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    Opinião: “Empresário (bom) procura-se”

     


    Não, não venham à espera de ler aqui mais uma crucificação à ainda empresa de Vila Franca. Pelo contrário, lamento imenso que este tenha sido o desfecho, pelos aficionados, pelos empresários e pela própria Praça de Toiros Palha Blanco.

    Também não pretendo vir pronunciar-me sobre o cancelamento da corrida de toiros do passado domingo, nem procurar os culpados. Primeiro porque não estive presente para validar a verdade; segundo porque não foi a primeira vez (nem segunda, nem terceira…) que um festejo tauromáquico foi cancelado no próprio dia, pois chova dentro ou fora da bilheteira, são muitos os empresários que se fazem valer de várias (in)justificações para cancelar espectáculos; E terceiro, porque já praticamente meio mundo regurgitou sobre o tema, até porque agora, as “redes” permitem que todos tenham opinião, mesmo os que sem ser virtualmente, não sabem ter dois dedos de conversa. 

    Mas não posso ficar imune a alguma injustiça que tenho lido por aí. E mais, receio pelo futuro próximo das temporadas na Palha Blanco.

    Se a Tauroleve foi nos últimos anos a empresa “perfeita” para Vila Franca? Não o foi, mas terá sido certamente a ideal para a praça em questão e tendo em conta o ‘naipe’ empresarial luso da actualidade. 

    Se a Tauroleve acertou sempre nos cartéis? Nos cavaleiros? Nos matadores? Nas ganadarias? Talvez não… mas isso já é defeito geral dos nossos empresários tauromáquicos, e de verdade, nunca se pode agradar a gregos e a troianos.

    Se a Tauroleve errou com a situação da corrida cancelada?… Quiçá, porque tudo que seja para lesar o aficionado, correcto não estará!

    Ainda assim, prefiro pensar como um todo, e não cingir a prestação da Tauroleve ao que aconteceu nesta Feira de Outubro.

    E sendo vilafranquense, poucos teriam a sensibilidade e o respeito devido para com a Palha Blanco, como a teve o empresário Ricardo Levesinho nestes últimos anos. Certamente para ele, isto não foi só ser empresário taurino, isto foi acima de tudo ser empresário taurino da sua terra, na sua Vila Franca. Pelo que a responsabilidade era acrescida. 

    E quantos momentos mágicos não se viveram nestas temporadas na Palha Blanco pelas mãos da Tauroleve? Eu recordo bastantes… no entanto, para a maioria tudo parece agora esquecido. E quando é para “bater” fazem fila, num misto de hipocrisia, como se os males da Festa estivessem concentrados em Vila Franca e na sua, ainda, empresa gestora. 

    Isto nada mais reflecte que a pequenez do dito aficionado português, que sempre se aproveita de uma situação infeliz, para fazer memória curta e vista grossa a tantos outros males de que padece o nosso meio taurino e, por conseguinte, na gestão empresarial. 

    Andamos a comer “mal”, e a pagar bem por isso há muito tempo, não é de agora. 

    Aliás, este episódio do passado domingo, foi um entre muitos que teve apenas a má sorte de se ter tornado público. Mas sabe Deus Nosso Senhor e a Virgem Macarena, a carrada de vigarice, de bois trocados em cima da hora; de bois sem peso nem corninhos e que mesmo assim saem à praça; da falta de palavra dos artistas e dos empresários; de quem se infiltra nos cartéis a troco de nada, só para estar e dizer que toureia, ou até de quem paga para estar; de (muitos) pagamentos em atraso ou honorários reduzidos mais do que o combinado, para fazer o jeito a uma praça vazia; isto para não falar da pobreza de um toureio muitas vezes repetido e sem emoção na arena…

    Enfim, tantas e tantas situações de uma Tauromaquia para a qual escasseia a seriedade e sobra a chica-espertice.

    Portanto, não me venham agora descobrir a pólvora em Vila Franca! Porque da desmontável à de primeira, o que não faltam são novelas…

    Mas de tristezas não reza a história.

    Agora, e fazendo fé da desistência da Tauroleve ao leme da Palha Blanco, e havendo concurso, adivinham-se vários candidatos e esperemos que reine a sensatez na escolha de entre os que se venham a perfilar.

    Se acaso mandasse eu na Santa Casa, responsável pela Praça, o anúncio deveria ser qualquer coisa do género:

    “Empresário (bom) procura-se” 

    Perfil:
    Aficionado. (requisito obrigatório)
    Honesto e responsável.
    Homem/Mulher de palavra.
    Visão taurina e sensibilidade artística.
    Apaixonado e conhecedor do Toureio a Pé.
    Que dê primazia ao Toiro: bravo e com trapio.
    Não tenha ideologias de vir fazer “experiências” para a Palha Blanco.
    Não seja apologista da troca de cromos pelo que se privilegia o empresário ‘não apoderado’.

    Oferecemos:
    Uma praça de toiros centenária que merece ter categoria, exigência.
    Um Público ávido por profissionalismo e grandes espectáculos tauromáquicos.

    Haverá candidatos nestas condições?! 
    Pois… 

    Termino novamente escrevendo que tenho pena do ao que chegámos, pelos empresários, pela Palha Blanco e pelos aficionados. A Tauromaquia não merecia. 

    Mas não, não crucifico os ‘Levesinhos’. Pelo contrário, ficarei a aguardar que, e como já aconteceu antes, regressem um dia à Palha Blanco. Façam como digo ao meu filho, quando no meio de uma frustração, cai prostrado e chora: é levantar, sacudir e…tentar de novo!







    Texto: Patrícia Sardinha 
    Fotografia: Tauroleve.pt