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    Casta Jijona - Ganadaria de Peñajara

     

    Seguindo a nossa digressão pelas castas fundacionais e pelos encastes mais emblemáticos da tauromaquia, decidimos hoje abordar a Casta Jijona, dada como extinta por diversos autores, apesar de em estudos genéticos realizados na última década ter sido descoberta uma importante presença na ganadaria de Peñajara, que passou a designar-se de Peñajara de Casta Jijona.

    Sabemos que a entrada e distribuição das raças taurinas pela Península Ibérica não foi uniforme e acabam por faltar documentos fiáveis que comprovem quais terão sido as reses originárias da vacada Jijona e, apesar da sua criação ser atribuída de forma mais ou menos consensual a Juan Sánchez-Jijón Salcedo, a verdade é que tal facto carece de confirmação histórica, como defendido em diversas obras publicadas sobre a Casta Jijona. Contudo, é inegável que a família Jijón terá tido um tremendo impacto na ascensão destas reses no mundo taurino.

    Em 1693, José e Juan Sanchez Jijon, sobretudo o segundo, tomaram as rédeas da ganadaria e começaram a implementar processos de seleção, bastante rudimentares, é certo, com o objetivo de direccionar as reses à lide. Desta forma conseguiu alcançar-se o toiro Jijon, um toiro tipicamente colorado, de grande volume e fiereza. Em 1743, torna-se ganadero o sobrinho de Juan, Miguel Jijón, continuando a gozar de uma tremenda popularidade e prestígio no mundo taurino. Mais tarde, a ganadaria passou pelas mãos de José Sanchez Jijón, em 1784, Manuela de la Dehesa, em 1824, e por Manuel de la Torre, em 1844, até que acabou por perder-se a relação da família Jijon com a ganadaria.

    Tendo em conta o prestigio associado aos toiros “Jijones”, torna-se natural que tenham surgido dezenas de ganadarias que apostaram nesta Casta, não apenas como opção única, mas também cruzando estes animais com outros de procedências distintas, criando-se assim os “Toros de la Tierra”. A evolução natural da tauromaquia, em que passou a dar-se cada vez mais importância ao último tércio, e onde estes animais grandes, de cornamentas aparatosas, de comportamento agressivo e que poucas oportunidades dariam aos toureiros, acabaram por perder espaço; mas também a Guerra Civil Espanhola, levaram ao desaparecimento progressivo da Casta Jijona, que acabou por ser absorvida por outras, como por exemplo a Vistahermosa.

    Apesar da decadência da Casta Jijona, os “Toros de la Tierra” tornaram-se, no século XIX, as ganadarias predilectas do público, embora fossem também as mais temidas pelos toureiros. Diversas famílias surgem então como referências ganaderas, como por exemplo Martinez, Aleas e Gómez. A ganadaria de Vicente Martinez teve origem em 1852, com a compra de uma vacada de origem Jijona, à qual se adicionaram por diversas ocasiões animais de outros sangues, de forma a acompanhar as progressivas exigências do público e do Toureio em geral. O semental “Español”, berrendo em negro, da ganadaria de Concha y Sierra e o semental Diano, de Eduardo Ibarra são dois exemplos importantes da capacidade e necessidade de adaptação que ajudaram a tornar a ganadaria numa das preferidas de Joselito El Gallo e Juan Belmonte, durante a “Edad de Oro” do toureio.

    Tal como referido anteriormente, muitos autores referem que a Casta Jijona se encontra extinta. Contudo, no Registo da União de Criadores de Toiros de Lide (UCTL) existe uma ganadaria que ostenta no seu nome uma referência direta a esta Casta Fundacional. Falamos de Peñajara de Casta Jijona.

