Reguengos: o primeiro Festival de um caminho que agora se inicia

NATURALES
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No passado sábado, a já centenária praça de toiros “José Mestre Batista” em Reguengos de Monsaraz, abriu as suas portas a uma temporada que se apregoa como “histórica”. E assim esperemos que o seja, pelo menos para a história da praça já fica a Associação ‘Reguengos Afición’ composta por uma mão cheia de antigos forcados, naturais da zona, que resolveram unir-se em nome da revitalização da praça de toiros e meteram, literalmente, a mão na massa.


Uma associação que, por variadíssimas razões, até pode vir a durar só o tempo devido desta gestão que lhes foi atribuída, quatro anos, pois havendo novo concurso, irão sempre aparecer os bichos-papões de alguns dos mais sabidos empresários da nossa festa, e eventualmente ’quitar-lhes’ o lugar. Mas a força de vontade e o empenho da Associação ‘Reguengos Afición’, revelada agora neste início de projecto, isso já ninguém lhes tira.


É que depois de anos a degradar-se, pois já em 2018 frisei o estado em que a praça de toiros de Reguengos se encontrava, eis que esta Associação se chega à frente e começa a dar uma nova vida ao tauródromo centenário. O adorno na barreira, um piso novo (mas já lá vamos), cada tábua da trincheira e dos curros renovada,… o suficiente para já fazer alguma diferença. Claro que ainda se viu muito por concretizar mas a primeira pedra está lançada e tal como referido pela associação ao intervalo do festejo, o principal será “voltar a dar dignidade à praça de toiros de Reguengos, devolver e envolver os reguenguenses com a sua praça”.


E essa envolvência ficou vincada ao inicio do festejo, quando a organização e o Grupo de Forcados Amadores de Monsaraz, não deixaram de relembrar um dos seus que partiu precocemente, o forcado João Marcelo Caeiro falecido em Fevereiro, através de um discurso emotivo lido pelo cabo João Ramalho, seguido do fado “Forcado de Monsaraz”, interpretado por Sebastião Beltran.


Em termos dos espectáculos montados, se vão ser históricos ou não, vamos ver. Os cartéis apresentados no final de Fevereiro, têm os seus ‘encantos’ para variados gostos, mas tudo vai sempre depois depender da arte posta em prática e do comportamento dos toiros.


Para já, do primeiro Festival Taurino, e o saldo pode ser considerado positivo. Num dia de ameaça (concretizada) de chuva, o público correspondeu com meia casa forte, as reses no geral deixaram-se todas sem complicar, os artistas uns mais dedicados que outros…e a coisa viu-se bem, até porque estamos no inicio da época e damos sempre alguma ‘tolerância de ponto’.


Em termos artísticos, saliento duas condicionantes: o piso e a chuva. Se o primeiro condicionou a disposição dos primeiros artistas, a segunda apareceu a meio do festejo e não foi impedimento para que os mais novos do cartel se entregassem mas fez sim com que o público já ficasse mais disperso de atenção (alguns saíram mesmo antes do espectáculo terminar).


A arena, que tinha estado protegida toda a semana das fortes chuvadas dos dias anteriores, e aparentemente estava bem apresentada, acabou por se revelar perigosa para as montadas, pelo que após a primeira lide, e protestos dos artistas (que não se lembraram disso à hora do sorteio), fez com que tivéssemos que assistir uns bons minutos ao número do tractor a passar o piso (acontece nas melhores praças…).


Manuel Telles Bastos apanhou um susto com uma queda logo ao início da sua função e daí em diante não se atreveu a muito mais. Marcos Tenório ‘Bastinhas’, e apesar de então já ter por lá passado o tractor, aproveitou a deixa do piso, já que também ele próprio ameaçou uma queda, e não se fez muito confiado. Entreteve com as piruetas e o cavalo a empinar, ao gosto para muitos nas bancadas, mas cedo deu por terminada a lide. Luís Rouxinol Jr. evidenciou em Reguengos o profissionalismo e a entrega que já lhe são habituais; António Prates teve actuação em crescendo, com mais correcção na ferragem curta; Antonio Telles Filho andou solvente e convenceu; e já debaixo de muita chuva, a praticante Mariana Avó, não baixou a guarda e mostrou vontade e desembaraço entre alguns altos e baixos normais em quem começa.


Nas pegas, pegaram pelos Amadores de Monforte, João Pedra à primeira tentativa na que foi também a sua primeira vez a pegar em praça; e João Ruivo muito bem também à primeira. Os Académicos de Elvas optaram por uma pega de cernelha, por intermédio de Pedro Escorião e José Pedro Silva, que tardou a ser tentada com o toiro a não encabrestar mas depois, afinal, não deu problemas de maior; e João Carlos Messias à quarta tentativa com ajudas carregadas. Pelos Amadores de Monsaraz, pegaram André Claudino, com uma boa pega à primeira; e Gustavo Perdiz, a fechar com decisão também à primeira tentativa.


Lidaram-se novilhos de diversas ganadarias no geral cumpridores mas díspares em apresentação: Falé Flipe (1º de bom jogo; 5º mais montadote e distraído); Passanha (toiro já com quatro anos e mais presença, de córnea fechada o que lhe condicionou por vezes o comportamento); Eng. Luís Rocha (3º que cortava caminho a querer emparelhar com o cavalo; e 4º pequenote mas com boas condições); e Gregório Oliveira (6º também a dar bom jogo).


Dirigiu o festejo Domingos Jeremias, assessorado pelo veterinário Jorge Moreira da Silva.


Em Reguengos ainda há muito por fazer mas o caminho ainda agora se iniciou…



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Hoje 12, Abril 2025