumavielle, é sem dúvida um louvável acto de apoio à Festa e de afirmação perante a sociedade, de que a Festa Brava é, e sempre foi, Cultura. Ainda de referir que José Luís Gomes foi agraciado pela câmara lisboeta com a Medalha de Mérito Municipal de Grau Ouro e com uma placa comemorativa por parte da empresa do Campo Pequeno.
    Os toiros da ganadaria de Pégoras, de apresentação considerável, saíram justos de forças, com pouca mobilidade e não facilitaram a vida aos artistas.
    A primeira pega foi efectuada pelo homem da noite, José Luís Gomes e não podia ter tido melhor pega de despedida, com o forcado a citar com galhardia, a recuar e a concretizar uma bonita pega. Depois, lavado em emoção na volta à arena, José Luís passou a casaca ao seu filho Pedro Maria Gomes, o novo cabo, a quem coube pegar o segundo toiro da noite. Depois de uma primeira tentativa em que não suportou os derrotes, voltou a não ter sorte numa segunda, não se tendo pondo bem na cara do toiro. À terceira concretizou com as ajudas mais apertadas. Numa noite especial como esta, Gonçalo Maria Gomes, há dois anos retirado, voltou a pegar e que pegão, com o forcado a suportar a investida forte do toiro. O quarto toiro foi pegado por Francisco Mira à primeira tentativa sem problemas e correctamente. A João Vasco Lucas coube o quinto toiro que num primeiro intento desviou a rota e não consumou, tentou uma segunda vez mas faltaram ajudas e não se aguentou. À terceira e com as ajudas mais carregadas acabou por consumar. A última pega da noite coube a Pedro Miranda que aguentou sozinho concretizando uma brilhante pega.
    António Telles recebeu à porta gaiola o seu primeiro toiro, com 505 kg e que saiu com muita pata, levando-o em boa brega e parando-o no centro da arena. Depois de cravar com regularidade a ferragem comprida, viu a rês ir a menos, desinteressando-se na montada, tendo o cavaleiro que entrar em terrenos do toiro, encurtando distâncias para cravar com acerto os ferros curtos. O segundo toiro do seu lote, com 490 kg, seguiu o comportamento do primeiro, e que acabou por ser geral no curro, saindo bem e com alegria, mas indo cedo a menos. António voltou a cumprir com a ferragem comprida e com os curtos a actuação foi de menos a mais. Ressentindo-se da reserva do toiro, o cavaleiro teve algumas dificuldades para inicialmente se entender com ele, tendo falhado um ferro e inclusive sofrido um ligeiro toque na montada ao cravar outro. Conseguiu dar a volta à sorte e terminou a actuação com três grandes ferros.
    João Salgueiro teve pela frente um toiro com 520 kg que cedo foi a menos revelando-se distraído. Irregular na ferragem comprida, nos curtos exibiu-se em piruetas e deixou ferros de boa nota. No seu segundo toiro, com 556 kg, sentiu mais dificuldades, tendo que entrar em terrenos de compromisso para conseguir deixar a ferragem o que ainda lhe valeu alguns toques. No final o cavaleiro não deu volta.
    Leonardo Hernandez não entendeu o seu primeiro toiro, com 528 kg, reservado mas que se revelava brusco nas reuniões, o que lhe logrou demasiados toques. O público ainda contestou música, mas o director de corrida, no seu bom senso, não a concedeu. No último toiro da noite, com 495 kg e que pediu contas, Hernandez encontrou a mina de ouro pondo em prática o estilo toureiro que caracteriza o rejoneio, os ladeios, recortes e quiebros rematados mesmo na cara do toiro e que levantaram em delírio as bancadas do Campo Pequeno. Cravou ainda três ferros violinos. E tudo seria ‘perfeito’ não fossem os tais quiebros resultarem por demais descaídos, mas como se isso fosse importar ao público que delirou com a actuação do rejoneador espanhol e até acredito que para muita gente do público, se os ferros caíssem no chão dava-lhes igual, o que importa é a ‘vibração’ que chega às bancadas. E não estou com isto a tirar mérito ao rejoneador, que fez o papel dele, andou ao seu estilo, apenas lhe faltou alguma exactidão a cravar.
    E ainda bem que as praças enchem, é bom ter público novo nas bancadas e que vibra com as actuações, mas não estaremos a ser demasiado benevolentes com a falta de critério do público? Afinal para que tipo de aficionado caminhamos? Até que ponto este ‘desmazelo’ de se bater palmas a ferros mal colocados é bom para a Festa?
    Dirigiu correctamente a corrida Manuel Jacinto, não se deixando levar pelo público e pela pressão da corrida televisionada, a quem sempre importa transmitir uma imagem festivaleira, assessorado pelo veterinário Moreira da Silva. A praça registou cerca de ¾ de casa numa noite em que competia com o futebol, o que poderá ter tirado algum público.
    Esta foi a primeira deste ano no Campo Pequeno e espero que as próximas voltem a trazer mais e novo público que vibre com as actuações dos intervenientes, mas já agora, que vibre justificadamente.