A Temporada Taurina de 2022 e só faltam 2 meses para a de 2023

NATURALES
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Estamos a precisamente dois meses do início de mais uma época tauromáquica. A do corrente já está mais que terminada, uma temporada em que a rotina taurina voltou ao normal após dois anos condicionados pela pandemia. 

Em quantidade quase fez lembrar as temporadas dos tempos das ‘vacas gordas’ com bastantes espectáculos a serem realizados, alguns até a coincidirem em proximidades geográficas e datas... Tudo em prol da Festa, pois claro. 

Em qualidade, a coisa foi mais (ou pouco) pontual. Muita repetição de cartéis, muitos curros sem apresentação (e nem referimos a bravura porque essa não se adivinha), muitos triunfos que na verdade não o foram, “muita parra e pouca uva” para resumir. 

O público continua a ser, e cada vez mais, um santo a quem se gaba a paciência, com a grande maioria dos assistentes (por apedeutismo) a consentirem tudo e mais alguma coisa na arena. Ainda assim, sempre foi marcando a sua presença, mesmo com cartéis banais, mesmo com preços de “torero grande” ainda que no cartel se anuncie o Zé da Esquina. 

De resto, a 2022 e na nossa modesta opinião, faltou praticamente tudo: interesse, Figuras, Toureio de Verdade…ou melhor, em muitos dos casos faltou mesmo Toureio, quanto mais o de verdade! E faltou acima de tudo, afición aos ditos senhores que gerem a nossa Festa. 

EMPRESAS TAURINAS 

Aliás, são esses senhores empresários da Festa Taurina, que a vão compondo ao seu gosto e interesse, que tornam a Tauromaquia cada vez menos para os aficionados e mais para vontade própria de uns e de outros que nela mandam. Bastava ver os cartéis que iam saindo e perceber que houve consonância entre um grupo de empresários-apoderados nas montagens dos respectivos cartéis, e na troca dos seus toureiros (longe vão os tempos em que se era uma coisa ou outra, agora até se pode ser empresário-apoderado-critico taurino, por exemplo). 

A Tauroleve, que montou muitos dos seus cartéis com a prata da casa, o que pelas várias praças que detém os tornavam repetitivos, foi das poucas que teve a ousadia de criar oportunos momentos de interesse, principalmente nas Feiras que montou em Vila Franca. Continua a ser também uma empresa que dá atenção ao Toureio a Pé, e felizmente ao protagonizado por portugueses, mas será necessário cuidar a matéria-prima que se lhes ‘oferece’. 

A NEPE, empresa de Évora, tem conseguido recuperar público à Arena d’Évora, mantendo a tradição de cumprir com uma meia dúzia de datas na praça alentejana, nas quais em 2022 sempre se viram motivos de interesse. No entanto, pecaram em final de época com um curro sem apresentação (quando a promoção até publicitava o contrário), tendo vendido (e caro) o gato por lebre. Fizeram o mea culpa mas… é preciso esse cuidado redobrado nas temporadas vindouras para se dar continuidade a um trabalho que até aqui tem sido de exemplo. 

A Ovação & Palmas levou uma vez mais (e bem) os toiros a muitas praças do nosso país mas levou-os pouco a Lisboa, a principal praça que gere. Já sabemos a ladainha, foram as datas possíveis e concedidas por quem de direito (vamos ver qual a da próxima época quando se anunciar igual ou quiçá menor número para 2023), mas podiam ter sido melhor usadas. A primeira corrida entusiasmou, a de Morante diferenciou, mas as outras não seguiram o registo. “Deixem o homem trabalhar”, dizemos nós e com todo o respeito, pois é fácil perceber o difícil que é ser-se empresário no Campo Pequeno. Mas satisfazer a ‘gregos e troianos’ (e não falo do público mas de apoderados, toureiros, representantes de ganaderos…) não pode ser o lema de quem organiza corridas, mas sim o de satisfazer os aficionados! Que para o ano, com mais ou menos que as quatro corridas autorizadas este ano, possa a Temporada do Campo Pequeno ser seguramente com a qualidade que Lisboa merece, e que venham as Figuras! 

A empresa Doses&Bravura teve, um ano mais, a capacidade de montar temporadas consistentes, adequadas ao público e praças que gere; e a nóvel Tertúlia Óbvia tem ‘pano para mangas’, que é como quem diz, já demonstrou que veio para ficar, com ou sem parcerias. 

Mas se queremos falar de interesse nos cartéis, é continuarmos a olhar para a Feira Taurina de Abiul e para as corridas de toiros em Montemor, sempre praça cheia, pois claro! 

