Crónica de Santarém: “No dia de Portugal elevou-se ainda mais o Forcado Português”

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​No dia 10 de junho, dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, a Praça de Toiros de Santarém recebeu a segunda corrida da sua feira, ouvindo-se o hino nacional no início das cortesias.

​O cartel apresentado tinha como principais destaques a comemoração do 35º aniversário de alternativa de Luís Rouxinol e o regresso da ganadaria Palha a Santarém, 38 anos depois. Compartiam cartel com o cavaleiro de Pegões, João Telles e Francisco Palha. Pelos homens das jaquetas de ramagens estiveram em praça os Amadores de Santarém e os Amadores de Montemor. No dia de Portugal, o maior destaque acabou por ir, uma vez mais, para os forcados, com Francisco Borges, no 4º toiro da tarde, a mostrar o tremendo valor que tem. Após uma violentíssima colhida na segunda tentativa, que o deixou fisicamente inferiorizado, voltou para a cara do violento Palha e consumou a pega.

​Da Herdade da Baracha, onde pasta actualmente a ganadaria Palha, veio um curro de toiros de correcta apresentação, mas desigual de hechuras. A nível de comportamento a corrida foi complicada, com falta de fijeza, a procurar os terrenos das tábuas, com os toiros que saíram em 1º e em 3º lugar a merecerem destaque pela positiva e com o manso que saiu em 5º lugar com destaque claramente negativo.

​Antes do início da corrida teve lugar uma justíssima homenagem a Luís Rouxinol, figura incontestável da tauromaquia portuguesa, pelos 35 anos de alternativa.

​Abriu praça o toiro Belo, ferrado com o número 564, pesando 505kgs. Toiro alto, cuesta arriba, com muita cara e sério por diante. Saiu com mobilidade, a querer colocar a cara nos capotes, custando-lhe humilhar tendo em conta a sua morfologia. Toiro interessante, que arrancava de largo, com emoção no momento do ferro, mas que acabou por vir a menos com o decorrer da lide, procurando, por vezes, os terrenos dos curros. Luís Rouxinol acabou por ter uma lide algo irregular, não conseguindo aproveitar da melhor forma o Palha que abriu praça. No terceiro ferro curto pecou na escolha dos terrenos, com o toiro mais fechado em tábuas e na zona dos curros tentou mandar vir o toiro, resultando num forte toque na montada. Destaca-se pela positiva o segundo ferro curto, a dar vantagens ao toiro, a desenhar bem a sorte, conseguindo uma reunião ajustada, e o ferro de palmo que encerrou a actuação.

​Para a cara do primeiro foi António Queiroz e Melo. Esteve muito bem a citar, a mostrar-se ao toiro, a aguentar a pronta arracanda do Palha, a receber de forma exemplar a investida e, com o grupo a ajudar bem, consumou-se a pega à primeira tentativa. Boa pega!

​Autorizada volta à arena para ambos.

​Em segundo lugar na ordem de lide estava o toiro Lagartinho, com o número 560, com 550kgs. O toiro, bonito de hechuras, sério e rematado de carnes, saiu inutilizado à arena, após ter partido o corno esquerdo nos currais. Recolheu-se o astado, prosseguindo-se com a lide do toiro que estava destinado a sair em 5º lugar, o segundo do lote de João Telles. Saiu então o Descartado, com o número 738, pesando 510kgs, alto, cuesta arriba, fino, menos rematado que o primeiro e bem posto de cara. Saiu distraído, muito pendente do que se passava na teia. Manteve o comportamento nos curtos, procurando com o decorrer da lide os terrenos das tábuas. Toiro reservado e complicado. João Telles conseguiu, montado no Gaiato, bons momentos no início da ferragem curta, esteve bem na brega, conseguindo tirar o toiro da querença e deixando dois bons ferros. Posteriormente, com o toiro a fechar-se cada vez mais em tábuas optou por deixar os ferros a sesgo, acabando por não resultar e por consentir um toque na montada no 4º ferro.

