Crónica de Santarém: "Bem-vindo de volta Maestro!"

NATURALES
Publicado por -

 


A Praça de Toiros Celestino Graça recebeu no passado dia 5 de junho a Corrida dos Agricultores.

O cartel apresentado tinha como motivo de maior destaque o regresso do Maestro António Ribeiro Telles às arenas, depois da grave colhida sofrida em Reguengos de Monsaraz na temporada passada. O maestro da Torrinha compartia cartel com Rui Fernandes e João Moura Jr. Esperava-se também um importante desafio para o Grupo de Forcados Amadores de Santarém, que se encerrava com seis toiros da ganadaria Murteira Grave na sua praça.

Dos campos da Galeana vieram 6 exemplares desiguais a nível de hechuras, mas sérios e muito bem armados. A nível de comportamento houve toiros interessantes, destacando-se sobretudo os dois últimos.

Abriu praça António Telles, numa actuação que foi de menos a mais. Nos compridos destacou-se o segundo, de frente e a dar vantagens ao toiro. Na cravagem curta andou bem na brega, mas com os primeiros ferros a resultarem pouco ajustados. Conseguiu corrigir esse aspecto, finalizando a actuação com duas sortes cingidas, de frente e a entrar pelos terrenos do toiro. Da “porta dos sustos” saiu o toiro Pavo Real, com o número 43, pesando 525kgs. Toiro fino, bem feito, muito bem armado e sério por diante. Saiu com mobilidade, a perseguir a montada com um tranco suave. Destaca-se a arrancada para o segundo ferro comprido. Nos curtos faltou-lhe emoção no momento do ferro, respondendo melhor quando o cavaleiro lhe pisou os terrenos.

Para a pega do primeiro toiro foi o cabo dos Amadores de Santarém, João Grave. Esteve muito bem a citar, a deixar-se ver e com o grupo a dar muitas vantagens. Carregou cedo a sorte, conseguindo aguentar com valor a arrancada do toiro. Esteve muito bem a receber e a aguentar a longa viagem, uma vez que o toiro fugiu ao grupo após a reunião. Grande pega!

Volta autorizada para ambos, com um bonito pormenor de António Telles, incentivando João Grave a voltar aos médios para recolher uma merecida ovação do público.

Rui Fernandes teve uma excelente actuação no segundo da tarde. Recebeu o toiro com uma porta gaiola, esperando no centro da arena e arrancando de frente quando o toiro saiu, resultando num grande momento. Voltou a estar em muito bom nível no segundo comprido, a dar vantagens ao toiro, que veio de praça a praça. O cavaleiro teve o mérito de saber ler o toiro que tinha pela frente da melhor maneira, dando-lhe distâncias e conseguindo aproveitar a larga investida do Grave. Destaque maior para os dois primeiros curtos, a esperar a investida ao máximo, fazendo a batida ao piton contrário no momento certo e conseguindo reuniões ajustadas. O Alhambra, assim se chamava o colorado que saiu em segundo lugar, com o número 64, pesando 580kgs, apresentou-se como um toiro imponente, rematadíssimo de carnes, tocado do piton esquerdo e tremendamente sério. Foi um toiro exigente, que pediu distâncias, vindo de largo e com emoção durante toda a lide, mas que se desligava com facilidade após o ferro.

Para a cara do toiro foi Francisco Graciosa. Com o toiro a vir pronto e de muito longe, não consegui fechar-se da melhor forma, acabando por beneficiar de um dos derrotes, com o toiro a levantar a cara e a permitir que se emendasse, com o grupo a ajudar de forma eficaz.

Volta à arena autorizada para ambos.

Em terceiro lugar saiu o Vencedor, ferrado com o número 23, pesando 570kgs. Toiro alto, com osso, com muita cara também, mas feio de hechuras. Saiu distraído e com menos mobilidade, a procurar tábuas. Demonstrou com o decorrer da lide ter problemas de visão, que dificultaram a lide e a pega. João Moura Jr primou por ir de frente, de praça a praça, a conseguir tirar partido das investidas do astado, destacando-se dois dos curtos.