TOUREIO A CAVALO 

Não conseguimos destacar um cavaleiro profissional que efectivamente tenha marcado a Temporada 2022. Não houve um com a regularidade constante e triunfante que valha ser apelidado de Cavaleiro Triunfador de 2022. Àqueles que tanto gostam de jantaradas e prémios, isto era ano para correr tudo a “deserto”, coisa que sabemos que não vai acontecer, pois há sempre que agradar a alguém nestes jantares de triunfadores… 

Mas mesmo nos cartéis onde por vezes parecia que a coisa poderia resultar em termos de interesse e competição com dois ou três desses que dizem, triunfam em todas as praças, quando juntos, resultava tudo morno. Os desempenhos de cada um eram repetidas cenas de actuações anteriores, fosse com que toiro fosse, a lide era sempre a trazida de casa. Já não se toureia, ensaia-se uma lide, cravam-se os ferros e pronto… Triunfou! 

A espaços, lá houve um ou outro destaque, quase sempre salvos pelo “teve um grande ferro” numa lide… mas dizer que houve um melhor que outro? Para o NATURALES é difícil, e por isso resumimos assim: Francisco Palha teve uma temporada mais sóbria que outras anteriores e a sua ida a Madrid esperemos que tenha deixado frutos. Miguel Moura teve um ano de reafirmação e qualidade; Marcos Bastinhas é cada vez mais o fiel herdeiro do lugar deixado pelo pai, com uma popularidade e uma legião de seguidores que outros nem metade auguram; João Telles Jr. toureou muito em 2022, quase sempre acompanhado pelos mesmos, e quase sempre com a concretização de grandes ferros; idem aspas a João Moura Jr., que toureou bastante, com os tais bons ferros que de forma pontual foram enchendo as medidas ao público que sempre lhe aplaude bastante a destreza da mourina; João Salgueiro da Costa cumpriu em 2022 com uma encerrona que resultou e nos deu esperança de que se anime para no próximo ano continuar a zelar pelo nosso Toureio a Cavalo; Luís Rouxinol Jr. teve uma temporada mais discreta que os anteriormente citados, não por falta de resultados, que a esse todos conhecemos a garra e argumentos principalmente para os toiros difíceis, mas andou sim discreto porque não se viu nas principais praças e feiras do país, onde seria justiça ter estado após ser considerado um dos triunfadores de 2021. E porque não esteve? É perguntar a quem não o contratou… Por fim, falar de Joaquim Brito Paes que em 2022 consumou a alternativa numa temporada em crescendo e Francisco Núncio que a ‘confirmou’ em Lisboa, e ali fez o que já tinha mostrado na Nazaré, o seu bom conceito e as boas intenções. 

Dos mais novos, há esperança no toureio e em 2023 reafirmaram-no António Telles filho, Francisco M. Cortes, Duarte Fernandes e Tristão Ribeiro Telles. Cada um com as suas verduras mas todos a demonstrarem garantias de que poderão ser a nova fornada de competidores em praça. 

Dos mais velhos, felizmente todos (ainda) praticamente capazes: Mestre João Moura toureou pouco mas no início de temporada ainda deu ar de sua graça; António Telles regressou depois da queda do ano passado que o impossibilitou de continuar temporada. Continua como o vinho do Porto e salvou muitas vezes a honra do convento de certas corridas, recordando que Tourear não é para quem quer, é para quem sabe; Rui Salvador presenteou-nos 2022 com boas actuações; Luís Rouxinol cumpriu a dos 35 anos de alternativa com a costumeira regularidade e verdadeira entrega por onde foi passando; e até João Salgueiro se animou a reaparecer por 2 ou 3 vezes e evidenciou que os anos parado, não lhe retiraram genialidade. 

Dos estrangeiros houve a muita presença nos nossos cartéis do espanhol Andrés Romero e do mexicano Emiliano Gamero, cada um ao seu estilo, com o primeiro a cumprir e o segundo a gerar curiosidade. Pablo veio duas ou três vezes mas mais discreto em performance e Ventura…não veio! Possivelmente porque não quis mas fazia falta… 

FORCADOS 

Continuam a ser o elemento da Festa que mais motiva idas à praça com autênticas “claques” de apoio, pelo que muitas vezes o seu aparecimento em certos cartéis também é despoletado por interesses, trocas e favoritismos (como basicamente tudo o resto…). 

Em 2023 há claramente a destacar os Amadores de Vila Franca, não só porque como instituição comemoraram 90 anos de existência, mas porque nos seus desempenhos demonstraram a Unidade e a eficácia com que se pega toiros em Portugal. E não se pode falar em união sem falar no Grupo de Montemor, que mais uma temporada foi exemplo de grandes pegas e grandes forcados. Os Amadores de Lisboa foram autores de uma das melhores pegas da época, e justificava-se, até pelo seu historial, presença em mais praças… Em termos de grupos mais ‘recentes’, os Académicos de Coimbra voltaram a dar nas vistas nos compromissos que tiveram.