​Para abrir a tarde pelos Amadores de Montemor foi o forcado Vasco Carolino. Esteve bem a citar, com o grupo a dar vantagens ao toiro. Carregou cedo a sorte, com o toiro a esperar muito, tal como fez durante a lide, arrancando de forma vibrante, com o forcado a conseguir aguentar a dura viagem até se consumar a pega. Destaque para a ajuda dada pelo Cabo do grupo, António Pena Monteiro. Boa pega!

​Volta autorizada para ambos, com o cavaleiro, e muito bem, a não sair à arena. Bem o público a exigir que o forcado desse a volta à arena.

​Em terceiro lugar saiu o Banderado, ferrado com o número 420, pesando 520kgs. Um exemplo do que na gíria taurina se designa como um taco. Toiro baixo, bonito de hechuras, muito bem armado e sério por diante. Toiro exigente, encastado e com poder, a arrancar de largo e com muita transmissão no momento do ferro. Faltou-lhe, no entanto, fijeza e acabou por procurar os terrenos das tábuas com o decorrer da lide. Francisco Palha foi à porta gaiola receber o toiro, colocando-se no centro da arena. Muito mérito na abordagem, contudo, o ferro acabou por resultar algo aliviado. Nos ferros curtos teve momentos de grande destaque conseguindo entender na perfeição o toiro que lhe tocou em sorte. Destaque para o terceiro ferro, onde soube medir as distâncias, carregar a sorte no momento certo e dando todas as vantagens ao toiro deixou um grande ferro. No seguinte, novamente com um tremendo valor, soube aguentar em curta distância e entrar pelos terrenos do toiro com muita verdade. Mais uma lide que atesta o excelente momento que o cavaleiro atravessa, destacando-se também o grande momento de forma em que se encontra o Roncalito.

​Para a pega do terceiro foi o forcado Francisco Cabaço, dos Amadores de Santarém. Na primeira tentativa esteve bem a citar e a carregar a sorte, mas esteve mal no momento da reunião. Na segunda tentativa esteve melhor nesse capítulo, mas com o toiro a entrar com tudo pelo grupo dentro, não se conseguiu consumar a pega. Na terceira tentativa o toiro começou a adiantar o piton direito no momento da reunião, com o forcado a não conseguir ficar na cara do astado. Consumou-se a pega à quarta tentativa, já com as ajudas muito carregadas, novamente com o toiro a derrotar com poder.

​Volta autorizada apenas para o cavaleiro.

​Para abrir a segunda parte saiu o Camarito, com o número 927, pesando 530kgs. Mais um toiro baixo, bem feito, rematado e bem posto de cara. Saiu distraído, desligando-se com facilidade da montada. Esperava muito no momento do ferro, vindo sempre com a cara alta, sem nunca humilhar. Luís Rouxinol teve dificuldade em entender-se com o seu oponente nos compridos. Nos curtos, montando o Douro, conseguiu deixar dois bons ferros, os primeiros da lide. Destaque negativo para as várias intervenções dos bandarilheiros, com o toiro a acentuar claramente os seus defeitos após os excessivos capotazos que recebeu, dificultando o trabalho do ginete.

​Para a cara dos toiros difíceis e exigentes do grupo de Montemor surge quase sempre Francisco Borges. Forcado de eleição e de valor tremendo que uma vez mais voltou a estar enorme frente a um Palha muito complicado. O toiro sacou todo o seu génio no momento da pega, arrancando de largo, com poder e colocando a cara com maldade no momento da reunião. Na segunda tentativa o forcado foi colhido de forma violentíssima, ficando inferiorizado fisicamente. Após alguns momentos de indecisão, em que vários elementos tentarem demover o forcado de voltar à cara do toiro, este recusou firmemente e acabou por lá voltar, num momento em que o valor, a raça e a emoção se sobrepuseram claramente à razão- tendo em conta o estado físico do forcado deveria ter sido dobrado por um companheiro. Pegou-se o toiro à terceira tentativa, com as ajudas carregadas e com o toiro a voltar derrotar com violência e poder. Destaque também para Francisco Godinho, que rabejou de forma espectacular.