    Formada em 1908, por D. Victoriano Angoso, com reses de Verágua e Oñoro, aos quais adicionou posteriormente sementais de Saltillo e um lote de reses de Santa Coloma. Mais tarde, em 1932 foi vendida a Rogelio del Corral, que ampliou a ganadaria com reses de D. Arturo Sánchez Cobaleda. Em 1951 é adquirida por Higinio Luis Severino e em 1973 volta a mudar de mãos, desta vez para Manuel Rueda Morales, que elimina todo o efectivo. Em 1977 adquire vacas e sementais à ganadaria de Baltasar Ibán, famosíssima ganadaria de encaste Contreras (com adição posterior de sangue Domecq, via Los Guateles). Em 1984 altera o ferro da ganadaria para o utilizado ainda nos dias de hoje, ampliando também o efectivo com novos lotes de Ibán, repetindo a aquisição em 1990. Em 1997 é adquirida pelo grupo empresarial Rulai, S.L., que torna José Rufino Martín representante da ganadaria. Mais recentemente, em 2018, é adquirida por Antonio Rubio que permanece como proprietário nos dias de hoje.

    Tendo em conta a descrição histórica feita no parágrafo anterior, torna-se compreensível a razão de ter sido posta em causa, por diversos autores, a designação da ganadaria como Peñajara de Casta Jijona, alteração feita por José Rufino Martín, pouco tempo depois de a ter adquirido, baseando-se num estudo genético realizado Julio Fernández (veterinário responsável pelo livro genealógico da UCTL) e Javier Cañon (catedrático de genética da Faculdade de Veterinária de Madrid), onde ficou demonstrada a presença de sangue da Casta Jijona numa proporção importante. A justificação deste resultado terá sido a introdução de um lote de 58 vacas provenientes de Julián Fernández Martínez (puro encaste Vicente Martínez), que terão aportado não só a componente genética, mas também características morfológicas similares aos toiros Jijones originais.

    A nível morfológico o tipo de toiro de Peñajara não está muito bem definido, oscilando entre o tipo eumétrico (de dimensões médias) e hipermétrico (dimensões grandes). Podem resultar aleonados, isto é, com o terço anterior (região das mãos, morrillo e cabeça) mais forte e desenvolvido do que os restantes, com córneas de dimensões consideráveis. A nível de pelagens tendem a predominar os toiros colorados, demonstrando neste ponto similaridade com a Casta Jijona original, havendo ainda uma enorme variedade, surgindo toiros ensabanados, sardos, salineros, castanhos, negros e até alguns berrendos.

    A nível de comportamento os toiros de Peñajara tendem a demonstrar nobreza ao longo da lide, destacando a qualidade no último tercio da lide, sem que, no entanto, deixem de ser toiros exigentes para o toureiro. Nas palavras do seu actual proprietário, Antonio Rubio, Peñajara “persegue um toiro diferente, um toiro com personalidade, bravo, que transmita e com o qual o público não se aborreça ou coma pipas na bancada”, destacando-se também a importância dada à sorte de varas no actual processo de seleção.

    Ao longo da história, a ganadaria teve uma enorme importância no panorama taurino, sobretudo durante o período em que esteve na posse de Manuel Rueda Morales e Juan Rufino Martín. Como curiosidade, segundo o seu actual proprietário, terá sido uma das poucas ganadarias que ganhou o prémio de melhor corrida de toiros na Feira de San Isidro, em Madrid, sem que nenhum dos toureiros tenha cortado qualquer orelha, algo que também aconteceu com a ganadaria portuguesa de Palha, no ano de 2009. Apesar disso, no ano de 2014 a ganadaria viveu um dos seus episódios mais negros e que acabou por originar um marcado declínio na sua trajectória. No dia 25 de Maio de 2014, em plena Feira de San Isidro, deu-se aquilo que se descreve como um tremendo petardo ganadero. Dos 6 toiros que saíram à praça, os três primeiros foram devolvidos aos currais, por demonstrarem falta de força e dificuldades de locomoção, e os restantes exemplares foram fortemente contestados pelo público, não só pela debilidade física demonstrada, mas também por terem tido um comportamento manso. Após esta corrida, José Rufino Martín terá solicitado análises sanguíneas aos toiros lidados e aos sobreros que voltaram ao campo após a corrida. Segundo o próprio, os dados encontrados identificaram, de forma consistente, valores anormalmente elevados de glucose no sangue, algo que pode originar falhas no sistema de locomoção dos toiros bravos. Desta forma, o ganadero deixou a entender que a sua corrida poderia ter sido alvo de uma intoxicação intencional, algo que acabou por não ficar inequivocamente provado.


