Decorreu no passado dia 1 de maio a segunda corrida da II Feira do Toiro, na centenária Praça de Toiros Palha Blanco.
No início do espectáculo prestou-se uma bonita homenagem a Fernando de Castro Van Zeller Pereira Palha, ganadero e aficionado de excepção, que muito contribuiu para elevar a festa dos toiros em Portugal.
O cartel apresentava cavaleiros de estilos distintos, com a presença de Manuel Telles Bastos, João Moura Jr e João Telles Jr. Pelos homens das jaquetas de ramagens marcaram presença o grupo da casa, os Amadores de Vila Franca, e os Amadores das Caldas da Rainha.
Do ponto de vista ganadero era esperado um curro da ganadaria Vinhas, os “santacoloma” portugueses. A corrida saiu bem apresentada na sua globalidade, mas algo longe do que seria de esperar deste encaste emblemático. Destaque para o exemplar com o número 31 que se podia considerar como um protótipo perfeito de Santa Coloma. A nível de comportamento, o destaque tem de ir, naturalmente, para o bravo que saiu em quinto lugar, ferrado com o número 15, que teve honras de volta à arena e regressou à Herdade do Zambujal para ser semental.
Abriu praça o cavaleiro Manuel Telles Bastos, que, com mérito, foi buscar o toiro à porta dos curros. Tentou dar importância aos compridos, mas as sortes resultaram aliviadas e com a colocação bastante irregular dos ferros. Nos curtos a toada manteve-se, faltando claramente emoção. O primeiro Vinhas, com o número 7 e com 570kgs, apresentou-se como um toiro baixo, com pouca cara e rematadíssimo de carnes, saiu a querer perseguir a montada com um tranco suave, contudo, sem se empregar verdadeiramente. Pedia uma lide de maior ligação, mas tal acabou por não se verificar.
Para a cara do primeiro foi o Cabo dos Amadores de Vila Franca, Vasco Pereira. Esteve bem a citar, a mostrar-se ao toiro, a carregar e a receber a investida, e com o grupo coeso a ajudar consumou ao primeiro intento.
Foi autorizada volta à arena para ambos.
O segundo toiro da tarde, ferrado com o número 1, com 555kgs, foi um toiro feio de hechuras, mais alto do que o primeiro, que teve uma saída alegre mas que cedo foi procurando terrenos de tábuas, esperando uma barbaridade no momento dos ferros. João Moura Jr esteve muito bem a receber o toiro nos compridos com maior destaque para a brega do que para o momento da cravagem dos ferros. No segundo curto, com o toiro completamente encerrado em tábuas, sofreu um violento toque na montada. Nos restantes ferros corrigiu a colocação do toiro, sem conseguir momentos de maior relevo.
Para a cara deste toiro foi o forcado Lourenço Palha, pelos Amadores das Caldas da Rainha. Esteve bem a citar e a carregar, mas não recuou da melhor forma e com o toiro a adiantar o piton esquerdo no momento da reunião, não se consumou a pega. Na segunda tentativa esteve melhor nesse capítulo e com o grupo a ajudar bem concluiu-se a pega.
Volta autorizada para ambos, mas João Moura Jr, e muito bem, a recusar-se a dar a volta.
Para fechar a primeira parte saiu o toiro número 5, com 520kgs, um exemplar mais bonito de hechuras e melhor armado que os seus irmãos. Foi manso e desinteressado, a investir aos arreões, denotando por vezes falta de força, perdendo as mãos em várias ocasiões. João Telles Jr andou esforçado, mas não teve matéria prima para conseguir alcançar uma boa lide.
Para a cara do terceiro foi o forcado João Matos, pelo grupo da casa. Esteve bem a citar e com muito valor a aguentar a investida brusca e violenta do toiro, com o grupo novamente muito bem a ajudar. Boa pega!
Volta à arena apenas para o forcado.
