A Praça de Toiros do Campo Pequeno voltou esta temporada a
abrir as suas portas a um espectáculo tauromáquico, com a realização de uma
Corrida de Toiros na noite da passada quinta-feira, 7 de Agosto, que resultou
numa praça esgotada.
Hoje, passado que está o festejo, mais do que contar o
resultado artístico em si, que teve as suas carências em qualidade, é um facto,
é preciso sim, contar a importância que esta noite teve para a Tauromaquia,
para o próprio Campo Pequeno, para o público que assistiu, mas principalmente
para o único responsável por uma noite tão festiva, de grande ambiente e
emoção. Sim, porque a Tauromaquia emociona e isso foi visível nas bancadas
repletas de gente, que aplaudiam constante e efusivamente, e que não o faziam
só (e sempre) por desconhecimento, mas sim porque vibravam, porque se
emocionavam, porque festejavam a presença de um ídolo.
Diego Ventura não toureava no Campo Pequeno há oito anos, por
culpa de quem não o contratou ou por culpa dele próprio e do que impunha…mas
foram oito anos em que um português (nascido em Lisboa mas criado em Espanha, é
certo) que é idolatrado por milhares em todo o Mundo, não actuou naquela que se
diz a Catedral do Toureio a Cavalo e com isso, perdia ele, perdiam os
aficionados, perdia o Campo Pequeno.
O seu conceito não conquista todos, e as condições dos
encastes que escolhe na maioria das vezes, também não, mas há a certeza numa
coisa, Ventura faz o que poucos conseguem fazer em Portugal, enche praças, move
multidões e, com ele, o toureio parece fácil e simples, tais as capacidades das
suas montadas. Além disso, é peça ’original’ em preconizar o rejoneio, e somos
nós, os que importamos as imitações e excluímos o Toureio a Cavalo clássico e à
portuguesa das nossas arenas.
Diego Ventura viu-se assim completamente entregue a Lisboa, emocionado diria mesmo. Nem sempre tudo lhe correu de feição, os toiros também não facilitaram (quer dizer… facilitaram, mas condicionaram), ainda assim, a leveza, o mando, a classe com que se impõe em praça e a capacidade de pôr o público no bolso com os seus feitos…falaram por si. Recebeu o primeiro com brega apertadíssima, dobrando-o logo de início, para depois por duas vezes consentir passagens em falso na colocação dos compridos e perante uma rês desinteressada. Ventura foi solvente para resolver o resto da actuação com sortes em que deu distâncias, em que as encurtou, entre quiebros e batidas cujo impacto cativam bancadas mais do que o desfecho do ferro, rematando com ladeios e um toiro a passo. Com o ‘Bronce’ encerrou função, tirando-lhe a cabeçada e deixando assim mais um ferro.
Mas foi na sua segunda actuação que fez explodir o coso lisboeta e a sua superioridade se fez evidente. Melhorou na execução dos compridos e nos curtos, com o ‘Lío’, foi primeiro dando distâncias a um toiro de pouca força e mobilidade cadenciada, que lhe serviu para impactar com as batidas tão pronunciadas que ecoam mas nem sempre beneficiam o ajuste no momento do ferro. Foi depois encurtando espaço, promovendo a investida do toiro, a passo, mantendo o registo da espetacularidade das batidas à mínima distância na cara do oponente, principalmente montando o “Quitasueños” com quem rematou a lide com três palmitos em sorte violino que deixaram o Campo Pequeno completamente rendido e aplaudindo de pé. No final, ainda lhe quiseram impor uma segunda volta ao ruedo mas Ventura, bastante agradecido, ficou-se por uma volta, e até nisso mostrou superioridade em relação a muitos que se fazem às voltas por meia dúzia de palmas.
Perante o ‘gigante’ Ventura, e numa praça cheia como estava o
Campo Pequeno, qualquer outro dos alternantes poderia acusar o peso da
responsabilidade mas nem João Telles nem Tristão Telles de Queiróz baixaram a
guarda.
João Ribeiro Telles teve uma primeira actuação assente nos cites de
largo e quiebros com uma rês andarilha e de pouca transmissão. Cumpriu com a ferragem da ordem mas sem
transcender. No segundo do seu lote viu-se mais a gosto e com maior preocupação
em lidar, perante um toiro que teve também outras condições e se permitiu por algumas
vezes a partir ao cite do cavaleiro, o que também impactou de outra forma no
momento de cravar os ferros. Por duas vezes ainda desfez a sorte, primeiro
porque o engano desvirtuou o rumo do toiro e depois porque tendo partido de largo,
e com o toiro distraído com as tábuas, fez melhor emendar do que cravar ferro
passado. Mas com a ajuda do ‘Ilusionista’ conseguiu lograr bons ferros e nem um
curto falhado já no final da lide, manchou a passagem positiva de João Telles
por Lisboa.
Tristão Telles de Queiróz foi quem inaugurou a noite por confirmar a alternativa na primeira praça do país e iniciou com um grande ferro em sorte gaiola. Mais pescado resultou o segundo, e nos curtos foi mais um executante dos cites de largo, que culminam com batidas pronunciadas e que por vezes tiram ajuste às reuniões. Falhou o primeiro curto, mas arrimou-se e resultou a actuação desembaraçada e chegando às bancadas. Conteúdo de qualidade teve a sua última actuação. Repetiu a dose do primeiro comprido em sorte gaiola, e novamente resultou num ferro de grande nota, assim como também foi bom o segundo da ordem. Nos curtos, viu-se com intenções mais rectas e sem enganos, pelo que também os ferros resultaram mais cingidos e as sortes com mais verdade. Foi de grande nota o quinto curto. Quiçá o público terá dado mais importância à efusividade da primeira lide mas esta última, foi a que teve maior correcção.
Nas pegas, dois Grupos de Forcados, os Amadores de Vila Franca e os Académicos de Coimbra.
Pelos primeiros, pegou Lucas Gonçalves à primeira e sem problemas
com o toiro a ir por direito; Rodrigo Andrade também à primeira, com o toiro a
baixar a cabeça, e dada a escassa força do animal, este acabou por cair com a
pega a dar-se por consumada desta forma; e Guilherme Dotti com uma pega rija à
primeira, aguentando-se bem.
Pelos Académicos de Coimbra, foram caras, Martins Rodrigues, que
concretizou à segunda com boa prestação do 1º ajuda; João Gonçalo também
concretizou à segunda; e António Pinto Basto, muito bem à primeira, com o toiro
a derrotar e a aguentar muito bem.
Lidaram-se toiros da ganadaria David Ribeiro Telles, pesados,
em tipo do encaste, badanudos, alguns mais avacados que outros, de pouca raça e
transmissão, sendo desconcertante a pouca força que no geral evidenciaram. Teve mais som o lidado em quinto lugar.
Dirigiu de forma assertiva o director técnico Tiago Tavares,
assessorado pelo veterinário Dr. Jorge Moreira da Silva, numa noite abrilhantada
como sempre pela Banda do Samouco e onde não faltaram no camarote principal, a presença
de deputados, presidentes de câmara e demais edilidades que foram brindados com uma pega.
A Praça de Toiros do Campo Pequeno teve assim uma noite de casa esgotada, com um público eclético de várias classes económicas e etárias, de várias nacionalidades… E a festa foi claramente do Povo e a satisfação desse a Diego Ventura se deveu. Foi por isso bem-aventurado o Campo Pequeno…com este regresso.
Patrícia Sardinha