Se tem crianças por perto, o título deste artigo de opinião
ser-lhe-á muito familiar, se não tem, eu explico…
“Cada um no seu quadrado” é expressão de uma das músicas infantis mais populares interpretadas por um grupo de
sucesso, associado a um canal de televisão da especialidade, e que cativa a criançada.
E pareceu-me o perfeito para titular um tema que me surgiu através de uma
entrevista recente concedida pelo matador Paco Ureña aos microfones do “Espacio
Toro” da Rádio Nacional de Espanha e posteriormente replicada pelo site elmuletazo.com.
Entre os vários assuntos
abordados nessa entrevista, houve dois que sobressaíram pela clareza, pela
verdade e infelizmente, por serem cada vez mais uma miragem neste meio taurino.
O primeiro, a independência pela
qual o toureiro espanhol sempre lutou e se destacou de entre os seus pares como
a melhor forma de gerir a sua carreira e, o segundo, por ser defensor da autonomia
de cada sector taurino como o caminho para uma Tauromaquia reforçada. Dois
temas, infelizmente, bastante interligados entre si.
Sobre a independência, Ureña
começa por dizer que respeita os que não professam a mesma fé, e surgem
representados e associados a outras marcas/empresas, mas para ele, e transcrevo:
«Cada torero es dueño de su carrera y sabe como enfocarla, pero yo pienso
que la mejor forma de afrontarlo es como yo lo estoy intentando hacer. Es una
tarea muy compleja y dura. Al final no hay intereses de contratación por
ninguna parte, excepto los que se dan en la plaza o interesen al público,
entonces es más complejo. Pero, sinceramente, pienso que le haría muy bien a la
tauromaquia si la mayoría de los toreros, o todos, optaran por intentar hacer
esto. Sería bueno para todo el toreo, para empresarios, para ganaderos, para
los toreros y para alguien fundamental en esto, el aficionado”.
Que perfeito seria se os artistas justificassem a presença num cartel pela justiça de um anterior triunfo ou pela vontade do público e não pelas trocas de compromissos entre apoderados, empresários, e até entre os próprios toureiros?!
Lá como cá, os cartéis são
montados em benefício de uns e de outros, que são sempre os mesmos. E quando
não, ainda aparecem os que vão quase a título gratuito actuar, os que até já
levam o toiro escolhido para tourear fugindo ao sorteio (acontece muito em
festejos menores e em corridas com mais do que uma ganadaria), ou os que até pagam
para se verem num cartel, ajudando muitas vezes desta forma a levar um espectáculo por diante, e colocando o empresário em “divida” para justificar mais tarde,
uma nova contratação desse toureiro.
E essa falta de independência na classe artística é depois consequência para o segundo assunto, em que a miscelânea entre sectores tem fomentado a perda de autonomia.
Uma situação que Paco Ureña
defende e remata desta forma: “Es el mejor camino, yo siempre lo he tenido
claro. Pienso que es lo mejor para el toreo, no para mi solo. Si el apoderado
fuera apoderado, el empresario solo empresario y el ganadero únicamente
ganadero, pues nos iría fenomenal. Al final todos daríamos mucho más de sí. El
empresario no tendría ningún tipo de interés más que hacer la mejor feria
posible, el ganadero igual y el apoderado pues exclusivamente defender a su
torero. Considero que mí paso por el toreo es para aportar algo y creo que
enseñar esto a los chavales que vengan detrás es importante. Es un camino duro,
pero si todos estuviésemos a una, sería “cojonudísimo” para el toreo”.
Sabem quando vemos certos
empresários queixarem-se da dificuldade em montar cartéis? Da ausência de
certos toureiros em certas praças? De cartéis fotocópias uns dos outros? De
empresas que só contratam certos toureiros, que por acaso até os apoderam? De
certa imprensa que vê sempre triunfos aos mesmos?…
Isso, e muito mais, é tudo consequência
desta falta de autonomia entre sectores, do compadrio entre os agentes da Festa,
da carência da tal independência. E quando os sectores não defendem os seus
interesses de melhor forma, cultiva-se uma festa viciada, fragilizada aos olhos
dos que a querem minimizar.
Há os que, pela Defesa da
Tauromaquia, e em nome do “acompanhar a sociedade e a modernidade”, lhes importa
é que a Festa tenha visibilidade, que atraia crentes e não crentes, mas seria
importante que mais do que números, pudéssemos transmitir qualidade e seriedade
do sector.
Se o apoderado fosse apoderado, se
o empresário só fosse empresário e o ganadero unicamente ganadero… Se cada um
estivesse no seu quadrado, não existiria certamente tanta promiscuidade entre os
sectores, e a Festa dos Toiros sairia reforçada e beneficiada.
E já agora, Bom Ano 2023, com
afición de qualidade!
Patrícia Sardinha