Para a cara do terceiro foi Francisco Paulos. Esteve muito valoroso frente ao duro Grave, que colocava a cara de forma brusca, parando e derrotando de forma violenta quando sentia o forcado na cara. Desta vez grupo não ajudou da melhor forma, evidenciando-se sobretudo a quarta e quinta tentativas, em que os terceiros ajudas estavam muito afastados do resto do grupo, não conseguindo ajudar em tempo útil. Na sexta tentativa o grupo consegui melhorar nesse aspeto e consumou-se a pega.

Volta autorizada para ambos, com recusa da parte do forcado, e muito bem, em sair à arena. Bem também o cavaleiro, que agradeceu nos médios e acabou também por não dar volta.

A abrir a segunda parte saiu o Esmeralda, com o número 38 e com 545kgs. Toiro mais baixo, musculado, com pouco “cuello” e muito bem armado. Saiu a esperar muito no momento do ferro. Foi melhorando com o decorrer da lide, teve fijeza e mobilidade, mas faltou-lhe raça. António Telles deu importância aos compridos, desenhou bem as sortes, mas os ferros acabaram por ficar algo traseiros. Nos curtos andou em plano regular, com destaque para o terceiro curto, que resultou de nota elevada.

José Fialho foi o forcado escolhido para pegar o quarto da tarde. Esteve bem a citar, com muito valor a carregar a sorte, a conseguir fechar-se de forma correta e com o grupo a ajudar bem consumou-se a pega.

Em quinto lugar saiu o toiro Camarero, com 525kgs e ferrado com o número 35. Toiro baixo, muito bem armado, feio de hechuras e menos sério do que os seus irmãos. Saiu com mobilidade, a perseguir a montada com alegria. Toiro exigente, com transmissão no momento do ferro, a vir pronto e a carregar no remate da sorte. Rui Fernandes voltou a colocar-se no centro da arena para receber o seu segundo com outra porta gaiola, mas que acabou por resultar menos espectacular do que no seu primeiro. Destaque para o segundo comprido, bonito desenho da sorte, com temple a receber a investida do toiro. Desta vez o cavaleiro não conseguiu entender da melhor forma o astado que tinha por diante, não tirando o melhor partido do toiro. Sofreu, no segundo curto, um forte toque na montada. Posteriormente tentou outra abordagem, citando de forma pouco ortodoxa, com parte dos aficionados a mostrarem o seu desagrado.

Para a cara do quinto foi Salvador Ribeiro de Almeida. Esteve bem a citar, a deixar-se ver. Mais uma arrancada de praça a praça do toiro, com o forcado a fechar-se bem e com o grupo coeso a ajudar.

Volta à arena autorizada apenas para o forcado. Decisão que mostra o critério pouco exigente e incoerente da Direção de Corrida. Concedeu música após o primeiro curto em inúmeras actuações, sem que tal se justificasse, incluindo nesta actuação de Rui Fernandes. Mesmo após o forte toque na montada, deixou prosseguir a banda, sendo que no fim não autorizou a volta para o cavaleiro.

Para fechar a tarde saiu o Granada, com o número 42, pesando 555kgs. Toiro baixo, mais harmonioso de hechuras do que alguns dos seus irmãos, bizco do piton esquerdo, com muita cara também. Saiu com mobilidade, com um tranco suave e com fijeza. Vinha de largo, mas a trote, com dificuldade em romper. Investiu com muita qualidade nos capotes, sobretudo pelo piton direito. João Moura Jr destacou-se sobretudo nos curtos. No primeiro foi de verdade, de frente, cravando um bom ferro. Depois optou por dar vantagens ao toiro, deixando-o vir de largo, a aguentar de forma muito valorosa a investida do toiro, deixando bons ferros. Foi trocar de montada, sacando o Hostil. Deixou duas Mourinas, das quais há que destacar a segunda, muito ajustada e templada no momento do ferro, seguido de um bonito remate. Boa lide do cavaleiro de Monforte.

Fechando a tarde pelos amadores de Santarém, Francisco Cabaço esteve bem a citar, carregando cedo a sorte, com o toiro a vir de largo. Consegui fechar-se bem e consumou a pega, com uma muito boa primeira ajuda.

Foi concedida volta para ambos.

Dirigiu a corrida Manuel Gama, de forma incoerente e pouco exigente, assessorado por José Luis Cruz e com a presença do cornetim José Henriques.


Diogo Felício
Tags: