Crónica: “Cuba respira….”

NATURALES
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Respira aliviada, feliz, quase desbordada em suspiro risonho a aficionada vila alentejana da Cuba. Com uma praça em degradação, um grupo perdido após uma tragédia, o cada vez mais notório afastamento dos seus aficionados e uma penosa e longa pandemia, a odd associada ao pouco interesse e mau calvário desta arena multiusos não era alta. A aposta, sem riscos ou devaneios, otimista talvez, foi simples e deu mais frutos do que tanta múltipla e complexa que se fazem em ruedos mais “importantes”. Este é o momento, disse-me o aspeto mais cuidado da arena e da sua segurança, o toureio praticado por Luís Rouxinol Jr, as investidas dos Pégoras, e até o facto de Andrés Romero ter saído sem dar volta de agradecimento por compromissos no país vizinho, foi positivo. Não aprendemos nada com o covid? Ou só leem o que o grupo Cofina escreve? As voltas deviam ser apenas outorgadas a lides salutar e de qualidade realmente distinta. Tal como as cortesias, são timings que já não fazem sentido se queremos dinamizar e modernizar o espetáculo… Li por alto que não foi nobre para quem paga, embora na minha ótica, que prevejo melhorias a longo prazo, foi correto e a única maneira de a aplaudir, porque o conteúdo da mesma acaba por explicar-se com esta analogia. Que sirva para ir ao bar ou comprar umas queijadas de Sintra nesse break, tudo certo, a larica é tramada. 

Praça muito bem composta, a melhor entrada nos últimos seis anos, com cerca de ¾ preenchidos; um curro sério, pequeno e medido para Cuba, bravo e a funcionar quase como um voucher de oferta, não usufrui quem não quer; temperatura ideal e ambiente de Feira. Rouxinol Júnior toureou. Dirão alguns haters, que a minha pena sempre traz um risco negro que impregna negativismo e maldizer gratuito. Eu vejo crítica, alerta, factos, mensagem e verdade. Por isso, vendo o espectro completo da luz, com consciência, sabe-me muito melhor quando sei que a mensagem de alerta vai ficar de lado quando vejo Tourear. Tourear a sério, com alegria, arrojo, aquele calor que anima o corpo e nos prende aquilo. Ao Toureio. Rouxinol Júnior fundiu-se com um bravo Pégoras, colorao de cara aberta e veleta, sério, disponível sempre, de qualquer terreno, com alegria, com codícia, com fijeza. Toureiro e comunicativo, com o público, com o Toiro, entrosado com as montadas, notoriamente capaz de tudo e dedicado e esforçado em todo o momento. A sua lide foi um compêndio de emoção e qualidade, ao nível do Toiro, partilhou com ele os louros do tempo, da brega, das jurisdições e dos remates. 

A duo, com Miguel Moura, com outro completo Toiro, trouxeram uma alegria diferente ao que estas lides nos dão. Sintonizados e harmónicos, agraciados pelos progenitores após um justo brinde, tourearam compenetrados e a prazer. 

Este é o momento é também uma frase que tem de imperar na mente de Miguel Moura. Está tranquilo e seguro a montar, mais importado a lidar e muito mais afinado a cravar, falta um clique para o público o entender e incentivar. Rouxinol Jr dava uma boa parelha rival… Animem-se Toureiros! Fazem falta mais mano-a-manos distintos e com algum fundo de ser, que cartéis de seis para turista ver. Correto nesta sua passagem, não alvitrou o ambiente que aspirou de início, e a intermitência foi ganhado lugar na lide, destacada pela vontade e maneiras atuais que mostra o mais jovem Moura.

Andrés Romero, menos assentado e mais apressado, andou ao seu estilo, mais empolgado em remates e adornos, mais fraco a cravar. O Pégoras foi fácil e nobre, mas não bobo, e a prestação não atingiu marcos digno de registo. A duo, a iniciar a tarde com Francisco Núncio, deixaram ferros e mais ferros, sem alardes de bom toureio, contrariado por um curto de boa nota do jovem dinástico.

O próprio, Francisco Núncio, agarrou a oportunidade (que lhe faz falta, e também lhe faz bem) e tentou imprimir o seu toureio, dentro do que pode, sabe e lhe permitem. Na exigência está o ganho… mas sem oportunidades não se fazem momentos, nem dinheiro, nem coisa nenhuma. Sentiu algumas dificuldades em preparar as sortes e a brega, mas na altura de cravar procurou o morrilho do Toiro perto do seu estribo, sem o conseguir em pleno, mas deixando o seu conceito marcado. Com uma quadra mais forte e mais rodagem, tem margem para progredir. 

Antes de falar nos Forcados, Simão da Veiga deu três aplaudidas voltas à arena, seguidas. Terceiro, quarto e quinto Toiro com o F de Pégoras, foram merecedores desta honra. O quarto reuniu o melhor dos premiados, os anteriormente referidos foram Toiros disponíveis e com o que se precisa para triunfar. Incontestável o triunfo da Ganadaria Pégoras, que deixa saudade em ruedos importantes que já pisou e onde albergava cartel de Ganadaria séria e brava. Este pode ser o momento para o renascer desta divisa.


Nas pegas a seriedade e bravura dos Toiros não foi obviamente traduzida em poder e dureza, pois a sua morfologia assim não o permitia, contudo, foram vistosas e com brilho aquelas cujo os forcados assim as souberam interpretar.

Pelos Amadores da Moita dois desempenhos seguros e eficazes, de caras e ajudas, à primeira tentativa, por intermédio de João César e Filipe Correia;

As duas pegas do Real de Moura pecaram por incorreções a reunir que ditaram um desfecho mais distante do seu nível. Luís Branquinho apenas no terceiro encontro se corrigiu e fechou; Gonçalo Borges, que após vencer um prémio numa das suas últimas pegas, não reuniu como pode com um Toiro que procurou e achou, tendo desfeiteado o forcado de má maneira que recolheu, felizmente sem consequências de maior, à enfermaria. Na dobra José Costa Pinto esteve exímio e fez o que se pedia na tentativa anterior. 

Pelo Grupo mais próximo dos três em competição, os Amadores de Beja, Nuno Barreto teve garra e os braços necessários para consumar uma pega vistosa ao primeiro intento, reunindo pouco ortodoxo mas duro e com poder; Manuel Maria Vicente corrigiu-se no segundo encontro e teve também ele um bom desempenho, correspondido pelo Grupo.

Dirigiu com calma e sem momentos aflitivos, Agostinho Borges, com uma atuação muito audível da Banda da Sociedade F. Cubense 1Dez.

A Cuba respira e diz que podemos respirar todos que lá fomos… 

Pedro Guerreiro

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