​Volta autorizada para ambos, com Luís Rouxinol a conceder todo o destaque à prestação do forcado, que recebeu uma enorme ovação do público.

​Em quinto lugar saiu o primeiro sobrero, de nome Peluquero, com o número 999 e com 520kgs de peso. Toiro mais alto, rematado, feio de hechuras e com menos seriedade que os seus irmãos. Saiu reservado e distraído, a desligar-se com facilidade, marcando claramente querença em tábuas. Frente a este oponente João Telles andou esforçado. Nos curtos teve o mérito de entrar nos terrenos do toiro para deixar a ferragem a sesgo. Passagem muito discreta de João Telles por Santarém fruto do lote com muito poucas opções que lhe tocou em sorte.

​Para fechar a tarde pelos Amadores de Santarém foi o forcado Francisco Graciosa. Na primeira tentativa esteve bem a citar, mas esteve menos bem no momento da reunião. Na segunda tentativa melhorou nesse aspeto e aguentou com muito valor os derrotes do toiro com o grupo a ajudar bem mais uma vez. Boa pega!

​Volta autorizada apenas para o forcado.

​Para fechar a tarde saiu o toiro Fusilito, com o nº48, pesando 540kgs. Toiro alto, bragado corrido e calcetero, feio de hechuras e de cara aberta. Saiu distraído, reservado e sem nunca se empregar verdadeiramente. Francisco Palha voltou a ir à porta gaiola para receber o toiro, novamente no centro da arena, com ferro a não resultar ajustado. Nos curtos foi de menos a mais. Após um início de lide que não resultou, soube ler o toiro, e muito bem, foi trocar de montada após o segundo ferro. Voltou a sair com o Roncalito para encerrar a actuação com dois ferros de nota elevada, onde foi de frente e com verdade, a entrar nos terrenos do toiro.

​Para encerrar a tarde os Amadores de Montemor decidiram pegar o toiro de cernelha, com o Cabo António Pena Monteiro e com Francisco Godinho encarregues de realizar a sorte. Uma vez mais tem de se realçar negativamente o jogo de cabrestos escolhido para fazer as recolhas das corridas em Santarém. Nos três espectáculos ficou claro que são incapazes de encabrestar e recolher os toiros, obrigando a intervenções frequentes dos bandarilheiros e prolongando desnecessariamente os espectáculos. Uma vez mais isso foi notório nesta cernelha. Com o toiro a procurar os cabrestos e com estes constantemente a fugir, espalhados pela arena, foi impossível aos forcados encontrar uma forma de entrarem e consumarem a pega. Foi necessária a intervenção dos bandarilheiros e, após a colhida de Jorge Alegrias, os forcados conseguiram uma pega de recurso. Bem o cabo a não dar a pega como consumada, ao contrário do Diretor de Corrida. Conseguiram finalmente consumar a pega, com o cernelheiro a entrar muito bem e com o rabejador a ter mais dificuldades.

​Volta à arena autorizada para os forcados e para o cavaleiro.

​A corrida foi dirigida por Manuel Gama, assessorado por José Luís Cruz, com a presença do cornetim José Henriques. Tal como no passado dia 5 de junho, foi notório o critério pouco coerente, com momentos em que se concedeu música e voltas à arena sem qualquer critério de exigência. Na lide do 6º toiro concedeu música quando o cavaleiro já se preparava para sair e considerou como consumada a pega de cernelha realizada como recurso após a colhida do bandarilheiro. Tiveram de ser os artistas a demonstrar respeito pela exigência que se espera numa praça de toiros como Santarém.

Diogo Felício 
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