Tenho resistido à tentação de escrever sobre o atentado à liberdade de expressão e ao direito à informação perpetrado pela IGAC com definições de segurança ou de ausência de segurança nas trincheiras das praças de toiros para vedar a presença de fotógrafos que se dedicam à cobertura dos espectáculos tauromáquicos em Portugal. Uma forma encapotada de retirar visibilidade ao que se passa na arena e, aos poucos, reduzir a informação fotográfica dos espectáculos sabendo nós que uma imagem vale mais que mil palavras.
Segundo diz o Regulamento do Espectáculo Tauromáquico em vigor, vertido no Decreto-Lei 89/2014, no seu artigo 7º., que as autorizações de permanência entre barreiras são entregues pelo director de corrida ao promotor do espectáculo. Logo, este último é o máximo e último responsável pelas acreditações de imprensa, seja a fotógrafos seja a críticos tauromáquicos em cada espectáculo.
Primeiro ponto, a IGAC não tem qualquer competência paar determinar quem são ou não os representantes da Comunicação Social que estarão, ou não, nas trincheiras.
Mais, refere o RET no seu Artigo 28.º Permanência entre barreiras, que os representantes da comunicação social estarão presentes na trincheira conforme disposto na alínea f):
- f) Os representantes da comunicação social, em número adaptado às circunstâncias, determinado pelo diretor de corrida em função das condições de segurança do recinto;
A questão da segurança do recinto é sui generis: se não há condições de segurança, não pode haver espectáculo! Porque a segurança entre barreiras, vulgo trincheira, é algo muito vago. Talvez se devesse dizer, e a IGAC deveria tê-lo clarificado, pois teve tempo suficiente para isso, em função do número de burladeros disponíveis e da dimensão do elenco actuante. Mas não o fez, quiçá induzida por uns quantos que pouco percebem do “métier” quanto mais de questões de segurança.
Dou dois exemplos claros de praças que não têm condições para terem tanta gente na trincheira e onde nunca houve um acidente grave ou menos grave: Sobral de Monte Agraço e Arruda dos Vinhos. Não têm burladeros (Arruda tem 3) e Sobral tem 1 (equipe médica) e sempre tiveram fotógrafos na trincheira. Mas aceito que sem burladeros, não possam estar. Vila Franca de Xira tem um vasto conjunto de burladeros mas que devido à sua construção nunca me pareceram seguros ao contrário de outros como Moita, Montijo, Alcochete, Santarém, Caldas da Rainha, Nazaré, Figueira da Foz, Abiúl e por aí fora.
Não faz sentido proibir em alguns destes locais a presença de fotógrafos na trincheira. O que sim faz sentido é dotar esses burladeros de condições para que os fotógrafos aí possam desempenhar as suas funções: fotografar a corrida, o que se passa na arena.
Como digo, esta é uma decisão de clara censura tal como acontece com a rede social Facebook onde o conteúdo de uma tourada é censurado e o vídeo de um indivíduo a pontapear um burro não é censurado…
Porque se continuarmos a falar de segurança, entendendo-se número de burladeros ou esconderijos na linguagem do RET, então muitas praças não poderiam dar espectáculos porque o Artigo 14º diz que devem ser oito os esconderijos, com a dimensão mínima de 2 metros de largura (cabem lá 4 pessoas) excepto se na vistoria do IGAC se verifique a impossibilidade da sua concretização por motivos técnicos (caso de praças de toiros como a de Sobral de Monte Agraço).
A regra diz que devem ter o mínimo de 2 metros de largura mas não estabelece a altura mínima dos mesmos nem se devem ter bancos ou o que seja onde aqueles que os ocupem estejam cómodos e em segurança.
Todas as pessoas que permanecem entre barreiras estão devidamente identificadas pelo promotor do espectáculo: nas senhas distribuídas pelo director de corrida há um campo, na parte inferior onde se inscreve a função. São para pessoal de serviço (portas e areneiros), embolador, avisador, promotor, equipa médica, representantes dos artistas, da ganadaria/ganadarias, forcados e comunicação social.
Onde é que reside então o problema? Mais uma vez, não se faz uma reforma de fundo mas, à boa maneira portuguesa, atamanca-se a coisa e os primeiros e levar com a ripa, desculpem-me a terminologia, são os que promovem e divulgam a Festa Brava que tanto dinheiro entrega aos cofres da IGAC.
É verdade que há quem abuse, que não esteja no burladero que lhe foi destinado, que ande pela trincheira como se andasse na Avenida da Liberdade e por aí fora. Mas paga, mais uma vez, o justo pelo pecador. Quem não cumpre só tem um caminho e o avisador, enquanto representante do director de corrida em funções na trincheira, só tem que o colocar no burladero ou na rua. Ponto final, problema solucionado.
Passamos a vida a queixar-nos de que os órgãos de comunicação generalista viraram as costas à tauromaquia, que apenas alguns sites e blogs, ou ainda algumas rádios, mantêm programas de tauromaquia e lhe dão o devido destaque, mas ninguém faz nada para reverter esta tendenciosa e descaradamente censuradora medida da IGAC. Os senhores empresários, os senhores toureiros e forcados, os senhores ganadeiros ainda não viram a dimensão que esta decisão pode tomar? Pois, como sempre é um deixa andar até porque a malta das fotografias, dos sites e blogs, dos programas de rádio nem todos falam uns com os outros, quanto mais reunirem-se e tomarem medidas sérias!...
Agora que a Tauromaquia voltou, possivelmente ainda que de forma episódica ao Diário de Notícias e ao Correio da Manhã, imaginem que não havia fotos da corrida para enquadrar nas crónica aí publicadas. Andamos ao contrário de todos os outros espectáculos e formas de cultura onde a imagem tem um valor incalculável.
Pensem bem nestas e noutras questões enquanto há tempo e paciência. Censura? Nunca mais!!!
Texto: António Lúcio
Fotografia: Arquivo/DR
