A Centenária Praça de Toiros “Dr. Libânio Esquível” em Mourão recebeu na tarde do passado sábado um Festival Taurino Misto, promovido como de homenagem póstuma a Inácio Falcoeiras, um jovem mouranense que chegou a integrar o Grupo de Forcados de Mourão (que teve curta existência), e ainda com a referência dos lucros do festejo reverterem a favor do Abrigo Infantil local.
O cartel foi composto por uma mão de jovens, alguns a andarem cá como profissionais há mais de 10 anos e a quem poucas oportunidades são concedidas, e por outros agora a despontar e também a solicitarem por isso, mais atenção para se mostrarem.
Pelo que assim à primeira vista, era a considerar um festejo modesto, sem as habitués Figuras, talvez também condicionados pelo mal acostumados que estamos à qualidade com que nos últimos anos temos sido bafejados pelo(s) Festival(ais) de Fevereiro em Mourão.
Mas, vamos lá ver?!… Não merecem todos os artistas uma oportunidade? Sendo Mourão uma praça de terceira, não se pode valer de festejos ‘menores’? Claro que pode e deve! Ou talvez não... Pois a composição do cartel não foi suficiente para convencer os mouranenses (e aficionados vizinhos) a marcarem presença no espectáculo de sábado, ou quiçá culpa da conjuntura monetária que já se vive, ou ambas as situações: falta de interesse e de dinheiro, ou talvez… Mourão já não seja assim tão aficionada (quero estar muito enganada neste sentido!).
Numa vila onde a Tauromaquia sempre foi chave mestra, não só porque à sua chegada, na primeira saída à direita, é a castiça Praça de Toiros quem nos recebe desde há 20 anos (para os que conhecem, e se recordam, antigamente a entrada em Mourão era em ponto oposto ao actual), mas também porque serve o seu concelho de refúgio a algumas conceituadas ganadarias, e porque aquelas terras foram também berço para alguns homens de prata das nossas praças, acresce ainda o facto de Mourão marcar o calendário taurino em Portugal com o festejo de inauguração da Temporada. Uma evidência que pôs nos últimos anos Mourão no roteiro taurino de aficionados portugueses e não só (muitos são os vizinhos espanhóis que se deslocam a Mourão em Fevereiro), sendo assim motivo de interesse económico para a vila, já que alojamentos, restaurantes,…todos ganham com a Tauromaquia. Para não falar que até a Banda Municipal Mouranense já beneficia pelo seu destacado desempenho nos festejos na Libânio Esquível, sendo convidada a participar em encontros de Bandas Filarmónicas para tocarem pasodobles ou até para ‘adornarem’ espectáculos tauromáquicos noutras praças fora das portas do concelho…
No entanto, tem para mim vindo a ser notório um desinteresse nos toiros por parte dos meus conterrâneos. Ou melhor, não existe fomento junto dos mais novos. Os aficionados, os verdadeiros e ‘maiores’ do que eu, vão desaparecendo ou estão cansados de tanto ‘gato por lebre’, e a juventude, fruto dos gostos (e males) da sociedade em geral hoje em dia, têm outros interesses e não vão, não querem saber…
Podem dizer-me que em Fevereiro a praça esgota, uma, duas vezes,…e até já esgotou. Mas não em grande parte com a presença de espectadores locais. Ainda que cartéis mais atractivos motivem maior presença, os de Mourão que se abancam na praça a 1 de Fevereiro, fazem-no pelo ritual que se impõe à grande parte dos mouranenses a cumprir com as Festas da Senhora das Candeias: a 1 dia de toiros, a 2 dia de Nossa Senhora, e a 3 dia de Leilão. A outra boa parte dos que lotam a ‘Libânio Esquível’ são os de fora, e vão pela fome dos toiros após o defeso, e porque já se tornou uma espécie de ‘montra’ ir-se mostrar a Mourão ao início de Temporada.
Artisticamente falando, o festejo acabou por resultar mas sem grandes alardes de triunfos, pecando, além do pouco público, pelo imenso pó que se levantou da arena...