    Desde esse episódio a ganadaria não voltou a estar presente em Madrid e entrou numa complicada travessia. Em 2018, tal como já referido, acabou por ser vendida a Antonio Rubio, que tem vindo a tentar reintroduzir a ganadaria nas praças de toiros mais importantes. Outro dado curioso foi que este terá solicitado um novo estudo genético, que ajudou a quantificar a percentagem de sangue de Casta Jijona presente na ganadaria, sendo que foi determinado que 38%  resulta da Casta Fundacional referida.

    Neste último capítulo de Peñajara, temos assistido a um crescente interesse por parte dos aficionados, fruto das características morfológicas dos toiros mas também pelo comportamento dos toiros lidados em praça e nos festejos populares em Espanha, uma outra forma encontrada pelos ganaderos para sustentar, sobretudo, as ganadarias de encastes minoritários. Toiros como Bienpeinado e Olivares, lidados ambos na torista praça de Cenicientos têm vindo a aumentar a pressão por parte dos aficionados a empresas como a de Madrid, de tal forma, que se fala num possível regresso dos Peñajara de Casta Jijona a Las Ventas no ano de 2023.

    A primeira conclusão que se pode tirar sobre a árvore genealógica da ganadaria de Peñajara é que deriva da de Baltasar Ibán, pelo que tem encaste Contreras. Contudo, argumentos como a morfologia, as reatas dos seus exemplares, similares às descritas para os toiros de Casta Jijona e Toros de la Tierra, decorrentes da tal aquisição feita a Julian Fernández Martínez (puro Vicente Martínez); mas sobretudo os estudos genéticos realizados, tornam claro que algo de especial se encontra em Peñajara. Desta forma, torna-se fundamental que continuar a defender e a preservar este tipo de encastes históricos e minoritários, com o objetivo de continuar a ter a diversidade necessária na Tauromaquia, não só para manter o interesse dos aficionados, mas também para despertá-lo noutros que possam vir a ser. 



    Bibliografia:

    1) El Toro Bravo – Ganaderías Míticas, 2ª Edicion, de José Luis Prieto Garrido

    2) https://www.lavozdeltajo.com/noticia/61480/local/el-regreso-de-penajara-a-las-ventas-en-el-2022.html

    3) https://desdelcallejon.com/penajara-de-casta-jijona-una-ganaderia-de-grandes-ferias/

    4) https://cultoro.es/2022/11/2/actualidad/camada-penajara-vuelta-primera-125606/

    5) https://torosdelidia.es/la-casta-jijona-casta-fundacional/

    6) https://www.dclm.es/noticias/95051/cultura-taurina-de-castilla-la-mancha-la-casta-jijona

    7) http://www.cetnotorolidia.es/opencms_wf/opencms/toro_de_lidia/castas_y_encastes/castas_fundacionales/jijona_y_de_la_tierra/index.html

    8) https://www.lainformacion.com/economia-negocios-y-finanzas/propietario-penajara-cree-que-corrida-que-lidio-en-madrid-pudo-ser-saboteada_mjFeZLir58TElgsAI0UlN1/

    9) https://www.elmundo.es/cultura/2014/05/25/53826069268e3e700c8b456b.html

    10)  https://www.youtube.com/watch?v=6ZcImYE9tV8

    11)   https://torosbravos.es/en/ganaderia/ufh/


    Fotografias:

    1)      Representação gráfica dos exemplares de Casta Jijona originais

    2) Actual ferro da ganadaria de Peñajara:

    3) Toiro Bienpeinado na Praça de Toiros de Cenicientos:

    4) Toiro Olivares, na sorte de varas, considerado o melhor toiro lidado em Cenicientos no ano de 2021

    5) Exemplares da Camada de 2023



    Artigo de Diogo Felício