Ver chegar o dia 1 de Janeiro, é
não só motivo de renovação na esperança num novo ano, como serve também para
nos animar à chegada de uma nova época tauromáquica com o anúncio dos primeiros
cartéis que compõem os Festivais Taurinos em Mourão.
E o bom do defeso é também isso,
o ganharmos saudade e fome de toiros mas também o dar-nos tempo para podermos
repensar a Tauromaquia que temos, que queremos e (achamos) que merecemos…
Nem sempre depois, com o
desenrolar da época, isso se verifica. Pelo menos para alguns aficionados como
eu, que não nos contentamos com o satisfatório, com o mais do mesmo, com a
falta de rigor e de exigência… Mas depois lá vem novamente o defeso, a cabeça
‘limpa’… e vem também Mourão!
Mourão que, além de ser a minha
terra e por isso ainda mais me envaidece e enche de ilusão aguardar por saber o cartel do
Festival da Senhora das Candeias, é também já um marco na Temporada Taurina
portuguesa e não só.
O dia 1 de Fevereiro, para qualquer mouranense, sempre foi uma data aguardada e especial por ditar o primeiro
de três dias da Festa em Honra da Padroeira. O dia em que a festividade
religiosa e a festa tauromáquica acontecem em simbiose, desde os tempos idos em
que havia a antiga “vacada”, cujo final culminava com a morte em praça do
‘toiro de Nossa Senhora’ (o maior saído nessa tarde à arena), e cuja carne era
à noite distribuída ou vendida, pela população. Tradições perdidas, adaptadas
aos tempos correntes, e substituídas pelo formato de Festival Taurino que em
boa hora deu maior importância à Tauromaquia em Mourão.
Hoje, para o público e afición em
geral, não marcar presença nos Festivais Taurinos em Mourão no início de
Fevereiro, é quase estigma de mau aficionado. Pelo que estar, impera! E assim,
a vila primeira em Portugal na margem esquerda do Guadiana, agora convertido
naquela zona ao lago de Alqueva, enche-se de gente ali nascida e de forasteiros
para festejar a Senhora das Candeias e a abertura da Temporada em Portugal.
Sim, não é de agora que no
festival de Mourão se vislumbram Figuras do Toureio, sejam elas nacionais ou
não. Grandes Figuras até passaram pela castiça praça de toiros daquela vila
alentejana nos seus inícios de carreira. Mas, e creio ter legitimidade para opinar
que, será de agora que o estatuto do Festival mais importância ganhou!
E esse estatuto adquirido, muito se
deve a quem o organiza há uma década (a cumprir precisamente este ano), pela
sua enorme afición obviamente, por carolice certamente, mas também por de
alguma forma ele próprio se sentir um mouranense e quiçá até por seguir as
pisadas do progenitor, que outrora também organizou este festival taurino com a
mesma dedicação e importância que hoje, o Dr. Joaquim Grave o faz.
A qualidade dos cartéis, pese
embora nem todos tenham a capacidade por vezes de a entender, afinal o
desconhecimento viabiliza a ignorância; a coragem de, em vez de um e na maioria
dos anos desde então, nos proporcionar dois festejos mesmo quando não é fácil
contrariar a habituação de um povo ao ‘programa das festas’; o
saber dar oportunidade aos mais novos (raríssimo isso por cá); o dom de trazer
os consagrados e os que estão ‘na berra’; o variar os intervenientes nas
diversas categorias; a importância e a sobriedade impingida a este já
acontecimento no calendário taurino português, contrastam com muito do que
vislumbro vir a ser a demais época tauromáquica no nosso país.
Ainda que o ano ainda agora
esteja a começar, mas tendo em conta cartéis o que se vai perspectivando para a temporada, ouvindo daqui e sabendo dali, muito me entristece o rumo
de uma Tauromaquia cada vez mais dominada por um ‘polvo’, com tentáculos por
tudo que é lado na monopolização de cartéis, na gestão de empresas e artistas,
e até da imprensa… A que acresce a falta de profissionalismo e ética, entre
organizadores que promovem festejos onde, se querem tourear, convém além da
quadra de cavalos também levarem a rês para o fazerem; aos que ‘convidam’ à
participação em festivais de forma gratuita dando por moeda de troca, uma
possibilidade remota, de mais tarde virem a incluir um festejo maior naquela
praça; à evidente troca de artistas entre os empresários-apoderados;
aos artistas que se for preciso não se importam mesmo nada de não se fazerem
pagar e pelo contrário, até pagam os próprios para tourear; entre outras
situações que aos poucos revelam uma Tauromaquia pobre de seriedade e
manipulada.
Quem ganha com isto?
Sinceramente, não sei… Mas quem
perde, bem sei que é o (verdadeiro) aficionado.
Posto isto, Mourão é (ainda) totalmente
fora da caixa, fora ‘do polvo’ e com uma responsabilidade de marcar a diferença
e dar o mote para uma época tauromáquica com qualidade.
Pelo que, como aficionada mas
principalmente como mouranense, espero que o Dr. Joaquim se anime a continuar
nestas lides em Mourão no mínimo por mais dez anos.
E agora, contagem decrescente até
1 e 4 de Fevereiro…
O resto da Temporada depois, olhem,
seja o que Deus quiser!