Os cavaleiros Gonçalo Fernandes e Marcelo Mendes cumpriram como puderam e souberam, com actuações em crescendo, mas foi o praticante Diogo Oliveira quem mais convenceu, com um toureio desenvolto. Lidaram-se reses de Ascensão Vaz, Mata-o-Demo, António Lampreia, Branco Núncio e Monte Cadema. Destacaram-se pelo recorrido e com direito a volta à praça dos seus representantes, as reses de Branco Núncio, Mata-o-Demo e Monte Cadema.
A pé, o matador de toiros João Fera teve uma faena a espaços com alguns bons pormenores, em virtude de um novilho que também não se empregava muito; e o novilheiro Gonçalo Alves, da Escola de Toureio José Falcão, que tem dado cartas lá fora nos festejos onde tem participado, teve em Mourão uma oportunidade de confirmar as boas maneiras e o potencial de que, se não esmorecer pelo caminho dadas as escassas oportunidades, pode chegar ao estatuto seguinte.
Mas o atractivo maior para os poucos que foram, terá sido sem dúvida o anúncio da presença de uma Selecção de Antigos Forcados e Amigos do Grupo de Mourão, e aqui paira a dualidade de vontade dos mouranenses: se é verdade que muitos não foram à praça pela falta de vontade e interesse no cartel, não menos verdade é, que a afición de um punhado de rapazes da terra (uns com mais histórico nisto das pegas que outros) os levou a que tivessem vontade de se reunirem, voltassem a fardar e a pegar toiros. A maioria destes ‘forcados’ são os que ainda vão alimentando a afición taurina no concelho, dos que ainda se aventuram pelo brincar os toiros, de os capear, nas garraiadas e vacadas que (cada vez menos) ainda se vão organizando, quer na praça quer pelas ruas da vila, nalguma ocasião festiva.
E porque o Grupo reunia ‘amigos’, isso implicou que fossem forcados naturais de Mourão ou ali residentes mas a pegarem noutros grupos, os que foram caras nas pegas da tarde: Márcio Carrilho e Miguel Valadas efectivaram à primeira, com os novilhos a irem por direito sem complicarem; e José Canete consumou à segunda com decisão. Resultando assim numa tarde de triunfo para os mouranenses!
Dirigiu o festejo Domingos Jeremias, assessorado pelo veterinário Carlos Santana.
E já indo longo este texto que se queria um apontamento, mas ao escrever sobre Mourão, constato alguma similaridade com a temporada na Praça de Toiros do Campo Pequeno, em Lisboa.
Reparem:
- ambas as Praças de Toiros tiveram em 2022 quatro espectáculos tauromáquicos: atípico para Mourão, pouco para Lisboa (ainda que quantidade não seja sinónimo de qualidade);
- ambas as temporadas resultaram em 2022 sem praças esgotadas e com festejos na sua maioria, e para os respectivos públicos, a resultarem sem interesse – sendo que Mourão é praça de 3ª categoria e o Campo Pequeno, de 1ª e ainda dita como primeira do País;
- ambas as praças são uma incógnita para a próxima Temporada: Lisboa parece uma bomba relógio nas mãos de quem está, que a cada ano vem limitando o número de espectáculos ao promotor; e Mourão precisa de ‘actualizar’ a centenária praça… (Atenção CMMourão/JFMourão, sabem ao que me refiro!).
Posto isto, e porque tenho fé na afición mouranense, aproveitando a vontade destes ‘forcados’ nas tradições taurinas, desafio-os (não a continuarem a pegar toiros, porque para isso muitos podem já não ter coração) mas a que sejam os principais fomentadores junto dos mouranenses mais novos, em prol de uma afición com qualidade na nossa terra: que tal, a criação de um Clube Taurino Mouranense? Fica a dica…
Aos promotores dos futuros festejos na Praça de Toiros de Mourão, e este ano em 4 espectáculos foram 3 organizações, termino dizendo que é preciso cuidar a afición mouranense...com espectáculos para todos os gostos mas com qualidade acima de tudo, pois só assim pode existir manuntenção e renovação de aficionados.