Para abrir a segunda parte veio o bonito número 31. Um toiro baixo, com 530kgs, bem feito, de pelagem cárdena, bragado corrido, lucero e bem armado de pitons, seria digno de ser recebido com palmas pelos aficionados. Contudo, toiro saiu inferiorizado à praça, com uma ferida evidente no ventre e sobretudo pela forma como colocava a cabeça quando se movia. Foi exigida a sua recolha por parte de alguns aficionados, mas tal não se verificou. Ao longo da lide foi disfarçando esse “estranho”. Foi um toiro exigente e com teclas, mas Telles Bastos voltou a não ter uma actuação que pudesse ficar para a história, ficando alguns furos abaixo do seu oponente.
Para a pega do quarto foi o forcado Duarte Palha, pelos Amadores das Caldas da Rainha. Na primeira tentativa o toiro teve uma arrancada vibrante, mas no momento da reunião houve um desencontro entre toiro e forcado. Na segunda tentativa esteve melhor a citar e aguentou com muito valor a dura investida do toiro, a colocar a cara com violência e a derrotar durante a viagem. Bem o grupo a ajudar, com destaque para o primeiro-ajuda. Boa pega!
Volta autorizada para ambos, com o primeiro-ajuda do grupo a ser chamado aos médios.
Diz-se na gíria taurina que “No hay quinto malo” e desta vez não podia ser mais correto. Saiu à praça o número 15, com 605kgs, outro cárdeno, bragado corrido, lucero, com pouca cara e rematadíssimo. Saiu com um tranco suave, a colocar muito bem a cara nos capotes. Foi um toiro com fijeza, sério, pronto nas investidas e que foi crescendo durante a lide, terminando com a boca cerrada quando foi recolhido. João Moura Jr conseguiu aproveitar da melhor forma o seu oponente, conseguindo cravar ferros curtos de grande importância, de poder a poder, com o toiro a transmitir. O maior destaque vai para o segundo curto, a dar vantagens ao toiro e este a vir de largo, resultando numa reunião ajustadíssima. Com esta actuação Moura Jr foi claramente o triunfador da tarde do ponto de vista equestre.
Para a pega deste exemplar foi o forcado Guilherme Dotti, pelos Amadores de Vila Franca. Arrancada vibrante do toiro, com o forcado a recuar bem e a conseguir fechar-se à córnea e aguentar os derrotes, com destaque para a enorme primeira ajuda. Mais uma grande pega! De realçar, uma vez mais, a prestação de Carlos Silva, a rabejar de forma sublime, no centro da arena, o bravo Vinhas.
Ressalvar também a reacção do público da Palha Blanco, uma vez mais, valorizando devidamente o Toiro. Aquando da recolha, já com os cabrestos na arena, exigiu ao Diretor de Corrida que mandasse fechar a porta dos currais para que se desse a volta à arena ao toiro, fortemente aplaudida, tornada possível pelo bom trabalho realizado pelos campinos.
Volta à arena concedida para o cavaleiro, forcado da cara, primeiro-ajuda e também para o maioral da ganadaria, Francisco Honrado.
Para encerrar a tarde saiu o número 12, com 580kgs, outro toiro baixo, rematadíssimo e bem posto de cara. Teve uma saída alegre a galopar atrás da montada de João Telles Jr, que o recebeu de forma extraordinária. Com o decorrer da lide o toiro foi perdendo gás, não conseguindo o cavaleiro manter o nível da actuação. Sacou, como é seu timbre, o cavalo Ilusionista, cravando dois ferros que trouxeram entusiasmo à bancada, mas que não podem ser apreciados pelos verdadeiros aficionados do toureio a cavalo.
Para fechar a tarde pelos forcados das Caldas da Rainha foi o Cabo, Duarte Manoel. Na primeira tentativa esteve bem a citar, mas algo precipitado a carregar a sorte e a não conseguir recuar da melhor forma. Na segunda tentativa conseguiu corrigir, consumando a pega com mais uma boa ajuda do grupo.
Volta à arena autorizada para ambos.
A corrida foi dirigida por Fábio Costa, assessorado por Jorge Moreira da Silva e com a presença do cornetim José Henriques. Destaque negativo para a incoerência de critérios demonstrada, concedendo música quando tal não se justificava e premiando com volta à arena prestações que não o justificaram.
Diogo Felício