Este domingo, 3 de
agosto, o Torrão do Alentejo (Alcácer do Sal) voltou a abrir as portas à festa
brava com uma corrida integrada na sua feira anual. Passados alguns anos de
ausência, a afición regressou em força a esta vila alentejana, proporcionando
uma tarde agradável de toiros e emoção, com temperaturas a rondar os 40º, o
sector da sombra encheu, e o do sol ficou “ás moscas”, porque uma boa corrida
de toiros quer-se com “sol e moscas”.
O cartel
anunciava seis cavaleiros: Victor Gonçalves, João Moura Caetano, Tiago
Carreiras, Parreirita Cigano, Manuel de Oliveira (praticante) e João
Gregório de Oliveira (amador). Lidaram-se cinco toiros da ganadaria São
Martinho e um de Gregório de Oliveira, a cumprirem a sua missão, mas
com diferentes níveis de exigência.
Em praça
estiveram também três valorosos grupos de forcados amadores: Tertúlia do Montijo, Safara e
Cascais, que partilharam a responsabilidade das pegas numa tarde em que
houve espaço para os mais novos se afirmarem.
Este
regresso ao Torrão trouxe também uma carga de simbolismo. Foi precisamente há
25 anos que aqui se realizou, pela primeira vez, uma corrida de toiros, da qual
tive a honra de ser um dos organizadores, a par do meu amigo José Luís
Zambujeira. Para ele foi a primeira de muitas; para mim, a primeira e última.
As corridas
em praças desmontáveis têm uma importância maior do que muitas vezes se
reconhece. São elas que permitem levar os toiros a localidades onde não existem
praças fixas, aproximando a festa das populações. Mas são também verdadeiras
escolas de aprendizagem: para os cavaleiros menos rodados, uma oportunidade de
subir degraus; para os mais experientes, a hipótese de experimentar novas
montadas ou soluções diante de toiros mais complicados. Foi o que sucedeu ontem
com João Moura Caetano, que soube, com arte e inteligência, dar a volta
a um toiro que cedo procurou refúgio nas tábuas.
As corridas
desmontáveis são ainda o espaço natural para que cavaleiros praticantes e
amadores possam dar os seus primeiros passos. Assim aconteceu com João
Gregório de Oliveira, que enfrentou o desafio acrescido de lidar com um
novilho praticamente às escuras, devido a uma falha de iluminação, mostrando
coragem e vontade de singrar na arte equestre.
Para os
grupos de forcados, este tipo de corridas é igualmente fundamental. Dá-se
oportunidade a novos elementos de se estrearem na cara dos toiros, como sucedeu
ontem, em que alguns jovens que habitualmente ficam pelas ajudas assumiram a
responsabilidade maior e mostraram bravura e entrega ao bater eles as palmas ao
toiro.
Mais do que
destacar cada atuação, importa sublinhar o essencial: as corridas em praças
desmontáveis são espaços de vivência, aprendizagem e afirmação. São elas
que permitem que muitos que sonham com a tauromaquia tenham finalmente o seu
momento.
Desde o Algarve viajou Telmo Barros que foi o Delegado Técnico Tauromáquico
(Diretor de Corrida) de serviço, deixando o espetáculo decorrer sem problemas a
registar. Nota para o cornetim de serviço, Paulo Branquinho que adorna sempre
os toques de saída com floreados que transmitem forte entusiamo às bancadas.
Por tudo
isto, o regresso dos toiros ao Torrão deve ser celebrado não apenas como
memória, mas sobretudo como esperança e projeção de futuro.
Texto e foto: Vitor Morais Besugo