Campo Pequeno: “Nem unhas, nem guitarras. Valha-nos o Cornetim”
Cinquenta anos a dar ‘aviso’ aos
artistas na Praça de Toiros do Campo Pequeno, é muito ano e muito aviso. O
senhor José Henriques, figura conhecida da nossa Festa, e um exemplo entre os
seus pares, foi ontem à noite homenageado pelas cinco décadas a tocar cornetim em
Lisboa. Pelo que já muita praça cheia e muita praça vazia deve ele ter visto…
Ontem foi mais uma. O Campo
Pequeno voltou a não registar lotação simpática. E desta vez não havia toureio
a pé, uma informação ao cuidado dos que vaticinam que a malta não os quer ver “apeados”.
Digo eu, que a culpa é sim da falta de afición (leia-se afición e não simpatizantes
da Festa), da falta de motivação já que muitos dos artistas actuais, vistos uma
vez, vistos para sempre, e da falta de dinheiro pois os preços praticados actualmente
não estão para permitir ida a muitas “touradas”.
Mas para quem acompanha com
atenção o que se passa na arena, ver três jovens como os que ontem compunham o
cartel de Lisboa, criava alguma expectativa e ânsia de que se arrimassem em
competição séria. Para os que se movimentam na festa atrás do convívio, da
cervejinha e da fotografia, isso não. Melhor guardarem-se para a semana que vem
figura grande ao Campo Pequeno.
Infelizmente, eu agora até
compreendo quem não foi, já que a noite escasseou de ambiente, de interesse e
de emoção. Não houve guitarras afinadas, nem muitas unhas que as soubessem
afinar…pelo que nos valeu ainda assim, os “toques” do homenageado cornetim, e
claro, a ‘banda sonora’ pela sempre correcta Banda do Samouco.
O curro da ganadaria Vinhas, com
mais peso que cara, minguou em mobilidade e transmissão não se empregando nas
lides, sendo no entanto mais “brutos” nas pegas que nos cavalos.
Duarte Pinto logrou duas
actuações similares e equilibradas de conteúdo. Em ambas teve a sensibilidade de
mexer os toiros. Resultou mais discreta a primeira, até pela falta de sal do
toiro, e com mais transmissão a segunda na qual quase sempre se permitiu a partir
de largo ao toiro.
Francisco Palha foi autor de uma
boa e emotiva sorte gaiola ao seu primeiro. E por aí me fico. Entre passagens
em falso, ferros falhados e toques na montada (valeu-nos a pouca força dos
oponentes), a sua actuação não teve a categoria de outras a que o jovem nos tem
habituado. Já frente ao quinto toiro, e com o veterano Roncalito, encurtou
distâncias para deixar com mais impacto a ferragem da ordem. Destaco o terceiro
curto, de alto a baixo.
João Salgueiro da Costa teve a preocupação
de na maioria das vezes incidir num toureio frontal e entrar pela cara do que
foi o seu primeiro toiro, o que para quem gosta de um toureio sem enganar a
investida do animal, faz toda a diferença. Não descurou os remates, com ladeios
e recortes ajustados, pese embora um oponente a passo. Já no último, essa
procura em ir à cara do toiro foi mais intencional do que concretizada, com a
rês a faltar nas reuniões e a validar passagens em falso e até alguns ferros
que, por alguma razão, não ficavam no morrilho.
Nas pegas as teclas para se tocar
foram outras, e aqui não eram necessárias unhas, mas sim braços. Pelos Amadores
de Alcochete, também eles homenageados nesta noite pelos seus 50 anos de
actividade, pegou Henrique Teixeira Duarte à terceira tentativa, depois de dois
intentos em que reunia de lado; João Belmonte à segunda tentativa sem problemas
e após uma tentativa em que caiu na cara do toiro; e Manuel Pinto à primeira
com uma enorme pega à barbela a aguentar os derrotes do toiro. Pelo Aposento da
Moita, deu o mote o cabo Leonardo Mathias, que brindou a sua avó, a Sra. Isabel
Rilvas (a primeira mulher a saltar de paraquedas na Península Ibérica) com uma
grande pega à primeira, fechado à córnea; Martim Cosme Lopes reuniu com decisão
e concretizou também à primeira; e Tiago Valério consumou à segunda a aguentar
a violência do toiro em ambos os intentos.
Dirigiu a corrida de forma
acertada o delegado técnico Tiago Tavares, assessorado pelo veterinário Dr.
Jorge Moreira da Silva.