GANADARIAS 

Dos poucos sectores onde a boa vontade dos Homens (leia-se ganaderos) e o amor aos animais, prevalece. Só mesmo gostando muito do Toiro de Lide para o poder continuar a manter no campo durante quatro ou cinco anos como um Rei, para o vender depois a preços da chuva miúda para as praças a muitos dos nossos empresários. 

Antonio Silva, Passanha, Murteira Grave, Veiga Teixeira destacaram, uns de forma mais isolada, ou seja, com um ou outro toiro a sobressair nalguma corrida, e outros de forma mais consistente, com corridas inteiras a darem bom espectáculo. Lá fora, Palha, Murteira Grave e Passanha Sobral tiveram eco. 

A primeira manteve presença na principal praça do país vizinho; a segunda continua a viver de um registo triunfal nas praças onde lidou, e a terceira, passo a passo, tem vindo a ganhar visibilidade com o desempenho e beleza dos seus toiros. 

A PÉ 

A pé, Juanito marcou a temporada. Vivemos uma nova fase de ‘pedritomania’, menos rosa, menos jet-set, mas os aficionados voltaram a alegrar-se com um toureiro a pé luso: João Silva ‘Juanito’. No país vizinho foi inglória a confirmação de alternativa em Madrid, mas no resto foi arrecadando troféus por tudo que era sítio onde passou. Por cá, esse panorama triunfal, valeu-lhe a presença nas feiras e cartéis onde ainda se aposta nesta vertente do toureio. 

Era preciso levar daqui para lá, leia-se para Espanha, França… também outros portugueses: António João Ferreira, que continua a ser um diamante mal aproveitado; Joaquim Ribeiro ‘Cuqui’, que persiste na sua entrega em cada festejo e este ano até teve direito a encerrona; e o dedicado e profissional Manuel Dias Gomes, que foram os matadores lusos que “mais se viram” nas poucas oportunidades que tiveram e nalguns casos, com muita vontade para tolerarem a qualidade das reses que lhes é posta à frente.

De Espanha, foi Morante quem teve maior protagonismo e presença. Fiel a si mesmo e aos seus seguidores. 

Dos mais novos, temos o olho em Gonçalo Alves, da Escola de Toureio José Falcão, cujas boas maneiras e triunfos em 2022, abrem expectativa para 2023. Também Diogo Peseiro persiste na luta diária para quiçá, atingir de vez o sonho de matador. João d’Alva é outro que, principalmente lá fora, se mantém resiliente e no activo para continuar o sonho. E entre tantos outros jovens, que felizmente ainda frequentam as nossas escolas de toureio, não esquecer o Tomás Bastos, um menino prodígio que de forma discreta tem evoluído no campo mas a quem a tenra idade ainda nos tem impedido de podermos ver como merecemos.

BANDARILHEIROS

Uma temporada mais, tem sido na prata que os portugueses têm valido ouro. A prova disso são as “contratações” que as Figuras do Toureio têm feito para as suas quadrilhas contando com valores lusos para a próxima época. 

João Ferreira segue no topo. Exímio bandarilheiro, saiu várias vezes nas primeiras praças de Espanha ao serviço de matadores, e a aficion vizinha sempre o brindou com grandes ovações.

Também João Silva “Açoreano”, Chamaco, Diogo Vicente, deram nas vistas no país vizinho e na próxima temporada ali voltarão a marcar presença. 

Fazer ainda referência, e relativamente à época de 2022, ao veto aos fotógrafos taurinos que foram impedidos de poderem fotografar na grande maioria das praças desde a trincheira. Se é um facto que os fotógrafos na teia já “eram mais que as mães”, não deixa de ser verdade que esta medida é mais um atentado à Tauromaquia, já que agora esta se tornou menos visível em imagens a quem não assistiu em praça, pois a maioria dos fotógrafos resiste a não fotografar desde a bancada. Também frisar a, há muito anunciada, “morte” da praça de toiros da Póvoa de Varzim, um ícone da aficion nortenha, que se consumou com a sua demolição este ano. Podem dizer que é ilegal, que é isto e o outro… mas já está! E agora? Qual se segue? 

Agora seguem-se jantares, prémios para todos os gostos, pois o melhor é sempre fingirmos que está tudo bem até daqui a precisamente dois meses, quando se iniciar a nova época taurina…

Bom defeso!
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