Hoje só vos quero contar uma história:
Numa tarde solarenga e quente de outono, no dia em que Portugal assinalava a implantação da república, em Vila Franca de Xira a Palha Blanco encheu para assistir a uma corrida de toiros. Mas não foi uma qualquer corrida de toiros, nunca o é, mas esta foi diferente - tinha um “ingrediente especial”.
Nesta tarde de toiros, uma corrida mista, saíram seis exemplares da ganadaria Manuel Veiga - díspares de comportamento e apresentação.
João Ribeiro Telles Jr, foi o “personagem” responsável pela parte a cavalo. Levou a cabo duas lides sem grandes destaques mas cumpriu em ambas. Sendo que no seu quarto toiro há um ferro que ficou na memória, num cite de largo e bem colocado.
Mas não há uma história sem um “Era uma vez”, por isso aqui vai:
Era uma vez um matador de toiros chamado José António Morante Camacho - Morante de la Puebla que veio de Sevilha até à Sevilha Portuguesa mostrar que o tempo para, que os ponteiros do relógio podem andar mais devagar e que ele é diferente dos demais. Começou por apaixonar no capote, com sete verónicas de encantar - acho que já sonhei com isto, ou então sonhei acordada. Depois, com a muleta, a paixão continuou: há uma série que podia aparecer nos dicionários como o sinónimo de arte e profundidade. Sorte daqueles que o entendem e o sentem! Há momentos em que o que é acessório simplesmente deixa de existir e só há aqueles dois “corpos” em movimento: toiro e toureiro numa simbiose quase perfeita. “Fico” ali, ou o meu pensamento ficou ali. Acontece!
No segundo toiro da tarde, Morante de la Puebla esforçou-se mas como sem ovos não se fazem omeletes, acabou por abreviar.
Juanito fechava o cartel da tarde quente de Vila Franca. Parecia que vinha para vencer. Como é aquela frase-feita de bla bla bla (…) vencer? Já sei: Veni, vidi, vici (vim, vi, venci)! Na minha opinião era o propósito do Juanito, e tem todo o valor e mérito por aparecer com esta disposição, mas acredito que a história não se desenrolou como queria. Com o primeiro toiro, ainda lhe correu de feição: com boas séries - essencialmente pelo píton direito. Mas no segundo, e como a pressa é inimiga da perfeição, começou muito bem e colocar a Palha Blanco no “bolso” com largas cambiadas de joelhos na arena e uma série de lopezinas mas depois “borrou a pintura”, saiu para bandarilhar e não houve um par que ficasse bem colocado. Na muleta, tentou disfarçar o “borrão” mas foi só mesmo isso: uma tentativa.
Vila Franca é também dos forcados e as bancadas vibraram com duas pegas do grupo da terra: a primeira por intermédio de Luís Valença que tive um belo par de braços para se aguentar à primeira tentativa mas que acabou por sair lesionado. A segunda, foi cara Rafael Plácido - e embora não tenha sido unânime - foi concretizada também ao primeiro intento.
Sorte a minha que fui aos toiros a Vila Franca e fui uma “personagem” desta história. Sorte a minha de ter visto Morante de la Puebla tourear na castiça Palha Blanco. Há sonhos que se tornam realidade!
Por Lisa Valadares Silva