Crónica de São Manços: "Praia da Messejana em tour por São Manços"

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Num fim de semana preenchido de eventos taurinos, ditados pela tradição pascal que se une com a Tauromaquia como sua parte integrante, teve São Manços como epílogo uma jornada de reflexão… Pena que, garantidamente, não de forma geral.

Em três eventos a que assisti, o piso foi um problema limitador e realmente preponderante a situações que retiram emoção e valor ao espetáculo… e sem isso, aguentar 10h de corridas com esse fator essencial em falta, para além de soporífero, torna-se num motivo de afastamento.

Em São Manços, terra que prima pelo Toiro, e que merece ser uma localidade parabenizada por essa constante aposta, quer pela diversidade quer pelo desejo da imponência, organizou-se com mérito uma corrida de homenagem a um Homem com importância e carinho na vila, Joaquim Azeda. Com mérito porque esgotou e logrou uma tarde bonita para os forcados… mas num concurso de Ganadarias, em São Manços, não podemos assistir a um areal qual praia da Messejana em Tour. Mas Serpa, onde estreou digressão, não pedia réplica.

Os Toiros, a concurso, sentiram todos, de maneira mais ou menos acentuada, um piso pesado, fundo, perturbante… E a casta, ausente, intensificou a pouca emoção.

Luís Rouxinol, que abriu praça, esteve distante do que sabe, pode e devia. O de Branco Núncio, negro e em tipo Urquijo, com 540kg, foi um toiro sem personalidade, fácil de antever e que seguia sem problemas caminhos que o toureiro quisesse explorar. Teve nobreza e podia andar com a cadência imposta pelo piso, por isso precisava do Rouxinol que sabe potenciar estes toiros e fazê-los parecer melhores do que são. Com o Douro a envolvência em alguns momentos de brega desaparecia no arranque para a jurisdição, praticamente todas as reuniões resultaram sem chama e sem uns centímetros de perigo pedidos. O par foi o melhor. O seu segundo, manso perdido de Brito Paes, com 500kg e com cara, foi luta inglória de uma batalha ganha pelo esforço do cavaleiro, que no final chegou ao público com o par mais uma vez.

Marcos Bastinhas, acarinhado pela vila, teve tarefa difícil com o toiro de Murteira Grave, um negro bragado gargantillo com 530kg, com poucas hechuras para investir e de feio tipo, imponente apenas pelo remate, foi um manso com poder e que não teve interesse pelo cavalo, nem pelo toureiro. Pela sua condição, o piso ainda se tornou maior inimigo. Pedia ligação a todo e constante momento, pois desligava rápido e remetia-se à sua defesa. Marcos abreviou e não se viram momentos de destaque. O que fez quinto, de ferro Passanha Sobral, com 520kg, fino e de cara harmoniosa e bem posta, não estava exagerado e a sua pelagem burraca deu-lhe brilho e trapio. Teve alegria pela frente e não pode tanto quanto podia, mesmo atacado pelo piso, andou com codícia e aceitava com vontade as intenções do toureiro. Repetiu com consistência e Marcos andou com mais gosto mas não transcendente nos ferros, que contudo agradaram ao conclave. No final, mais sóbrio com o toiro, Culminou com um par e a ajoelhar-se. Antes, na primeira, ouviu-se uma buleria por Joaquim Bastinhas, foi bonito. Tal como o momento em que Marcos deixa o seu companheiro sair e recorda-nos com nostalgia um toureiro do povo e da emoção, sinónimo de festa…  Estamos a lidar toiros sem emoção saudoso Bastinhas, estamos a privá-los da casta, estamos a assistir a toureiros com as lides gravadas em cassete, estamos a viver cada vez mais de interesses e menos valores.

Miguel Moura andou em plano semelhante com dois toiros distintos mas parecidos nos modos. Tanto o de Vale Sorraia (em tipo pedroso, tronco mediano e cara veleta, de bonito pelo cardeno) como o de Passanha (muito em murube, tronco cilíndrico e cara mais baixel, rematado de carnes e 560kg) não revelaram raça ou transmissão, mas sim nobreza e bondade, e a atual toureabilidade. O da Pina, de Passanha portanto, mais codicioso, com mais mobilidade e recorrido, deslocava-se com facilidade de qualquer terreno e perseguia com som, mas com notas mais diminuídas pelos finais. Com o de Sorraia houve mais solvência para lidar e a gaiola com que abriu parecia poder alavancar a atuação, mas terminou sem romper. Com o de Passanha a vontade dividiu-se com algumas precipitações e terminou novamente em plano discreto no que diz respeito a conteúdo.

 

Em tarde de homenagem a Joaquim Azeda, para além do respeito, a importância e responsabilidade eram acrescidas por ser uma corrida de seis toiros para o Grupo da Terra, São Manços.

Apenas o de Grave se revelou mais imprudente nos modos e o de Sobral dificultou a reunião inicial do forcado da cara, pois exceptuando essas pegas, a tarde foi segura e sem erros por parte do Grupo, que teve festa digna e sem lesões. O cabo João Fortunato deu o exemplo com firmeza frente ao Núncio; João Carreta só consumou à terceira, já com ajudas carregadas o mais brusco de Grave; Pedro Fonseca resultou poderoso para a pouca entrega do Sorraia e pegou à primeira; Pedro Trindade pegou com segurança o quarto da ordem; Pedro Oliveira teve uma reunião difícil no primeiro encontro com o de Sobral, que custava a sair e ocasionou uma pega rija ao segundo intento; e fechou praça, seguro e com bom desempenho do Grupo, Pedro Pontes. Vários forcados retirados se destacaram e aliaram à homenagem, dignificando a imagem do Grupo e escrevendo uma página para a história dos mesmos.

Bem abrilhantada pela Banda de Machede, foi dirigida com pouco critério por Agostinho Borges, com música religiosamente dada a cada primeiro ferro curto, tantas vezes injustificada e sem motivo.

Os prémios do concurso, elegidos pelos ganaderos em prova, recaíram ambos, bravura e apresentação para o Toiro de Passanha, lidado em sexto lugar por Miguel Moura. A Ganadaria Murteira Grave não levou qualquer representação à arena, mesmo após a organização solicitar a presença dos representantes a concurso mais do que uma vez.

 

Pedro Guerreiro

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