Na última corrida de toiros a que assisti, em Alcácer do Sal, no passado domingo, houve um momento que me ficou na memória — e não foi dentro da arena.
Enquanto observava o público nas bancadas da Praça de Toiros João Branco Núncio, reparei em dois homens com traços claramente indostânicos — talvez da Índia, talvez do Paquistão, não sei ao certo. Estavam atentos, envolvidos, a filmar com os telemóveis e a viver a Festa Brava com genuína curiosidade e, arrisco dizê-lo, com respeito.
Num tempo em que Portugal acolhe cada vez mais imigrantes, vindos de culturas diversas, e em que tantas vezes se olha para “os de fora” com desconfiança ou distância, ver aqueles dois homens, integrados no ambiente e interessados numa tradição tão profundamente ligada à nossa identidade cultural, tocou-me.
Mais do que um detalhe curioso, foi um sinal. Um sinal de que a aculturação acontece — quando há abertura de ambos os lados, quando há respeito mútuo, quando há vontade de compreender e de participar.
Naquela tarde, em Alcácer, a festa foi brava… mas também foi, discretamente, um palco de inclusão.
Por Vitor Besugo